sexta-feira, dezembro 19, 2008

Fausto

Fausto.

Sempre aquele nome a cercar-lhe a pele como uma doença. Sempre aquele sentimento como um cancro a comer-lhe as tripas.

Fausto.

Aquele homem para sempre. Um homem que nunca amou, carne na carne. E, no entanto, o único que lhe ocupará o tempo para sempre.



07.20

Saio de casa agasalhada do frio, mas não do desgosto. A vida passou a ser uma rotina de gestos sem tempo ou cor. Apanho o autocarro e, depois, o metro e depressa chego ao trabalho. Sem ânsia. Processos e mais processos. Injunções, impugnações, oposições. Prazos, dívidas, pessoas já sem alma. Tanta coisa com tão pouca vida. Às vezes apetecia-me por fim a isto, sem dizer adeus.

Partir sem nunca chegar a lado algum. Mas, o teu nome chama-me quase todos os dias à razão, em gesto de fé e de alegoria ao querer. E eu fico. Por ti. Quando nada mais existe. Só tu e o teu nome

Fausto


Fausto, aquele nome. Quando, qualquer outro - João, Pedro, José, Luís, António ou Frederico - só quer dizer amor.

quarta-feira, dezembro 17, 2008

Histórias Tristes dum Homem Feliz

Diário de Vasco Carvalho

Prólogo

 

Passam poucos minutos das quatro da manhã, e encontro-me em Castellon de La Plana, pequena cidade na costa mediterrânica de Espanha, a poucos kilómetros de Valência. Está um frio de rachar nesta manhã de Outubro, o vento sopra gelado de Norte e corta-nos a alma fazendo-nos sentir vivos! Sempre gostei deste tipo de frio… Talvez porque me faça lembrar a sensação reconfortante da lareira e do cobertor que me aqueciam em dias assim quando era criança. O autocarro das quatro está atrasado, como sempre. No meio da pequena multidão de romenos e árabes que se movem nervosamente à minha volta, um rosto sobressaí… Um homem na casa dos quarenta anos com uma guitarra ás costas. Fixo-me neste homem, com aquele aperto que nos vem ao peito quando encontramos uma cara fora de contexto… Um rosto tão familiar, e a angustia de não sermos capazes de nos lembrar de onde o reconhecemos, apesar de sentirmos ser uma boa recordação… Começamos lentamente a tentar recordar todas as coisas boas que nos aconteceram nos últimos tempos e mais a angustia aumenta quando nos vemos incapazes de o fazer com exactidão… É quando começa a confusão temporal no nosso cérebro e já não somos capazes de organizar convenientemente a sucessão de momentos de que nos vamos lembrando! Até que alguma pequena faísca acidental nos faz lembrar exactamente o momento em que conhecemos aquele rosto e, a partir de aí tudo faz sentido, recuperamos as nossas memórias e o respectivo sentido cronológico. Para mim foi quando, este homem se cansou de esperar sentado pelo autocarro que já estava atrasado pelo menos meia hora e tirou a guitarra… Começou por tocar pequenas melodias de breves segundos, talvez aquecendo os dedos deduzi. Senti um ambiente daquele jazz tão brasileiro. Hummm… O vento continua a soprar gelado, mas a Bossa Nova aquecia o ambiente. Os romenos e árabes deixaram de me parecer tão frenéticos e tudo retomou a devida calma da espera, menos o meu cérebro, que por estas alturas continuava a sua batalha secreta por recordar este homem… Até que dou por mim a entoar, mentalmente, a letra d’A Garota de Ipanema, e pergunto-me porquê… De facto, aquela guitarra velha assim mo ditava e lembrei-me! Aquela música e a linda Adriana! Foi em Lisboa! Sim, conheci-o em Lisboa: verão de 2001! Chocamos, literalmente, no Castelo de S. Jorge! Ele estava a tocar esta mesma música e uma jovem de cabelos castanho-claros, pequenas ondas de paixão que lhe cobriam os ombros, com um vestido de alças, todo ele sinónimo de desejo, que cobria aquela escultura divina até dois dedos acima do joelho … Ela cantava a melodia e pequenos movimentos da sua cintura completavam o quadro… Claro está que absorto nesta visão idílica fui chocar com o guitarrista! Para além de ter estragado o momento verifiquei que alguns estrangeiros voltaram a por as moedas no mesmo bolso de onde as tinham acabado de tirar. Acabei por os convidar para beber um copo e, talvez, comer qualquer coisa. Mais para ver de perto esta reencarnação de Helena de Tróia, que por compensar as suas perdas monetárias, acho eu! A verdade é que aceitaram prontamente… O sol estava a pôr-se na foz do Tejo e Lisboa tingida pelos seus tons doirados completava a beleza da jovem. Ficamos ali perto, num café para turistas, não quis parecer inoportuno ou mal-educado em tentar escolher um sítio mais cómodo de preço, afinal de contas, tinha-lhes estragado o negócio e ainda estava adormecido por ter diante de mim tamanha formosura. Foi assim que nos conhecemos, ele na casa dos trinta, homem rude de roupas velhas, mas impecavelmente limpas, as mãos calejadas, a barba por fazer, olhos de um cinzento apagado que gritavam saudade, a guitarra com visíveis danos físicos e, a julgar pelo dono, psicológicos também. Nome: Vasco Carvalho; Idade: 33; Profissão: Fazedor de Nada, como ele se auto-proclamava; Proveniência: filho de portugueses, mais propriamente de Angra do Heroísmo, radicados nos Estados Unidos, São Francisco, para ser mais exacto. Ela, como já vos disse, capaz de mudar o significado de Beleza patente nos Dicionários… Nome: Adriana dos Anjos (ahhh! Como fazia jus ao nome…); Idade: 25; Profissão: Modelo, cantora, bailarina, ou, como acabou por simplificar depois de algumas garrafas de vinho, todo o tipo de trabalhos que dêem dinheiro só pelo facto de se ser bonita e em que não se tenha que utilizar directamente o corpo; Proveniência: filha de Brasileiros de uma cidade que não me lembro do nome, também eles a trabalhar nos States, São Francisco. Fora aí que se conheceram, no Bar de Jazz onde seu pai era o responsável por seleccionar os novos talentos que todos os dias apareciam a tentar a sua sorte! Vasco foi um deles, e apesar das escassas oportunidades como interprete, tornou-se um frequentador habitual, a principio apenas pelo prazer de ver Adriana e mais tarde pelos ensinamentos que ia recolhendo, principalmente do pai de Adriana, que ao ver que a sua filha se tinha apaixonado por um artista falhado, decidiu fazer dele alguma coisa de jeito, e a verdade é que conseguiu. Um ano depois de ter entrado no Bar pela primeira vez encheu a pequena sala de concertos. Decidiu que era altura de partir e conhecer o mundo! Decidira vir para Portugal, conhecer o país de que tanto ouvira os seus pais falar na sua infância! Adriana, como transparecia no seu olhar segui-lo-ia até ao fim-do-mundo, pelo que veio com ele utilizando a desculpa que Portugal fazia, também, parte das suas raízes… Já a Lua ia alta e ficamos por ali… Uma promessa vã de nos voltarmos a ver, se bem que eu não me importaria nada de voltar a encontrar Adriana… E nada mais… Até hoje! Em Castellon de La Plana, pequena cidade na costa mediterrânica de Espanha, a poucos kilómetros de Valência e a espera por um autocarro para Barcelona que está atrasado, como sempre, uma guitarra e alguns romenos e árabes nervosos! Não pude deixar de o cumprimentar! Primeiro verifiquei o seu olhar surpreso por alguém se lhe dirigir em português e depois, talvez a mesma angústia pela qual eu tinha passado momentos antes, a tentar lembrar de onde seria familiar o meu rosto. Resisti à tentação de o pressionar perguntando se já não se lembrava de mim, da mesma forma que não lhe retirei o prazer de se lembrar por si mesmo e exclamar: “Ahhhh! O desastrado do S. Jorge!” – Por breves momentos reavaliei as minhas duas ultimas decisões!

 

Fiquei desiludo ao saber que Adriana voltara para o conforto do Lar e questionei-me qual o interesse de continuar a falar com ele, um pequeno olhar em redor, para constatar que apenas romenos e árabes esperavam o autocarro forneceu-me razões suficientes… Nós éramos, ali e naquele momento, uma minoria étnica, pelo que tínhamos a obrigação de permanecer unidos! Chegou o autocarro, finalmente! Falamos de nadas, pequenas trivialidades e talvez outras coisas que não me lembro até Tarragona. Eu ficava por ali, tinha uns amigos para visitar neste, outrora, importante porto do Império Romano. Ele seguia viagem até Barcelona. Comentei em jeito de promessa vã, mais uma vez, que eu também lá estaria dentro de um par de dias… Na verdade, não julguei que o encontraria jamais, uma coincidência é muito numa vida tão curta! Mas, de facto, passadas duas semanas, estava eu a cumprir a minha visita ritual de ultimo dia em Barcelona ao Parc Güell, quando me fixei numa rapariga, esta de aparência normal, que fazia bolas de sabão gigantes, lembro-me de pensar que era uma excelente combinação com a arquitectura de Gaudi, quando ouvi uma guitarra chorar ali bem perto, claro que não poderia deixar de ser Vasco Carvalho, ou não fosse isto um prólogo decente de uma história ficcionada baseada em encontros improváveis entres duas almas perdidas. Falamos muito pouco, acompanhados por uma Voll-Damm, eu voltei a Lisboa e ele ficou por Barcelona…

Nada disto seria digno de registo sem um derradeiro encontro que marcaria, definitivamente, o início da nossa amizade!

Ocorreu no sítio mais improvável que possam imaginar a seguir aos Pólos, Himalaias e outros locais inatingíveis para meros mortais como eu e o Vasco, em Coimbra. Eu estava ali, mais uma vez, de visita a uns amigos, que tinham vindo fazer o seu Pós-Doutoramento; ele, claramente, pelo Fado. Poder-vos-ia contar os detalhes deste nosso encontro regado com um bom vinho do Dão e temperado com muito Fado. Mas, seguramente, não o faria tão bem quanto ele neste Diário que vos transcrevo.

 

APC

terça-feira, dezembro 16, 2008

Erguendo as Velas Rumo ao Sol Poente

De repente uma voz ergueu-se acima de todas as outras. Cantava, mas não havia instrumentos e o som daquela voz aquecia a alma de todos. Cantava naquela língua rude e áspera de terras onde as noites duram dias e não há escravos nem senhores. Cantava, numa toada entristecida que alegrava. Cantava sozinha, mas rapidamente todos começaram a cantar com ela, e quando me apercebi também já eu gritava a plenos pulmões:


Os dias crescem
O calor aumenta
A comida falta
A fome aperta
Escravos morreram
Há gente que falta
Lenha escasseia
Na floresta farta.

Jovens enérgicos
Com ímpeto guerreiro
Cresceram no escuro
De que é o Inverno feito
Chegados ao calor
Que traz a Primavera
É vê-los com sede
De mulheres e de guerra.

Tapamos os buracos
Que têm os cascos
Pintamos os escudos
Afiamos o aço
Bebemos cerveja
A pensar em igrejas
Vêmo-las a elas
A tear nossas velas.

Os dias vão longos
E sem negros assombros
Monstros adormeceram
Velas se ergueram
Mulheres se amaram
Rapazes cresceram
Homens para a guerra
Nos barcos partirão.

Ninguém se despede
Nem chora nossa partida
Os ventos da fortuna
Levam-nos nesta nossa vida
Partimos de tarde
Chegaremos de dia
Terror transportamos
Na ponta dos nossos braços.

Ferro, fogo e destruição
Tudo levamos até outra nação
Lá não nos esperam
Não sabem ao que vamos
Agarrados aos remos
Navegamos em frente
Erguendo as velas
Rumo ao Sol Poente.

segunda-feira, dezembro 15, 2008

O Velho

E o velho olhou para ti
De alto a baixo contemplou-te
Mirou-te, e na sua velha mente
Violou-te...

O Velho, esse velho de pele
enrugada, que dentro de si
tinha ainda uma criança,
Esse velho olhou para ti,
Imaginou-te
E seguiu viagem.

sábado, dezembro 13, 2008

Não me olhes assim



- Porque me olhas assim?
- Assim como?
- Como se esperasses algo de mim?

Não sabes, ainda, que não há nada por que esperar?
Todo eu sou vácuo, nem o éter me enche a alma… Apenas cheio da nada… Nadas gigantes que me preenchem todo o espaço!
Aqui só há desespero e nada pelo que esperar… 
Não sei… Não sou capaz de suportar esses olhos sobre a minha alma… Quando me olhas todo eu estou nu diante de ti… Todo eu sou carne! 
Ainda que pareça despretensioso, esse teu olhar, é o meu sentenciador… 
E eu confesso: sou culpado! 
Não aguento mais… Sou culpado… De Ser, inevitavelmente, Eu!

- Não me olhes assim!
- Porquê?
- Porque me enlouqueces!

Porque me tiras de mim… Desvairas o meu pensamento, e eu não sei o que fazer nem como reagir… Não posso mais com a candura do teu olhar cor-de-mel! Fora eu cego, e ainda assim a intensidade do teu olhar me deixaria alucinado… Doido! 
Não consigo pensar, todo eu sou o teu olhar singelo… Deixas-me tão fora de mim, que pareço flutuar sobre a minha própria vida. Tudo se me sucede como pequenas nuvens de acontecimentos! Todo eu louco, a arfar, pelo teu olhar! Tudo o que luz é os teus olhos! 
O teu olhar faz-me vibrar! Entrar numa ressonância tal com a espiral da loucura que não consigo suportá-lo… Só quero que olhes noutra direcção!
E quando não me olhas:
Todo eu sou desejo desse olhar! Todo eu sou ciúme das coisas que olhas em vez de mim! Todo eu sou espera por esse olhar mágico! 

- Não me olhes assim!
- Porquê?
- Porque me aleijas!

Dói, saber que não te posso ter… Dói, saber que não és minha, ainda que eu seja teu!
Porque me feres a alma com esse olhar hipnótico! Porque não! Porque sim! Porque não me apetece! Porque tenho consciência da dor, talvez porque a precinta aqui tão perto, só à espera de uma oportunidade para nos atacar! 
Porque dói a certeza do futuro incerto! Porque dói a distância a que me condeno! Porque a dor não se deixa esquecer… Porque sou incapaz de me entregar a ti assim como o negro se entrega ao abismo! Porque não escolhi Ser eu! 
Porque o teu olhar me rasga em dois:
O Eu Animal… O Eu Primordial… Ou o que quer que lhe queiram chamar… Que te deseja tão ardentemente como os incêndios de Verão… Que te quer dilacerar! Que se condena a Ti todos os momentos… Que não vive senão pelo teu olhar! 
E:
O Eu Racional… Que te odeia como esses mesmos incêndios odeiam a água… Que sabe a impossibilidade de Nós! Sabe, também, que ainda que sejas minha alguma vez, não serás, nunca, de nós!

- Não me olhes assim!
- Porquê?
- Porque me dás medo!

Porque tenho medo que vejas todas as coisas boas e más que te quero fazer! Porque para esse teu olhar sou translúcido, todo eu transparente! E sei que vês bem dentro de mim, e… E tenho medo! Que vejas estes meus pensamentos! Que vejas como imagino o nosso primeiro beijo e os sítios bonitos da minha alma que te quero mostrar… Mas tenho mais medo ainda que vejas como te quero possuir como um animal, como necessito que sejas minha! Como a minha alma treme só de pensar na fricção dos nossos corpos… Como seria capaz de te matar apenas para não te perder… Tenho mais medo ainda de saber que isto é certo! Tão certo como não poder ter-te! Tenho medo que te condenes a mim, não pelo que sou, mas pelo eu que construíste em ti! Pelo eu que existe apenas para esse olhar! Sim, aquele que nem uma palavra consegue articular! Aquele que ouve o teu respirar pelo canto do olho e começar a flipar… Este eu, o outro eu! Tanto faz qualquer um! Nenhum é nada sem outro, e por isso vão sempre juntos, menos quando me olhas assim e me partes ao meio… Tenho medo que os fragmentos que vejas sejam piores que a soma!

- Não olhes assim, já disse!
- Porquê?
- Porque não!

Às vezes só queria arrancar este meu coração velho e ser todo eu aço! Todo eu uma impenetrável muralha que se apresenta perante esse teu olhar sem uma única réstia de sentimento ou dor!
Às vezes só queria não Ser! Às vezes penso que preciso de arejar as ideias e que a melhor forma para o fazer era colocar uma janela na cabeça!
Às vezes só queria arrancar este bocado de mim que és tu e…
E… Descansar! Deitar-me entre o feno e dormir, finalmente!
Às vezes só quero fugir daqui e não olhar para trás! 
Às vezes só queria chorar por não te ter!

E eu só quero que me olhes uma última vez! Que me olhes com um olhar singelo de quem vê pela primeira vez … 
Só quero ser simples!

Só quero não sentir este horror de ti!

quinta-feira, dezembro 11, 2008

"Realidade destroçada"

Mesmo que fossem só estas quatro paredes
Só estas paredes de tempo
Onde caiba uma rosa
Só estas paredes entre a linha do amanhecer,
O meu querer
E o fim do mundo
Só uma inscrição na pedra,
Cheia de musgo,
A alastrar a sombra
E o devastador Dezembro

Apetecia-me dizer
Meu amor e cantar
Para sempre

Meu amor

E esta, a palavra
A repetir-se,
Vocativa do meu grito,
Sinal desse silêncio que não me permite
Esquecer-te
A vida toda

Meu amor

Eu que num encantado gesto
Definitivo e imortal,
Amei-te
Quando procurava o sol na solidão

Meu amor

E te perdi sem nunca te ter achado
Nesse canto fino e aguçado
Que é a fuga

Meu amor

Eu que perdi o passado
E bebi o vinho de todas as garrafas
Só para disfarçar o sabor do sangue
Por não te ter

Mas nada disto, meu amor,
Cabe numa só palavra
Porque amor não é uma palavra para mim
E por detrás do poema
Nada existe.

segunda-feira, dezembro 08, 2008

Entra Sandman

Boas.

Lembram-se daquele senhor que escreveu aquele trecho que declamei na tertúlia? O mesmo responsável por alguns textos aqui postados pela minha pessoa?... Sim, aquele a quem chamaram o "gajo da BD". Há também quem o chame de Neil Gaiman.
Ora bem... Parece que encontrei A COLECÇÃO INTEIRA DO SANDMAN PARA DOWNLOAD na net. Quem fizer questão que a peça ao menino jesus em vez das coisas feias do costume :P . Há agora uma versão encadernada que é linda, linda de morrer... não fosse o pack desenhado por DEUS (a.k.a. Dave Mackean, responsável por todas as capas da série Snadman).

Podem fazer o download em:
Sandman - coleção completa (75 volumes)

Já agora podem ler umas linhas sobre este ENORMÍSSIMO escritor na Wikipedia.
Basta clicar aqui

A minha parte favorita: "Gaiman received a World Fantasy Award for short fiction in 1991 for the Sandman issue, "A Midsummer Night's Dream" (see Dream Country). (Due to a subsequent rules change disqualifying comics for that category, Gaiman is the only writer to win that award for a comics script.)" Resumindo e fanatismos aparte: é o maior! :D LOL

Para os mais cépticos que este último link e a minha palavra sirva de alento para baixar 300 e tal mb de pura ARTE!

Disfrutem.

P.s. Caguem para os desenhos... a maioria são uma trampa (há excepções como o Mr. Zuli e a sua técnica estonteante em tinta da china). Se também dão importância ao factor grafico segurem o queixo cada vez que vos aparecer a capa de um volume no monitor.

sábado, dezembro 06, 2008

O centro do mundo

Com o corpo nu,
Enquanto tocava no centro
Do mundo,
Reparei nas pequenas cicatrizes
De vida

Além das tatuagens
Cravadas
Na pele:

O corte no joelho da bicicleta
O tornozelo com um pequeno defeito
E depois parei.

Como será que depois de ti,
estará o meu coração?

quinta-feira, dezembro 04, 2008

Mensagem para um amor em pe(le)rigo

Amar nunca é receber.

É sempre dar... mais, mais e mais.

Adictivamente.

O amor é o heraldo obcessivo do altruismo... suscite reacção ou não, indiferente à natureza da mesma: é assim e assim continurá a ser, alheio a tudo e todos.

Pouco lhe interessa danos colaterais, quem ganha, quem perde... tudo são redundâncias. É escuma sobre uma obra de arte acabada de esculpir. E cuja limpeza nos é delegada e não a essa estupida ilusão que é o passar dos dias, que só os parvos e pobres de espírito comem como solução. Porque o amar não é quantificavel, à semelhança de todas as outras coisas belas.

E a razão pela qual te sentes tão dilacerada por dares à luz o sublime dos sublimes reside na lucidez da nossa alma... não és tu que transportas a cruz sorrindo em nome do amar supremo. Nenhuma alma humana o fez até hoje, exceptuando uma. Só essa alma entendeu na prefeição o quão falsa e aparente é a crueldade que muitas vezes atribuem ao amor.

Porque se é verdade que o teu amor não te pertence a partir do momento que o liberas, és tu mesma que sentes o impulso suicida de o sobrealimentar e de acartar toda e qualquer consequência de algo que já não controlas (e parece controlar-te ao invés).

Por isso não cometas a estupidez de guardar o amor para o teu eu. Limpa a escuma, ou retoca a escultura... e continua a dar. Porque apesar do amor ser enorme demais para te pertencer a ti ou a alguém, a obra resultante é sempre tua. E é sempre bela como as mais belas... mesmo quando ainda se encontra coberta de detritos que, ao remover, magoam o coração e não as mãos.

Porque o amor resume-se a isso: dar. E ninguém pode roubar algo que dás.
Em contraponto só pode ter uma resposta válida: amar também.

E amar nunca é receber.

É sempre dar... mais, mais e mais.

O teu amar não é dos outros, nem sequer teu ... é A SUPREMA obra de arte.

E essa obra de arte és tu.


P.S. : Palavras são palavras e parecem sempre pouco... bazófia aparte, aconselho que te lembres das ideias base deste texto nos próximos tempos. Pode ser que te ajudem.

Escuta-me

Escuta-me... Hoje preciso que me escutes...

Juntos rimos (mais do que chorámos), e bebemos da vida a cada instante! Juntos partilhámos os sonhos e as tristezas, em momentos puros de felicidade... Hoje peço que me escutes meu amigo!
Não me interpretes mal, afinal sempre falámos e sempre foste ombro presente quando mais precisei, sempre o soubeste fazer, e por isso te agradeço... profundamente. Mas hoje peço que me escutes verdadeiramente, agora que os dias terminam mal tendo começado (e não será que terminam todos os dias?).
Sabes que eu represento aquilo que sou para ti... mas não saberás por ventura que não sendo nada e sendo tudo, caminho entre ambas as coisas com o medo da vida porque esse é o sinónimo do receio da morte. E sei que corajoso também não serás, porque ter a coragem de viver o dia a dia não é ter a coragem de o fazer sem uma mancha que te prenda constantemente... Nunca seremos livres, nem tu, nem eu! Até ao dia da liberdade (Será?).
Lembras-te da primeira palavra, do primeiro gesto? A nossa amizade cresceu de um nada, mas tu próprio nem eu conseguiremos algum dia descrever o nada, tal como nunca conseguiremos descrever a eternidade (ou conseguiremos?).
Eu ao contrário de ti acredito na Criação (não acreditarás tu também?). Não numa metáfora, mas em todo um processo cuja génese está para além da explicação científica, mas que toda a explicação científica complementa e dá sentido (saberei eu realmente o que é uma génese se não sei sequer o que é o nada).
Um dia caminharemos juntos no Paraíso, sem saber o fim do caminho... Se calhar nem saberemos o que é o fim (será que a eternidade tem um fim?). Porque até a morte tem um fim ( a não ser que a própria morte acredite na eternidade).
A minha ignorância incomoda-te? Ou incomodará quem porventura escutar estas palavras a ecoar ao vento...? A minha ignorância soa a blasfémia, e cada palavra proferida pela minha boca soa a medo, a tristeza e sobretudo a arrependimento...
Mas se cada palavra é uma despedida, também cada dia o é e amanhã nenhuma destas palavras será lembrada por ti. Irás esquecer, e talvez mesmo a eternidade não as vá lembrar se de facto ela existir. E ainda bem que assim é porque amanhã poderemos sorrir! Amanhã quando partirmos numa viagem. Porque cada minuto é uma viagem

segunda-feira, dezembro 01, 2008

Breves momentos

O calor reconfortante da alegria jovial ilumina,
Ainda que por breves momentos,
Um fim de tarde melancólico…

O pôr-do-sol sempre belo numa perspectiva especial ilumina,
Ainda que por breves momentos,
A monotonia de uma viagem…

Um sorriso contagiante e inesperado provoca,
Ainda que por breves momentos,
Um sorriso tão reflexo como sentido…

A visão de um beijo pleno de amor inocente relembra,
Ainda que por breves momentos,
Um beijo há muito dado…

Um momento de prazer recorrente proporciona,
Ainda que por breves momentos,
Uma doce abstracção da realidade…

[Breves momentos que, na sua efémera existência,
Quebram a banalidade e a tristeza de um trajecto rotineiro]

domingo, novembro 30, 2008

Malas que viajam

Um balcão sempre pronto a servir,
A rapariga do check in algo abstraída
Que recebe, pesa, rotula e faz seguir
A malona, fechada, mas quase descosida!

