segunda-feira, outubro 13, 2003

Descanso

Apertar os últimos botões da camisa
Vestir o casaco preto elegante
Calçar os sapatos reluzentes
E atar com força os atacadores...

Contemplar o espelho na parede
Face estranha, pálida, fria...
Olhos raiados de sangue, mas calmos
Pentear-me com a escova já gasta...

Ataque de tosse, garganta seca
Talvez um último copo de água
Para saciar a única necessidade saciável...
Alívio momentâneo que passa depressa...

Assinar a carta com letra bonita
Não borrar a última assinatura
Com a lágrima não evitada que cai...
Chorar não ajuda, nunca ajudou...

Subir para a cadeira com cuidado
Arranjar a gravata com nó apertado
E prende-la bem alto e firme...
Respirar fundo, sentir a determinação...

Um pequeno salto em frente
Cadeira tombada para um lado
O mundo em suspenso, por um fio
No ar dançar aquecido pelo frio da morte...

Paz, finalmente,
Descanso, por fim...

Sem comentários: