segunda-feira, março 30, 2009

Ohhh

Ohhh... primavera! Eterna paixão!
Trocam-se beijos, afastando o frio.

Ohhh... folhinhas! Jovem natureza!
Voam insectos, lavrando a inocência.

Ohhh... clorofila! Soberba na energia!
Respira oxigénio, purificando a vida.

Ohhh... Luz! Cresce dia após dia!
Iluminas trilhos, encontraste-me o caminho.

sexta-feira, março 27, 2009

De manhã saí à rua

O Sol já vai alto e agora aquece. A leve brisa do rio deu lugar a uma aragem quente e começo-me a sentir desconfortável. Começa também a surgir a curiosidade sobre aquele corpo que repousa na cama. Vou até à bolsa que ficou no hall de entrada para procurar a identificação. No caminho imensas fotos dela e de um casal claramente mais velho, ora o casal, ora ela, ora ainda os três juntos... Na carteira a confirmação do crime cometido! Foi bom, é certo, mas agora está na hora de ir.

Visto-me à pressa e saio porta fora. Entro no café que há na esquina e sento-me na esplanada. Peço uma torrada e um sumo de laranja e pego no jornal da mesa do lado. As notícias não me animam, mas o reflexo de folhear o jornal vem de há muitos anos, ajuda a pensar... Por entre uma página e outra vou olhando a janela do quarto, que vejo estar agora aberta. Por um instante penso em voltar e falar com ela, mas depois passa-me e mergulho novamente no jornal. Com a noção do tempo desaparecida vejo que a torrada e o sumo já estão na mesa. Como lentamente para saborear, não a comida mas o ar fresco das manhãs à beira-rio. Absorvo não o alimento, mas aquele estado bucólico de fim-de-semana, em que os dias são maiores e as manhãs mais lentas, tão iguais e tão diferentes de todos os outros dias.

Levanto por acaso a cabeça e nesse instante vejo-a, cabelos escuros soltos, calças justas e um top revelador! Na mão tem um casaco fininho. Sai de casa e olha em redor, perdendo algum tempo a olhar para a esplanada. Acena-me e segue para o outro lado da rua.

Não sei se ela sabe que eu sei o que fiz... Não sei se sabe que, por muito que eu queira, não haverá outra noite. Não sei se sei que haverão outras noites, só não estarei lá para saber. O que sei é que na próxima sexta, já tenho sítio para ir sair!

quarta-feira, março 25, 2009

À noites as sensações, num quarto desconhecido...

Acelero rumo a norte, com a bússola dos sentidos desorientada. Não se pense, por falar em acelerar, que sigo a uma velocidade estonteante. Não! Não o consigo fazer... Ela, no banco do passageiro, está sentada de lado, a olhar-me e a acariciar-me de tal forma que meter as mudanças é tarefa complicada, pois a cada saída de rotunda, ou curva para a direita, a mão dela resvala da minha coxa em direcção à minha virilha. O percurso, que foi rápido, durou uma eternidade. Nos metros finais ela ia dando indicações, "vira ali, corta naquela, estaciona já que a minha casa é aquela", e eu obedecia cegamente, "sim, sim estou a ver", mas as imagens andam a mil e nem vejo bem onde estou. Do outro lado do rio, Lisboa, a boémia, olha-nos e sorri marota, como que dando a sua permissão para o que vai suceder.

Subimos as escadas de madeira para um primeiro andar. Não nos preocupamos com o ranger, mas não se pense que subimos a correr. Ela abriu a porta, deu-me a mão e passámos, um de cada vez, a estreita porta. Na escuridão guiou-me até ao quarto dela e não pude, apesar do grau de excitação, deixar de ficar abismado. De certo modo aquele momento fez a minha mente desfocar-se e ela, sentido que me estava a perder, aproximou-se pelas minhas costas e, com as mãos bem juntinhas à minha pele, começou a tirar-me a camisola. Fazia-o lentamente e com as palmas a tocarem-me o peito, acariciando-me e levantando-me a roupa. Quando a última manga passou pela minha mão direita, um puxão virou-me e dei comigo a olhá-la de frente.

Com as luzes reflectidas pelo rio a banharem-me as costas e as bochechas esfomeadas dela, comecei a sentir-lhe os lábios a acariciar-me a pele. Primeiro nas orelhas, descendo ao pescoço, uma trinca suave nos mamilos, a lingua a percorrer-me a barriga enquanto as mãos iam empurrando a roupa para baixo, com as unhas a percorrer-me o interior das pernas. Até que ela parou!

Parou porque os sapatos impediam as minhas calças e os boxers de saírem. Parou, mas não atrapalhada. Parou e olhou-me nos olhos e vi nos dela um brilho malévolo que teve consequências ao nível da minha virilha, reacção que despoletou um risinho por parte dela. Parou para me atirar para a cama, com um colchão algo mole e que afundava no meio e enquanto eu caía começou a despir-se da cintura para baixo, à medida que se aproximava da cama. Eu olhava e apreciava! O mesmo balouçar de cintura da pista de dança era agora repetido para expôr mais e mais rendilhado escarlate. Descalçou-se, retirou as calças, dobrando-se toda, com as nádegas redondas a balouçar, viradas para mim, junto à cama.

Acabou de remover as roupas, mas não se virou para mim. Ao invés, sempre de costas, colocou o joelho direito na cama e passou com a perna esquerda por cima de mim. Quando recuperei da estupefacção tinha os rendilhado vermelhos, onde se via uma penugem enfraquecida, a roçar-me na cara e sentia grande agitação nas virilhas. A partir daquele momento, senti necessidade de alinhar pela vontade dela.