O avião que descola e transporta
O passageiro descontraído e animado…
A ele, nada mais importa
Que chegar, inteiro, ao destino assinalado.

Mas se para o passageiro a viagem é tranquila,
No porão, a história é bem diferente…
A mala que devia seguir, descarrila
Num comboio, transviada para o oriente!

A samsonite metalizada que sai amolgada,
E a necessaire que não acaba a viagem
Porque a equipa de terra está paralisada.
Ahhhhhh, lá se foi a minha bagagem!!!

Malas que acabam perdidas,
Malas que viajam sem destino,
Malas que acabam remexidas,
Safa, mas que desatino!!!

sábado, novembro 29, 2008

Um discurso apaixonado não é um discurso justo

Diz-me que sabias tudo desde início. E que sabes agora como se nem sequer houvesse tempo. Que essa frincha estreita que encontraste foi o suficiente para me trespassares o coração. Só pelo prazer de me fazer sangrar do peito. Admite cobarde. Reconhece que me matas todos os dias, qualquer que seja o intento de te esquecer. Consente que gostas de brincar com a minha alma como se brinca com um pião colorido no recreio da escola. Acaba com isto que eu não aguento mais. A verdade é que és um empecilho na minha vida. Não respiro. Tu não percebes ou finges não perceber a verdade do que sinto. E eu não sei como explicar que só tenho os meus olhos para te abraçar. A minha carne deixou de ser minha quando te conheci e nada me responde. O que mata não é o tempo ou a espera. São os olhos vermelhos de tanto chorar, primeiro por desgosto, depois pela raiva de chorar. Não passo um dia sem te desejar, nem uma noite sem te odiar. Sinto-me tão a mais nesta ânsia.
Porque foges ciente da pele da minha mão? Observas-me indiferente e todas as minhas palavras bonitas, trabalhadas, morrem rapidamente nos teus olhos. Esperei a vida inteira por alguém como tu e cedo percebi que não sei quem és. Por ti mudei a ordem natural das coisas, ainda que aches que nada é assim.

Que se foda a verdade. Que se foda quem não acredita nela.

Vanessa Pelerigo

quarta-feira, novembro 26, 2008

Juntos

E tu e eu começamos, atravessando a escuridão da noite.
E eu e tu caminhamos, afastando as sombras da manhã.

E tu e eu alcançamos, apanhando o sol para além das nuvens.
E eu e tu aproximamos, tomando todo o sofrimento.

E tu e eu subimos, claramente, até ao movimento.
E eu e tu fugimos, para além do fim do esquecimento.

E tu e eu chamamos, o sonho do breve momento.
E eu e tu gritamos, a dor de presos no tempo.

E eu e tu...E tu e eu...
Juntos nunca desaparecemos.

segunda-feira, novembro 24, 2008

Sonhos

Sonho,
mas meus sonhos são negros.
São sonhos,
só para não lhes chamar pesadelos.
São medos,
que não encontram sossegos.
Em vê-los,
são negros meus pesadelos.

sábado, novembro 22, 2008

Tolices... doidas parvoíces

Idealizamos,
Ideias brilhantes quando sonhamos.

Ouvimos,
Crentes na sua filosofia.

Assimilamos,
Poucas palavras e alguns retratos.

Acordamos,
Baralhados e mal humorados.

Levantamos,
Na maior preguiça diária.

Espelhamos,
Uma imagem, um caos matinal.

Trabalhamos,
Crentes num futuro a termo incerto.

Alimentamos,
A força que nos dá vida.

Amamos,
Na mais bela e inesgotável força.

Divertimos,
Algures no tempo que restou.

Alcoolizamos,
Na bazófia, num rebuliço.

Adormecemos,
Esquecidos, na ausência de sentidos.

segunda-feira, novembro 17, 2008

Anticiclone

"A" das letras a primeira:
Simples e útil vogal,
Surgindo discreta e ligeira
Torna-se foco principal.

O "B" só vem a seguir...
Banal, pouco utilizada,
Sem motivos para sorrir
De tão ostracizada.

Se a primeira traz calmaria,
É a segunda perigosa...
Contudo bem mais saborosa.

Se a segunda o caos anuncia:
Antes o caos a reinar,
Que a primeira a dobrar!

Mais uma do "Sandman"

"Delirium: What's the name of the word for the precise moment when you realize that you've actually forgotten how it felt to make love to somebody you really liked a long time ago?
Dream: There isn't one.
Delirium: Oh. I thought maybe there was.
Dream: No. There isn't.
...
Delirium: Is there a word for forgetting the name of someone when you want to introduce them to someone else at the same time you realize you've forgotten the name of the person you're introducing them to as well?
Dream: No.
...
Delirium: Um. What's the name of the word for things not being the same always. You know. I'm sure there's one. Isn't there? There must be a word for it... The thing that lets you know time is happening. Is there a word?
Dream: Change."

sábado, novembro 15, 2008

"Nada"

Cansado

Estou cansado. Sinto-o... mais do que estar, sinto-o. Que me interessa a honestidade do concreto se nunca é suficiente para aliviar o peso desta dúvida sempre presente que sufoca e cansa... e moi e entristece?... E cuja única certeza é que irá regressar...

vezes sem conta.

Logo, estou cansado. E cansado continuarei... nos meus raciocínios oxidados, pelo exterior, pelo interior, pelo passado que tive, pelo presente que não tenho, pelo futuro que temo vir a ter...

e não descanso.

Logo, estou cansado. De tanto ter para pensar... e tão pouco poder fazer.

Estou cansado. Cansado de estar cansado...

de estar para aqui...


Cansado.



Carlos Jantarada, Maio de 2008

"Livre"

Livre!

Queres ser livre... Desde todo o sempre: grades! Grades à tua volta , dentro de ti, dentro dos outros... e queres sair, expandir, respirar... Viver, talvez!
E alimentas o sonho muito para além da vontade, da obcessão, da esperança, do amanhã, talvez mesmo de todo o sempre... até que um dia foges e triunfas:

És livre!
Pelo menos assim o pensas, qual pássaro de asas estropiadas evadido da sua gaiola...
perante o qual se abre um azul infindável.
e ao qual cada novo saltitar susurra a palavra... liberdade!

E és livre... No entanto descobres-te demasiado distante do céu que ansiavas... Na preversão brutal do condicionamento de outras liberdades (incontáveis!) que devoram a tua... Ou na clandestina covardia dos teus erros... No desculpar constante que alimentas com o mesmo sonho a que tanto aspiraste e agora desiludes. A mesma desilusão que irás camuflar na mesma roupagem dos abusos da multidão.
E és livre... Mas quem roubou essa teu céu afinal? A gaiola ou a própria liberdade? A tua? As dos outros? E quantas roubaste tu? O que foi causa? O que foi consequência? Existe mesmo alguma diferença... alguma relevância?
E és livre... até aferires que esse céu azul pelo qual tanto suspariram as tuas asas apenas serve de pano de fundo para as chagas da impossibilidade da tua descolagem ... Que não passa um encardido papel de parede sob o qual aguardam paredes de betão, cuja impenetrabilidade é de largo mais elevada do que a tua velha, familiar e confortável gaiola.

E ficas ali... parado... demasiado aterrorizado para regressar à clausura, demasiado pequeno perante a frustração de mil e um desejos que caem aos teus pés. A meio caminho de tudo... no alpendre de conquistar o ultimo nada... no desmanchar do teu destino... na nudez do teu fingir.
E és livre... mas talvez a liberdade nunca tenha sido moldada para ti... E permaneces. estático... Mas livre, enfim.

Ou então aprecebes-te que muitas prisões há ainda por abrir e muitas outras virão, tentando cerciar o serpenteante emergir da tua ansiedade... que muitas destas serão colocadas por ti, porque as tuas asas não cresceram livres... e que talvez a grande liberdade não seja alcançá-la... Mas sim preservá-la... dentro ou fora da tua cela. Mas sempre parte de ti. Esqueces as feridas, a clausura, o peso das tuas asas no arrastar de um sonho morto. Essas mesmas que agora são o estandarte que acenas perentório, caminhando (e não voando como tantas vezes te viste), indiferente a todos os cáceres que se atravessam nos apeadeiros da tua liberdade.

E finalmente... não a sonhas, não a desejas, não a cobiças... Vives somente...

Livre!



