terça-feira, junho 22, 2004

Linóleo

Na verdade...sempre me foi difícil tomar decisões. A mais pura das verdades é que sempre me deixei deambular, deixando que outros decidissem por mim... Quer dizer, o acto de escolher entre dois caminhos para mim não me dizia nada! Pode parecer que sou maluco, um pouco demente, que sou um alienado ou tento passar uma imagem que não corresponde à realidade, mas não creio que o seja.
...Ou talvez seja! Os únicos bens que o meu modo de viver desligado e despreocupado me deixam chamar de meus é o colchão, a que chamo cama, a guitarra de duas cordas, onde toco melodias nas minhas horas mais amargas, esse pedaço de linóleo, dois metros por três, que à noite estendo no chão para dormir. Sim, também tenho um pedaço de chão e ainda um cão chamado Cão, que mija no meu pedaço de chão, e então?!
Bem, então tenho umas velhas calças de ganga com bolsos cheios de lenços de papel usados e bolinhas de linhas, um mundo onde tudo é importante para mim e parece correr pelas minhas pernas abaixo, direitinho ao meu melhor amigo: Linóleo!
Ai Linóleo, que nas noites frias de Inverno me serves de lençol e me amparas a cabeça e me fazes acreditar que durmo numa cama a sério!

Sim amigo! Eu sou aquele que vês à noite na praia a acariciar a areia, garrafa de tinto na mão e um bolso cheio de trocos. Sou aquele com quem te cruzas no metro, violino debaixo do queixo, a cantarolar disparates, a tocar com um sorriso amarelo nos lábios.
Sou eu que vou lá atrás, no último banco do autocarro, sou eu na plataforma do metro e do comboio, sou eu que não te saio da cabeça. Sou eu...

sexta-feira, junho 04, 2004

Natureza e Eu

Caminho pela rua sentindo um cheiro primaveril no ar. Por cada passo que dou sinto uma satisfação enorme por estar onde estou. Apetece-me voltar atrás e passar no mesmo sítio novamente, como desejando um deja-vu. Por entre as folhas verdes das árvores espreita a lua cheia, ela ilumina o meu destino por mais que pense que é traiçoeira. Na calçada sombria a cor branca das pedras confunde-se com o amarelo das flores. Uma perfeita sintonia de cor e cheiro invade-me o coração.

Não consigo pensar em mais nada, sinto uma satisfação enorme por estar a caminhar. Apetece-me correr pela rua fora, apetece-me trepar a tudo o que está à volta, apetece-me libertar das opressões, apetece-me ser o que realmente sou… apetece-me fazer parte da natureza.

Uma leveza espiritual tomou conta de mim, como se tivesse sido drogado, tudo à volta não interessa, sou apenas eu e ela. Uma cumplicidade interessante, eu gosto, ela também gosta e cada vez está mais bonita… Sinto que se não fosse parte dela, ela seria parte de mim.

Sinto… E contente caminho.