quarta-feira, outubro 22, 2008

Saudades do Inverno

Não! Apre, que já é demais!
Já se vêem os cordões nas vitrines,
Anúncios em jornais, magazines,
Revistas e coisas mais!
Que raiva da febre consumista:
Do Dezembro ainda distante,
Da febre em todos dominante,
Da sociedade materialista,
Deste mundo actual!

Do corropio da multidão,
Das luzinhas de Natal
Enfeitando o quarteirão!


Mas Outubro é enfadonho...
Manhãs frias cortantes,
Tardes quentes sufocantes,
Sob um sol tristonho.
Que maçador que é:
Não ter praia para andar,
Não ter neve para pisar...
Percorrendo a rua a pé,
Nesta estação desigual.

Rua essa, sem multidão,
Onde se montam luzes de Natal
No quase deserto quarteirão


Ah que saudades tenho eu
Do frio ao entardecer...
Cruzando a tarde a correr,
Preso num pensamento meu.
Do corropio das pessoas,
Alegrando a calçada...
Da constante brisa gelada.
De muitas coisas boas,
No Inverno especial!

Ah saudades...

(Do corropio da multidão,
Das luzinhas de Natal
Enfeitando o quarteirão!)

terça-feira, outubro 21, 2008

Estrada de cinza (ou Alien)

Sentes um vazio de tudo na alma, se é que ainda tens alma… Tentas, por breves momentos seguir por essa estrada na tentativa desesperada de encontrar algo familiar… Sentes-te um estranho ao teu próprio corpo… Percorres as ruas desta cidade que não é tua, tens medo de continuar, principalmente por não saberes como vai reagir a mente, que já não é tua, quando se aperceber que, de facto, não existe nada familiar nesta cidade… Buscas no bolso interior do casaco uma qualquer agenda velha apenas para verificar que está cheia de nenhum compromisso… Tu és Ausência… 

Sentes uma necessidade absurda de te sentir vivo, como se não bastassem as dores que afligem cada um dos teus miseráveis músculos… Encontras-te por fim na Porta do Desespero… Tal é o desespero, que apenas a semelhança de uma qualquer pedra da calçada seria o suficiente para te acalmar o espírito! Eu sei e Tu sabes… Tu és Raiva… 

Por breves momentos julgas reconhecer um reflexo amarelado no chão de pedra… Como aqueles dos centros históricos de cidades muito antigas que nos levam a pensar que são os mesmos candeeiros de sempre a tentar iluminar as mesmas pedras… Eternas! Mas não é mais que um candeeiro velho em uma qualquer rua desta cidade que não reconheces… Tu és Necessidade… 

Sentas-te num degrau de pedra com vista para um pequeno vale coberto de casas… Estás mais elevado que esse vale que se estende a teus pés fervilhando de energia e movimento por entre a “luz” do crepúsculo… Tens, durante breves momentos, a sensação de dominar o vale! Uma sensação que desperta mais uma vez aquele aperto no estômago, aquele grito da alma… Tu és Desilusão… 

Atordoado pela descarga hormonal o teu corpo sucumbe nos degraus… O teu corpo repousa, no entanto, a tua mente voa, tentando reconstituir a viagem que te trouxe aqui… Vês claramente, o pôr-do-sol a reflectir-se nos campos verdes com animais e vinhas, também pequenas zonas de cultivo onde foste capaz de distinguir milho, arroz e centeio… Talvez também trigo… A tua lembrança traz também um belo rosto… Eras capaz de jurar estar mesmo agora a cheirar aquele mesmo perfume suave… A sentir aquelas pequenas maças de rosto na palma da tua mão… Beijar aqueles lábios de seda… Sabes que não o estás a fazer, e de certa forma sabes que não o voltarás a fazer… Há algo dentro de Ti que o afirma muito claramente! Sentes a vibração do comboio que desliza suave… Tu és Esquecimento…

O teu sangue palpita-te nas veias, todo Tu pulsação… Sentes uma ameaça ininteligível… Uma sensação de Terror absoluto… Uma incapacidade irracional de continuar… Estás gelado, todo Tu iceberg… Sentes-te a alma a esvair-se do teu corpo… Tu és Medo…

Despertas! Uma enorme vontade de continuar, invade-te o espírito sem saberes muito bem porquê… Talvez o teu corpo necessite desse movimento… Talvez a tua mente precise de algo que deixe não pensar… Talvez… Enquanto te recompões, nesse pequeno degrau a que chamaste cama, vês as primeiras estrelas da noite… Tu és Esforço…