Carlos Jantarada Abril de 2008

1ª escolha

Ora para quem não reparou, antes de recitar a passagem do "Kindly Ones" do Neil Gaiman, Passei vários minutos a escolher a passagem. Tal deve-se ao facto da minha 1ª escolha estar no prefácio de um livro do mesmo autor que não consegui encontrar no meio do caos que são os meus aposentos... Hoje encontrei-o. Aqui fica:

"and when i fall asleep the objects of my house move slowly to my side

and whisper secret names ..the names they usually hide

and when i fall awake and try i to write them down

but real names are like sand
they spill out of my hands

and all the nights asleep

and all the counted sheep

and all the little deaths

and all the final breaths

detritus in my head

just as i am sure i'm not dreaming after all
i stay and dream some more"

Ainda podemos esperar em silêncio

Ainda podemos esperar em silêncio, sei-o agora. O silêncio consegue explodir veias, dizer tudo: o orvalho das ameias, a rotina dos gestos, a mão que demora a sombra nos lábios, corpos de mar e céu sem se tocarem, o desassossego das ausências.
Quando de noite há mais clareza nos meus olhos sei que o que dói não é o silêncio, mas o teu nome em todo o lado a mendigar o meu amor, a tecer um e outro (e outro mais) regresso ao meu peito, sempre em abandono. Os teus restos estão espalhados por todo o lado - planícies de tempo já sem tempo. E andas por aí a passear-te e eu aqui a fingir que vivo. A fingir que sei respirar quando tu não estás, quando os dedos são tãos frios que se torna impossível escrever as entranhas. E o teu perfume a esquartejar-me os sentidos, a debelar-se contra um amor que nasce e morre todos os dias. Pudesse eu achar-te entre a carne que aperto com as mãos, no meio da ternura que me sufoca e não me deixa falar.
Não há paz quando os meus beijos não nascem já na tua boca e na tua pele não tacteio o meu desejo. Podes orgulhar-te. Dizer ao mundo que todos os poemas são para ti. Que poderia ter sido para sempre. Este amor.

Ainda podemos esperar em silêncio, sei-o agora. Mas, há muito que te chamo e na minha garganta se escreve com sangue. E tu não vens.


Vanessa Pelerigo

quinta-feira, novembro 13, 2008

A Farsa

Há fraudes que nos apaziguam a mente
Palavras dóceis,
Gestos banais,
Goteiras que irrompem
Pela vida cansada.

Como uma vela ardendo por detrás da janela,
Criaste sombras entre as sombras da própria noite
E nesses pedaços escuros,
Pela tua mão aleitaste e fizeste,
Aquilo que no oculto nem tentava existir.

E agora…? À luz do dia o que resta?
Palavras dóceis,
Gestos banais,
Dos outros
Nos outros…
Porque na verdade
Esta fraude imaginada
Não vinga,
Não dura,
Apenas finge, na ousadia do gesto,
Resistir.

quarta-feira, novembro 12, 2008

PENA - As verdadeiras Estórias :: Mobilização

Estamos a mobilizar pessoal para publicarmos um PDF no blog, uma coisa chamada :
"P.E.N.A. - As Verdadeiras Estórias"

A ideia base consiste em reunir um conjunto de testemunhos, sobre a sua visão dos últimos seteanos, preferencialmente centrados na PENA, mas não obrigatoriamente! A ideia não é ter apenas relatos dos autores do Blog mas também dos leitores, amigos, críticos...

Para garantir a imparcialidade será feito nos seguintes moldes (ainda retórico):

A pessoas enviam o seu texto, este é agregado aos demais depoimentos. Todos os participantes serão convidados a comentar os textos dos outros particiantes. Finalmente o material será recompilado e Voalá... temos a versão final online.

Quem tiver interessado basta adicionar o seu nome e email no seguinte formulário:
https://spreadsheets.google.com/viewform?key=pP6Diq10Foq2QoXuE0bV5Bg&hl=pt_PT

Serão dadas mais instruções por email até final do mês.

Aproveito para convidar todos os interessados para uma reunião na Portvgalia do Cais Sodré, dia 22 de Novembro, pelas 15:30. O objectivo da reunião é discutirmos ideias e traçar objectivos para a expansão do projecto PENA nos próximos tempos. Se preferirem Almoço digam...

Conto com a vossa participação.

domingo, novembro 09, 2008

II Jantar tertúlia D´Pena

Ontem foi o grande dia... E grande foi a fila de autocarros a caminho a Baixa de Lisboa... nunca visto
Começamos a ramboia na esplanada da Portvgalia do Cais do Sodré, com umas Boémias de Ouro e umas imperiais menos douradas:
Prosseguimos finalmente para o destino escolhido, Alessandro Nannini, na Baixa:
Tivemos entradas:
E finalmente a cultura:

Houve modelos alternativos:
O Staff de segurança:


A lista de Músicas:
  • November Rain - Guns N' Roses - APC
  • Unnatural Selection - Ayreon - Chas.
  • Black Soul Choir - 16 Horsepower - Sackcloth 'n' Ashes - Captain Dildough
  • Young Gods - Envoyé - Paulo (por lapso não estava na lista)
  • Opus Dei - Laibach Opus Dei - Jantarada
  • Iter Impius - Pain Of Salvation Be - João
  • Another World - Antony & the Johnsons - Another world ep - Vanessa
  • Starlight - Muse - Black Holes & Revelations - Tiago
  • The Noose - A Perfect Circle - Thirteenth Step - Vaz
  • Metatron - The Mars Volta Bedlam in Goliath - Norsk Tørskfisk
  • (Diz) A verdade - Paulo Praça & Os Bons Rapazes - André Silva
  • Rosa - Rodrigo Leão - Luísa
  • Far beyond metal - Strapping Young Lad - The New Black - Artur
  • Tom Traubert's Blues (Four Sheets to the Wind in Copenhagen) - Tom Waits - Small Change
  • Na tua ausência - Toada Coimbrã - Alphatocopherol
  • You can´t say what you want - Texas Greatest Hits - Cátia

(Um das músicas não adicionei por desconhecer o autor e o nome. Quem a escolheu que se acuse! :P)

Podem consultar algumas das fotos aqui:
Fotos Chas.

Fotos APC

Serão actualizadas durante os próximos dias, ficaremos à espera das vossas!

Obrigado a todos, pela empatia e companheirismo cultural!

Até à próxima!

Cegueira

Desço e, depois de um cigarro
A lembrar uma boca a saber a lágrimas,
Escolho com minúcia
O que me deve matar primeiro
Às vezes basta-me o frio dos dedos
O vazio das palmas das mãos
E o sono que nunca vem
Noutras basta-me
Não te ver.

quarta-feira, outubro 22, 2008

Saudades do Inverno

Não! Apre, que já é demais!
Já se vêem os cordões nas vitrines,
Anúncios em jornais, magazines,
Revistas e coisas mais!
Que raiva da febre consumista:
Do Dezembro ainda distante,
Da febre em todos dominante,
Da sociedade materialista,
Deste mundo actual!

Do corropio da multidão,
Das luzinhas de Natal
Enfeitando o quarteirão!


Mas Outubro é enfadonho...
Manhãs frias cortantes,
Tardes quentes sufocantes,
Sob um sol tristonho.
Que maçador que é:
Não ter praia para andar,
Não ter neve para pisar...
Percorrendo a rua a pé,
Nesta estação desigual.

Rua essa, sem multidão,
Onde se montam luzes de Natal
No quase deserto quarteirão


Ah que saudades tenho eu
Do frio ao entardecer...
Cruzando a tarde a correr,
Preso num pensamento meu.
Do corropio das pessoas,
Alegrando a calçada...
Da constante brisa gelada.
De muitas coisas boas,
No Inverno especial!

Ah saudades...