Durante o que sobrou da noite, passámos muito tempo com o meu peito a tocar-lhe nas costas, em movimento perpétuos, em carícias sugestivas, mudando da cama para a janela, da janela para o chão, e ora se sentava ela em mim, ora lhe levantava eu as pernas, até que, derreados pelo esforço, cedemos à luz mortiça dos candeeiros de rua e adormecemos.

Resgate

Do teu sorriso fiz a minha religião

Do teu abrir e fechar de olhos a minha lua e sol

Do teu toque a minha pele



Trouxe a má fortuna a anti-fé nos nossos erros

O eclipse total na fraqueza dos nossos horizontes

O empurrar para o exílio dos teus braços


Eis agora uma alvorada por estrear... só nossa

Um novo evangelho de amar, resgatado

As bases um palácio indestrutível de carícias

... que só a nós compete edificar.



Se acreditarmos bastante

Se sofrermos muito

Se enlouquecermos muito mais que os loucos

Se, finalmente, nos embriagarmos nas fontes da nossa harmonia



....Se tudo largarmos

....até nós prórpios...

... e sermos somente...

...Amor

terça-feira, março 24, 2009

Vagabundo

Vagueando as ruas da cidade
Com a mala cheia
Um espírito vazio e triste
O tempo a castigar o rosto
Com a chuva que refresca e liberta
Vai um homem perdido no caminho
Que sabe onde fica o seu fim

Soube outrora onde ficavam todos os lugares do mundo
Mas não sabia onde ficavam os lugares da alma
Perante uma demonstração de ignorância tal
Fez a sua mala com os sonhos da sua cidade
E partiu
Pelo mundo fora andou
Ficando mais burro a cada dia que passava
E agora que chegou à sua cidade
Descobriu que não a reconhece, não é mais sua.

quinta-feira, março 12, 2009

as horas

grita o meu nome
como eu grito a saudade
e a terra e as pedras enchem-me
o ventre grávida sem fim
como a besta ferida
nada em mim é acalmia
não tentes pintar a cor do desespero
nesta ausência sem fim
em que caminho por entre os seixo pontiagudos
descobrindo as ruínas do mundo

nunca as horas foram tão longas

segunda-feira, março 09, 2009

Mutantes S21

Cresci a olhar o tejo. A ver os barcos a entrarem e a saírem num rodopio constante. Na altura, ainda a Lisnave era a Lisnave e não um deserto de ferro e cimento. Na altura, a distância de Almada a Lisboa era superior aos vinte minutos do barco e os sonhos iam-se diluindo nas sujas águas do Tejo. Cresci a olhar o Tejo e como ele prometi correr na direcção do mar, ver outros portos e outras paragens, marinheiro livre num mar prazeres imensos, por entre fumos e orgias, mortes e fugas.

Como o Tejo viajei pelo mundo, fiz-me nuvem negra de paradeiro incerto e numa manhã negra chovi em Almada, capital de todo o meu mundo e que contempla essa capital de província onde a nossa aventura começou. Foi num tempo agora incerto, em que não sabíamos quem éramos, uma viagem por todo um mundo novo, uma iniciação à arte de viver... E que bem nos soube viver! Saborear o doce néctar da libertinagem, galopar nas ondas dos sentidos inebriados e sair, desse turbilhão, adultos e acordados, saudosos para todo o sempre desses meses, desejosos que mais ninguém repita os nossos passos, mas com a vontade que todos façam a sua viagem, se libertem de si mesmos, que peguem naquilo que são e no meio da transcrição diária, que é a rotina do dia-a-dia, dêem um pontapé numa perna e se tornem num mutante de si mesmos, nunca retornando ao que eram, acumulando erros e erros como forma de evoluírem, de se libertarem dos espartilhos mentais que em nós são incutidos desde crianças.

...

Ao fim de tantos anos contemplo novamente o Tejo. Ouço as sereias dos barcos e vejo as ruínas da Lisnave. Nas ruas os putos arrastam-se sem objectivos, desfrutam os dias com a obrigação única de chegarem até amanhã sem envelhecerem. Os que dum dia para o outro envelhecem, cedo arranjam quem sustentar com o seu suor. Não é para mim esta vida. Olho o Tejo enquanto enrolo uma broca e lembro-me que foi com uma broca na boca que apanhei o táxi para o Casal Ventoso.

quinta-feira, março 05, 2009

perda

vejo o rio e o gelo
e as pedras
e o lobo assalta-me
a fúria a angústia o medo
e só tu podes salvar-me
o que foi que perdi no fogo
o meu corpo o teu corpo aquele ser
mais que eu
que se perdia e encontrava
na curva do teu ombro
no conforto da tua face
e os cortes
nos meus braços nos meus pulsos na minhas veias
escorrem o sangue
que grita o teu nome

domingo, março 01, 2009

Tempo

Tempo livre a mais
Enquanto geme na cadeira
O meu cérebro grita por mais
Tardes estendido na eira!

Primavera

O Sol ergue-se das copas das árvores
Onde durante a noite reposou
Banhando de luz e apagando as dores
De todas as criaturas que um dia criou
A Natureza, embalada pelo encanto
Que lhe causava um estranho sentimento
De no mundo onde faltava tanto
Não haver quem desse contentamento
À vastidão imensa do nada
Que ficou com tal ocupação
Quando esse castanho que desagrada
Se transformava numa estação
Verde que é a Primavera!