Continuas a subir essa mesma colina… Que imaginas repleta de esqueletos no seu ventre… Olhas os edifícios em volta e tentas adivinhar a idade dessas ruas que pisas, tentas, de alguma forma absurda, saber quantas pessoas já morreram nessa colina, e quantas estarão, ainda hoje, aí enterradas… De certa forma sabes que não é acertado ter este tipo de pensamentos, no entanto, também julgas ser permitido a um Apátrida de Si coisas que não são permitidas a outras pessoas… Tu és Depravação… 

Julgas ver por entre alguns edifícios mais baixos, uma grande igreja, ou catedral… Que pelos vistos aparece só quando lhe apetece… Umas vezes com uma iluminação quase mágica destacando enormes pinturas azuis e douradas… Outras sem qualquer tipo de iluminação como as ruínas de uma qualquer grande guerra… Segues em direcção à miragem, não por te ser familiar, mas por de certa forma, ser tão estranho que te faz sentir em casa… Sentes uma atracção inexplicável por esse pedaço de pedra… Indescritível… Tu és Esperança… 

Conforme te aproximas reparas que é uma catedral real e que, de facto, algumas partes estão completamente destruídas sobrando apenas os enormes pilares e pequenos troços da parede… Enquanto outras mantêm um esplendor digno das melhores histórias de literatura fantástica, suplantando o que imaginas ser o esplendor máximo de qualquer dos Extintos Impérios Mágicos… As pinturas que, agora, reconheces como sendo, claramente, de lápis-lazúli e ouro estão intactas e com uma luminosidade incrível, própria diria eu, parecendo brilhar entre o nevoeiro que cobre a noite… Tu és Ilusão…

Assim, olhada de um determinado ângulo a Catedral tem um porte imponente sobre a Cidade, quase se poderia dizer que domina sobre qualquer outro edifício, enquanto que vista de outro é apenas um amontoado de calhaus, dos quais sobressaem umas grandes colunas góticas… Vendo ambas as partes ao mesmo tempo a Catedral parece uma ferida aberta na Alma da Terra… Tu és Sangue…

Vejo claramente que não consegues resistir aproximar-te dela, sinto no teu olhar a atracção que essas ruínas te causam, embora não sintas nenhum tipo de familiaridade com o edifício em questão, nem de forma alguma aches que alguma vez o tenhas visto… Sentes que lhe pertences, da mesma forma que ele te pertence a ti… Uma forma de possuir e ser possuído só comparável aos gritos do primeiro amor… Tu és Coragem…

Entras por uma pequena abertura nas paredes, na zona mais destruída da catedral… caminhas directo ao seu Coração… Verificas que és incapaz de reconhecer os símbolos das paredes ou de associá-los a qualquer religião… Quando chegas ao que consideras ser a zona central… Talvez por estar rodeada de quatro colunas de mármore, sendo todas as outras de granito… Talvez por saberes… Tocas o mármore, e sentes as colunas quentes, como que a ferver no seu interior, de alguma forma sentes a pulsação da Terra nas colunas da Catedral… Tu és Elemental…

Verificas que o mármore, agora rosado, parece cintilar… A Terra parece tremer no exacto local onde te encontras, mas sem provocar qualquer perturbação nos restantes locais dentro ou fora da Catedral… As pedras que cobrem o chão da zona entre as quatro colinas começam a ceder e a cair em direcção ao infinito, se é que pode haver infinito em direcção ao interior da Terra… Quando sentes as pedras debaixo dos teus pés a cederem, também, fechas os olhos e recebes o último Abraço… Sentes-te, como que a flutuar numa corrente de ar quente… Uma mão acaricia-te o Rosto… Abres os olhos para veres este Anjo que te sustém… 

Tu és…

9 minutos

Ultimamente sonho muito… Muito, não! Sonho demasiado! Acordo de madrugada com o suor frio a incomodar-me as costas… E deixou-me ficar assim, mais lá do que cá… Ainda demoro um certo tempo a digerir o sonho… A despertar-me! Fico sempre na dúvida de quanto tempo será? É neste intervalo, enquanto a minha alma passeia entre o lá e o cá, que eu sonho na realidade… Sou capaz de ver com clareza o que aconteceu no sonho que me havia despertado momentos antes! Fico sempre com a sensação que passo horas neste estado de transe, sem que isto tenha uma repercussão directa no relógio que tenho à cabeceira da cama… Não deixa de ser impressionante a quantidade de momentos que posso viver nestes minutos! Chego a perguntar-me se será saudável… Chego a querer acordar e não conseguir, literalmente, lutando contra Eu mesmo… 

Foi assim que fiquei a primeira vez que te vi…

Vi o teu ventre bailar por entre as alucinações! Vi o teu sorriso, destacado pelos teus suaves lábios da batalha que pequenos heróis vestidos de branco travaram, tentando escrever os seus nomes nos grandes Livros de História.