(Do corropio da multidão,
Das luzinhas de Natal
Enfeitando o quarteirão!)

terça-feira, outubro 21, 2008

Estrada de cinza (ou Alien)

Sentes um vazio de tudo na alma, se é que ainda tens alma… Tentas, por breves momentos seguir por essa estrada na tentativa desesperada de encontrar algo familiar… Sentes-te um estranho ao teu próprio corpo… Percorres as ruas desta cidade que não é tua, tens medo de continuar, principalmente por não saberes como vai reagir a mente, que já não é tua, quando se aperceber que, de facto, não existe nada familiar nesta cidade… Buscas no bolso interior do casaco uma qualquer agenda velha apenas para verificar que está cheia de nenhum compromisso… Tu és Ausência… 

Sentes uma necessidade absurda de te sentir vivo, como se não bastassem as dores que afligem cada um dos teus miseráveis músculos… Encontras-te por fim na Porta do Desespero… Tal é o desespero, que apenas a semelhança de uma qualquer pedra da calçada seria o suficiente para te acalmar o espírito! Eu sei e Tu sabes… Tu és Raiva… 

Por breves momentos julgas reconhecer um reflexo amarelado no chão de pedra… Como aqueles dos centros históricos de cidades muito antigas que nos levam a pensar que são os mesmos candeeiros de sempre a tentar iluminar as mesmas pedras… Eternas! Mas não é mais que um candeeiro velho em uma qualquer rua desta cidade que não reconheces… Tu és Necessidade… 

Sentas-te num degrau de pedra com vista para um pequeno vale coberto de casas… Estás mais elevado que esse vale que se estende a teus pés fervilhando de energia e movimento por entre a “luz” do crepúsculo… Tens, durante breves momentos, a sensação de dominar o vale! Uma sensação que desperta mais uma vez aquele aperto no estômago, aquele grito da alma… Tu és Desilusão… 

Atordoado pela descarga hormonal o teu corpo sucumbe nos degraus… O teu corpo repousa, no entanto, a tua mente voa, tentando reconstituir a viagem que te trouxe aqui… Vês claramente, o pôr-do-sol a reflectir-se nos campos verdes com animais e vinhas, também pequenas zonas de cultivo onde foste capaz de distinguir milho, arroz e centeio… Talvez também trigo… A tua lembrança traz também um belo rosto… Eras capaz de jurar estar mesmo agora a cheirar aquele mesmo perfume suave… A sentir aquelas pequenas maças de rosto na palma da tua mão… Beijar aqueles lábios de seda… Sabes que não o estás a fazer, e de certa forma sabes que não o voltarás a fazer… Há algo dentro de Ti que o afirma muito claramente! Sentes a vibração do comboio que desliza suave… Tu és Esquecimento…

O teu sangue palpita-te nas veias, todo Tu pulsação… Sentes uma ameaça ininteligível… Uma sensação de Terror absoluto… Uma incapacidade irracional de continuar… Estás gelado, todo Tu iceberg… Sentes-te a alma a esvair-se do teu corpo… Tu és Medo…

Despertas! Uma enorme vontade de continuar, invade-te o espírito sem saberes muito bem porquê… Talvez o teu corpo necessite desse movimento… Talvez a tua mente precise de algo que deixe não pensar… Talvez… Enquanto te recompões, nesse pequeno degrau a que chamaste cama, vês as primeiras estrelas da noite… Tu és Esforço…

Continuas a subir essa mesma colina… Que imaginas repleta de esqueletos no seu ventre… Olhas os edifícios em volta e tentas adivinhar a idade dessas ruas que pisas, tentas, de alguma forma absurda, saber quantas pessoas já morreram nessa colina, e quantas estarão, ainda hoje, aí enterradas… De certa forma sabes que não é acertado ter este tipo de pensamentos, no entanto, também julgas ser permitido a um Apátrida de Si coisas que não são permitidas a outras pessoas… Tu és Depravação… 

Julgas ver por entre alguns edifícios mais baixos, uma grande igreja, ou catedral… Que pelos vistos aparece só quando lhe apetece… Umas vezes com uma iluminação quase mágica destacando enormes pinturas azuis e douradas… Outras sem qualquer tipo de iluminação como as ruínas de uma qualquer grande guerra… Segues em direcção à miragem, não por te ser familiar, mas por de certa forma, ser tão estranho que te faz sentir em casa… Sentes uma atracção inexplicável por esse pedaço de pedra… Indescritível… Tu és Esperança… 

Conforme te aproximas reparas que é uma catedral real e que, de facto, algumas partes estão completamente destruídas sobrando apenas os enormes pilares e pequenos troços da parede… Enquanto outras mantêm um esplendor digno das melhores histórias de literatura fantástica, suplantando o que imaginas ser o esplendor máximo de qualquer dos Extintos Impérios Mágicos… As pinturas que, agora, reconheces como sendo, claramente, de lápis-lazúli e ouro estão intactas e com uma luminosidade incrível, própria diria eu, parecendo brilhar entre o nevoeiro que cobre a noite… Tu és Ilusão…

Assim, olhada de um determinado ângulo a Catedral tem um porte imponente sobre a Cidade, quase se poderia dizer que domina sobre qualquer outro edifício, enquanto que vista de outro é apenas um amontoado de calhaus, dos quais sobressaem umas grandes colunas góticas… Vendo ambas as partes ao mesmo tempo a Catedral parece uma ferida aberta na Alma da Terra… Tu és Sangue…

Vejo claramente que não consegues resistir aproximar-te dela, sinto no teu olhar a atracção que essas ruínas te causam, embora não sintas nenhum tipo de familiaridade com o edifício em questão, nem de forma alguma aches que alguma vez o tenhas visto… Sentes que lhe pertences, da mesma forma que ele te pertence a ti… Uma forma de possuir e ser possuído só comparável aos gritos do primeiro amor… Tu és Coragem…

Entras por uma pequena abertura nas paredes, na zona mais destruída da catedral… caminhas directo ao seu Coração… Verificas que és incapaz de reconhecer os símbolos das paredes ou de associá-los a qualquer religião… Quando chegas ao que consideras ser a zona central… Talvez por estar rodeada de quatro colunas de mármore, sendo todas as outras de granito… Talvez por saberes… Tocas o mármore, e sentes as colunas quentes, como que a ferver no seu interior, de alguma forma sentes a pulsação da Terra nas colunas da Catedral… Tu és Elemental…

Verificas que o mármore, agora rosado, parece cintilar… A Terra parece tremer no exacto local onde te encontras, mas sem provocar qualquer perturbação nos restantes locais dentro ou fora da Catedral… As pedras que cobrem o chão da zona entre as quatro colinas começam a ceder e a cair em direcção ao infinito, se é que pode haver infinito em direcção ao interior da Terra… Quando sentes as pedras debaixo dos teus pés a cederem, também, fechas os olhos e recebes o último Abraço… Sentes-te, como que a flutuar numa corrente de ar quente… Uma mão acaricia-te o Rosto… Abres os olhos para veres este Anjo que te sustém… 

Tu és…

9 minutos

Ultimamente sonho muito… Muito, não! Sonho demasiado! Acordo de madrugada com o suor frio a incomodar-me as costas… E deixou-me ficar assim, mais lá do que cá… Ainda demoro um certo tempo a digerir o sonho… A despertar-me! Fico sempre na dúvida de quanto tempo será? É neste intervalo, enquanto a minha alma passeia entre o lá e o cá, que eu sonho na realidade… Sou capaz de ver com clareza o que aconteceu no sonho que me havia despertado momentos antes! Fico sempre com a sensação que passo horas neste estado de transe, sem que isto tenha uma repercussão directa no relógio que tenho à cabeceira da cama… Não deixa de ser impressionante a quantidade de momentos que posso viver nestes minutos! Chego a perguntar-me se será saudável… Chego a querer acordar e não conseguir, literalmente, lutando contra Eu mesmo… 

Foi assim que fiquei a primeira vez que te vi…

Vi o teu ventre bailar por entre as alucinações! Vi o teu sorriso, destacado pelos teus suaves lábios da batalha que pequenos heróis vestidos de branco travaram, tentando escrever os seus nomes nos grandes Livros de História.

Pequenos heróis vestidos de branco com, não mais que, alguns centímetros de altura a inscreverem a sangue os seus nomes na História!

Juntos percorremos o Mundo… Entregamo-nos um ao outro sem nos preocuparmos com as consequências…

Não sei se foi sonho ou alucinação, sei apenas que nos relógios humanos durou exactamente 9 minutos!

Nove minutos apenas chegaram para me fixar na tua beleza, para beber da tua vida como se não houvesse amanhã! Nesse “curto” espaço temporal as nossas almas tocaram-se… Doce alucinação, esta, que deixa até a minha alma a tremer! Sentir-te tão próxima de mim é algo de tão indescritível que chega a ser ridículo querer explicá-lo a mim próprio…

Por isso quero pedir-te que voltes a fazê-lo… Invade os meus sonhos e arranca-me o coração com as tuas mãos, bebe o sangue que o rodeia e toma-o como teu! Prefiro Não Existir em Ti, a fazer de conta que existo neste Mundo… Sei que parece patético, louco na melhor das hipóteses, inclusivamente pode ser desculpa, ou razão, para me internarem rapidamente! Mas, sinceramente, tudo isto sou Eu! Quando abro as asas e voo sobre este Mundo em que vivemos, a única coisa que procuro é a tua janela, com a luz, ainda, acesa à espera do meu abraço... A angústia da busca tolda-me o pensamento e a visão, tudo me parece uma série de fotogramas desfocados, com os quais sou incapaz de construir um sequência lógica… Sei apenas que busco o teu quarto, quero entrar nesse ninho e… 

Cheirar a tua Alma, Tocar o teu Pensar, Ouvir o teu Sangue, Saborear o teu Chorar, Ver o teu Ser…

 Quero ser os teus olhos e não chorar nunca!

Quero ser o teu sorriso e não parar nunca!

Quero ser o teu coração e não sofrer nunca!

Quero ser Tu e não deixar de ser Eu nunca!

Quero gritar e fugir, mas não tenho força… Quero chorar, mas não tenho lágrimas… Quero morrer, mas não tenho onde… Quero o Mundo, mas não tenho onde o guardar... Quero um sentido, mas estou no centro… Quero-te a ti! Quero-nos a Nós!

Quero ser Eterno e, contigo, gozar com esse Velho a quem chamam Tempo! Quero ser deus e oferecer-me a Ti como o Escravo que mereces! Quero ser Nada, Todo Eu um Livro em Branco, para que em mim possas escrever o Homem que Sou!

 E tu?

terça-feira, outubro 14, 2008

II Jantar Tertúlia d' Revista P.E.N.A. - 8 Novembro



O grande Jantar Tertúlia da Revista P.E.N.A. aproxima-se a passos largos, é já dia 8 de Novembro!

Convidamos todos os visitantes do BLOG para comparecerem a partir das 18h com um livro, uma música e usufruírem de todos os prazeres literários.

A música pode ser enviada para o seguinte email: geral(arroba)com-palavras.com até dia 31 de Outubro. Serão posteriormente reproduzidas durante o evento.

Para confirmarem a vossa intenção de ingresso utilizem o seguinte formulário: https://spreadsheets.google.com/viewform?key=pP6Diq10Foq2tzoGtYD85AA

Haverá à disposição: entradas, jantar (com bebida à descrição), sobremesa e café.
O ingresso terá o valor simbólico de 13 euros por pessoa.
Local: Alessandro Nannini - Baixa de Lisboa (maps)
A duração máxima da Tertúlia serão 4-5 horas (fecho do estabelecimento: 23h).

Para os estreantes, estou certo que irão adorar!!
Fico a contar com a vossa participação!

segunda-feira, outubro 13, 2008

À hora certa no lugar errado... (AZAR!)

Quilómetros percorridos a correr...
Sem tempo, para disfrutar.
A mente farta de lutar,
Os olhos já a ceder.

Milhas já gastas, usadas,
Para chegar e fugir,
Desfazer a mala e partir
Sem as novas aguardadas.

Meses calcorreados no calendário,
Metros de papel estendidos...
Dias, dias, mais dias perdidos,
Preenchendo o imaginário.

Um homem sempre apressado...
Parti!
Cheguei!
Voltei!
FUGI!
À hora certa, no lugar errado!

terça-feira, outubro 07, 2008

Petrificando a memória



Sinto o húmido aviso...
Depressivo e sentido.
Sinto-o quente, o sorriso...
Relampejando adormecido!

Áspero, o teu rosto...
Imaculado e bonito.
Entristece no desgosto...
Petrificando como granito.

Entoa na lembrança...
No eco intemporal!
Optimismo é esperança,
O pessimismo imortal!

sexta-feira, setembro 26, 2008

Soneto

Tem livros e revistas,

Tem comida e bebida,

Tem poetas e artistas,

E também tem muita vida!

 

Tem ouvintes e leitores:

Uns activos… Outros passivos…

Já se ouvem os rumores,

Mas não há lugares cativos!

 

D’A P.E.N.A. tinha de ser,

Esta festa tão animada!

Pois sete anos vai fazer!

 

Traz de lá a tua amada,

Venham somar-se à agitação!

Não se esqueçam dum livro na mão…

quinta-feira, setembro 25, 2008

Tens o resto da tarde para sair daí

Gosto de um guarda-chuva grande, daqueles com um bico. E de ir para à praia com frio. Quando a chuva acaba dá para escrever o teu nome na areia molhada. Lembro-me da extrema violência que me invadia quando o fazia. Tão bem que as minhas mãos não a conseguiam afugentar. Os dedos tão gelados e tão fortes.
Nunca medi tanto as palavras, não fosse alguma matar-me de arrependimento, mas a verdade é que vi sempre o meu nome, por aí, à procura do teu. Triste, cabisbaixo, taciturno, em penitência. Quando somos novos, mostramos a paixão com orgulho no meio da rua, no autocarro, na sala de aula. Mais tarde, vivemos a paixão errada no sítio certo à hora errada. Problemas de tempo. E eu gosto de me rever todos os dias a polir as horas em busca da perfeição. À procura de ti. E só vejo a minha alma a trair-me com as tuas recordações. Já dei uma parte de mim para te ter. A mais valiosa. Só que, às vezes, sinto-me forte, capaz de enfrentar o mundo nesta minha condição de mutilada; noutras cedo ao pânico.
Todas as pessoas têm dentro terrenos baldios. Espaços sem dono, vazios e extremamente reveladores. Como as caixas de sapatos - não pelo que são, mas pelo que conseguimos lá guardar. É aí que moram bilhetes com apenas um verso, cartões com despedidas, rosas secas, fotografias, cartas por enviar. As primeiras lágrimas, os primeiros sonhos de gente grande e a inocência que, a páginas tantas, nos traiu.
Todas as histórias belíssimas são dramáticas. A nossa não fugiu à regra, fugiu-nos a nós. Para bem longe. E o problema é que nunca fizémos amor.
O grande trunfo do Amor foi convencer as pessoas que não mata. Mas, mata e cega e eu preciso que tu me cegues. De alguém que me prive da realidade e me faça sonhar. Tens o resto da tarde para sair daí.

Vanessa Pelerigo

terça-feira, setembro 23, 2008

Foto Vencedora - II Tertulia d' A Revista P.E.N.A.

A fotografia vencedora:
Obrigado a todos pela colaboração.

Nos próximos dias será apresentado o flyer promocional, fiquem atentos!!

sexta-feira, setembro 19, 2008

Votação de Fotos - II Tertulia d' A Revista P.E.N.A.

Boas,

Recebi poucas fotos (6 a contar com as minhas) o que me surpreendeu pela negativa, esperava mais alguma receptividade...
Como o prometido é devido vamos submeter as fotos a votação.

As regras são: os Autores não podem votar na deles próprios; devem atribuir um valor de 1 a 4, sendo que o 4 é a nota mais alta; A votação terminará dia 22 deste mês; só serão validados votos que sejam assinados e reconhecíveis.

Fotos do Artur (A e B)



Fotos André (C e D)

Leonardo (E e F)

Boa votação!!!

segunda-feira, setembro 15, 2008

Uma estrela

Tatuei uma estrela no ombro, na esperança de inventar a eternidade na minha pele. É quase sempre assim: deixo-me levar pelas dores que me pontuam a vida e pelos sonhos imperfeitos. A definhar de mocidade, nos restos da noite. Ponho-me a olhar para fotografias à espera de qualquer coisa conhecida como o crepitar das chamas na noite do mundo. Uma voz a balbuciar-me o teu cheiro. Rostos a arderem devagar na minha memória cheia de saudade do que não foi. Se te expulso dela, então não me restará mais nada.
É inútil dizer que o tempo tudo cura. Há dias em que se esquece dos sulcos cravados no coração, das cicatrizes no rosto da alma, mas depressa faz frente a uma esperança impossível e tudo acende. Tudo desperta, até a ave magoada. E eu, sem conseguir respirar. Um aperto que me carcome os sentidos.
O que me falta é outra coisa qualquer. Espero. Respiro. Apenas um ranger de dentes na voz exaltada do amor. Um amor quase sempre a sucumbir no teu regaço. Gosto de ti, sem conseguir explicar porque ainda gosto e porque me recuso a deixar de fazê-lo. Foi sem querer que me comovi. Mas, eu sabia que isto não podia durar para sempre. O Inverno sempre arranja maneira de se anunciar nos meus olhos. E um silêncio para poder gritar.
Não consigo dormir e acabo por me desvelar na hesitação da escrita.

Vanessa Pelerigo

terça-feira, setembro 02, 2008

Quando...

E quando queria saborear
Esse teu rosto fechado,
Rasgava-te os lábios
Com meus dentes afiados.

E quando queria rasgar
Esses teus lábios encarnados,
Beijava-te de paixão
Enquanto rebolávamos no chão.