Pequenos heróis vestidos de branco com, não mais que, alguns centímetros de altura a inscreverem a sangue os seus nomes na História!

Juntos percorremos o Mundo… Entregamo-nos um ao outro sem nos preocuparmos com as consequências…

Não sei se foi sonho ou alucinação, sei apenas que nos relógios humanos durou exactamente 9 minutos!

Nove minutos apenas chegaram para me fixar na tua beleza, para beber da tua vida como se não houvesse amanhã! Nesse “curto” espaço temporal as nossas almas tocaram-se… Doce alucinação, esta, que deixa até a minha alma a tremer! Sentir-te tão próxima de mim é algo de tão indescritível que chega a ser ridículo querer explicá-lo a mim próprio…

Por isso quero pedir-te que voltes a fazê-lo… Invade os meus sonhos e arranca-me o coração com as tuas mãos, bebe o sangue que o rodeia e toma-o como teu! Prefiro Não Existir em Ti, a fazer de conta que existo neste Mundo… Sei que parece patético, louco na melhor das hipóteses, inclusivamente pode ser desculpa, ou razão, para me internarem rapidamente! Mas, sinceramente, tudo isto sou Eu! Quando abro as asas e voo sobre este Mundo em que vivemos, a única coisa que procuro é a tua janela, com a luz, ainda, acesa à espera do meu abraço... A angústia da busca tolda-me o pensamento e a visão, tudo me parece uma série de fotogramas desfocados, com os quais sou incapaz de construir um sequência lógica… Sei apenas que busco o teu quarto, quero entrar nesse ninho e… 

Cheirar a tua Alma, Tocar o teu Pensar, Ouvir o teu Sangue, Saborear o teu Chorar, Ver o teu Ser…

 Quero ser os teus olhos e não chorar nunca!

Quero ser o teu sorriso e não parar nunca!

Quero ser o teu coração e não sofrer nunca!

Quero ser Tu e não deixar de ser Eu nunca!

Quero gritar e fugir, mas não tenho força… Quero chorar, mas não tenho lágrimas… Quero morrer, mas não tenho onde… Quero o Mundo, mas não tenho onde o guardar... Quero um sentido, mas estou no centro… Quero-te a ti! Quero-nos a Nós!

Quero ser Eterno e, contigo, gozar com esse Velho a quem chamam Tempo! Quero ser deus e oferecer-me a Ti como o Escravo que mereces! Quero ser Nada, Todo Eu um Livro em Branco, para que em mim possas escrever o Homem que Sou!

 E tu?

terça-feira, outubro 14, 2008

II Jantar Tertúlia d' Revista P.E.N.A. - 8 Novembro



O grande Jantar Tertúlia da Revista P.E.N.A. aproxima-se a passos largos, é já dia 8 de Novembro!

Convidamos todos os visitantes do BLOG para comparecerem a partir das 18h com um livro, uma música e usufruírem de todos os prazeres literários.

A música pode ser enviada para o seguinte email: geral(arroba)com-palavras.com até dia 31 de Outubro. Serão posteriormente reproduzidas durante o evento.

Para confirmarem a vossa intenção de ingresso utilizem o seguinte formulário: https://spreadsheets.google.com/viewform?key=pP6Diq10Foq2tzoGtYD85AA

Haverá à disposição: entradas, jantar (com bebida à descrição), sobremesa e café.
O ingresso terá o valor simbólico de 13 euros por pessoa.
Local: Alessandro Nannini - Baixa de Lisboa (maps)
A duração máxima da Tertúlia serão 4-5 horas (fecho do estabelecimento: 23h).

Para os estreantes, estou certo que irão adorar!!
Fico a contar com a vossa participação!

segunda-feira, outubro 13, 2008

À hora certa no lugar errado... (AZAR!)

Quilómetros percorridos a correr...
Sem tempo, para disfrutar.
A mente farta de lutar,
Os olhos já a ceder.

Milhas já gastas, usadas,
Para chegar e fugir,
Desfazer a mala e partir
Sem as novas aguardadas.

Meses calcorreados no calendário,
Metros de papel estendidos...
Dias, dias, mais dias perdidos,
Preenchendo o imaginário.

Um homem sempre apressado...
Parti!
Cheguei!
Voltei!
FUGI!
À hora certa, no lugar errado!

terça-feira, outubro 07, 2008

Petrificando a memória



Sinto o húmido aviso...
Depressivo e sentido.
Sinto-o quente, o sorriso...
Relampejando adormecido!

Áspero, o teu rosto...
Imaculado e bonito.
Entristece no desgosto...
Petrificando como granito.

Entoa na lembrança...
No eco intemporal!
Optimismo é esperança,
O pessimismo imortal!