E quando quis sentir
Esse teu corpo perfeito,
Abri com as garras
Esse teu branco peito.

E quando a paixão
Foi embora de meu corpo
Atirei-me com teu cadáver
Para o fim do rio da dor...

quinta-feira, agosto 28, 2008

Ombro

No frio do amanhecer
Uma insónia te domina.
Algo te faz tremer
Assustada, como uma menina.
[Sossega, meu amor…

Um suspiro leve e alterado
Que me desperta.
Um murmúrio baixo e sobressaltado
Que me aperta.
[Aproxima-te, meu amor…

Aconchega-te no meu ombro
Enquanto te beijo o rosto.
Esquece esse teu assombro
Que o sol ainda está posto.
[Dorme, meu amor…

terça-feira, agosto 05, 2008

A Música (descrição de 4 minutos de prazer)

Som....
Uma guitarra electrizada.
Ritmo...
Uma bateria endiabrada.

Solo...
Respiração de emoção. 
Voz...
Uma magia teatral.

Música...
Abordagem espiritual.
Refrão...
O momento de reflexão.

Sinfonia...
Pura acção dos sentidos.
Harmonia...
Descanso meus ouvidos.

quinta-feira, julho 24, 2008

Lamento

Preenche-me o vazio que há na minha alma… Nesta noite quente em que a Lua me roubou as Estrelas…

Lamento desiludir-te, mas não sou Cyrano D’Bergerac… Não tenho, ao contrário dele, jeito com a espada e muito menos com a pena…

Sou apenas um homem… Este homem, com um pouco de cientista, outro tanto de artista e nada de poeta… A única poesia em mim existe no teu olhar, no teu sorriso, nas tuas mãos… No teu corpo dançando ao vento coberto por um manto de seda! O teu sorriso não é mais que uma forma na tua cara! Eu, vejo-o perfeito… Assim como vejo a ondulação do teu ventre…

Lamento desiludir-te, mas não sou Dorian Gray… Não tenho, ao contrário dele, uma beleza irrepreensível e muito menos guardo em mim o segredo da eterna juventude…

Sou apenas este que te olha com ternura… Possuo em mim apenas a vontade… O desejo de ser livre como o vento… De ir contigo… De Ser contigo… De deixar este garfo e este copo de uma qualquer bebida fermentada e sair daqui! Ir até onde Selene não nos roube as estrelas… Onde não faça tanto calor e possa ouvir o bater do teu coração por entre a ondulação do mar…

Lamento desiludir-te, mas não sou Romeu… Não sou, ao contrário dele, puro Amor, e muito menos seria capaz de morrer por ti…

Sou apenas alguém, que por um golpe de sorte ou azar se apaixonou por ti naquela praia! Sou apenas este alguém, que um dia ousou sonhar contigo! Ainda recordo o sabor da tua boca, mas já não sinto o bater do teu coração…

Lamento desiludir-te, mas não sou Hércules… Não sou, ao contrário dele, filho de um deus e muito menos tenho a sua Força…

Sou apenas mais um no meio da multidão… Certamente vês em mim o nada que sou…
Sou apenas filho do pó que cobre o asfalto e que um dia quis ser vento… A minha única tarefa é esperar pelo próximo carro e tentar voar um pouco mais…

Lamento desiludir-te, mas não sou O Rei Artur… Não tenho, ao contrário dele, o coração cheio de Virtude e muito menos a sua Bravura…

Sou apenas um homem com todos os defeitos inerentes e pouca ou nenhuma virtude… Com uma Vontade que nem o próprio corpo respeita!

Lamento desiludir-te, mas não sou Tom Swayer… Não sou, ao contrário dele, livre e muito menos tenho a ingenuidade de uma criança…

Sou apenas uma lembrança do jovem que fui um dia…. Como o Leão do jardim zoológico! E, que mais é a lembrança, senão o medo de esquecer? Sou apenas um homem com medo de esquecer o jovem que fui um dia… Com medo de esquecer a criança que queria mudar o Mundo!

Lamento desiludir-te, mas sou apenas este homem!

quarta-feira, julho 16, 2008

Tributo ao soldado perdido

Soldado que velas os mortos
num campo de batalha esquecido
Soldado que proteges os vivos
num campo de batalha afastado
Soldado que esqueces os amigos
num campo de batalha isolado
Soldado desconhecido
que morres sozinho
num campo, de teu sangue, encarnado

quarta-feira, julho 09, 2008

Para a Bruxa Encornada

Mel que escorrega viscoso pela alva pele
da Usina que te aquece o corpo quando o arqueias
quando te percorrem essas mãos delicadas
quando mergulha, essa tua musa, por entre as tuas pernas
donde brota esse mel...

Mato espesso que outrora era
aparado à força de dentadas violentas
que essa tua amiga te dava
quando nas costas cravava profundas
garras afiadas em tons de verniz escarlate.

Armações, dos antigos xamãs europeus
Cornos ornamentais pendurados nas casas das bruxas
Aquelas que comiam os filhos que não querias ter
Aquelas que te conduziram até onde não sabias ir
Aquelas que te percorreram o corpo, te furaram vezes e vezes sem conta
Com a sua língua afiada
Aquela outra que não vias na tua cama deitada
Que te deixou hoje uma mulher frustrada
E dos filhos dele será sempre a mãe amada...

sábado, junho 07, 2008

Levante

(ou Visão em Ti)

Visão de Ti:

Sinto o teu perfil com o olhar
Vejo a tua forma com as mãos
(beijo a tua forma com as minhas mãos!)
Deixo-me percorrer o teu perfil enquanto a minha mente se perde nos teus olhos
(desenho-te com as minhas mãos enquanto me prendo ao teu olhar!)
Vejo a tua mão sobre a minha
(beijo a tua mão com a minha!)
Sinto o rubor na tua face, e oiço os teus lábios húmidos a esperar um beijo… A esperar este beijo, que não te dou por timidez… ou pura estupidez!
Sinto o calor sufocante da paixão adolescente que nos aproxima… Que nos prende um ao outro, que não nos deixa sair, e nos impede de ficar!
Penso as mil e uma palavras que quero dizer-te, mas aquele nó… Este nó no estômago impede-me até de as sussurrar!
O pânico sufoca-me… Sufoca-nos! É um remoinho de paixão!
O vento acaricia o teu cabelo e desenha as tuas formas!
Como desejo ser esse vento… A abraçar-te eternamente!
(o vento, no seu abraço eterno, modela-se a ti… flúi por ti… quero ser esse abraço!)
Quero viver em ti… quero libertar-me destas palavras… Sussurrar-te ao ouvido mil baboseiras, que talvez não oiças…
(quero libertar-nos deste pânico sufocante… Talvez este vento guie as minhas palavras até aos teus ouvidos… talvez as oiças finalmente!)

Visão sem Ti:

O teu perfume inunda os corredores… As tuas cores espalham-se por todo o lado… Sinto a tua presença e percorro estes corredores à tua procura… À minha procura…
(cheiro a tua presença… percorro os corredores deste manicómio como o louco que sou… procuro-te em vão nesta noite gelada…)
A imagem da tua mão na minha inunda-me a mente… A visão daquele beijo persegue-me até à loucura…
DEIXA-ME VOAR! DEIXA-ME VOAR! DEIXA-ME VOAR!
Liberta-me desta prisão… Sê a Estrela do Norte na minha noite escura!
(perdido, busco em vão o teu olhar… persigo a tua presença, o teu calor!)
Sinto a tua presença tão próxima… o coração atropela-me o pensamento…
Umas mãos trémulas seguram um coração acelerado…
(as minhas mãos seguram-me o coração perdido!)
Tenho medo… Sinto pavor de não voltar a sentir-te…
(talvez nada disto seja verdade… talvez seja tudo imaginação… talvez nada tenha acontecido… talvez te tenha criado eu!)
E tu? Pensas em mim agora? Onde estás? Sentes as nossas almas a voar junto daquela estrela?
Eu não sei se sinto… Já não sei o que sinto…
(saudade?)

Nada faz sentido aqui… Sem Ti!

Visão em Ti:

Quero voar contigo….
Quero sentir o calor da fusão das nossas almas…
(sentir o elixir da vida a percorrer as artérias)
Sentir-nos!

Um dia, quando o Sol nascer, em uma qualquer praia do mediterrâneo
(um dia, se enquanto o sol nasce nesta praia do mediterrâneo!)
O Levante acariciar o teu cabelo
(o levante bailar no teu cabelo)
A tua mão beijar a minha
(a tua alma beijar a minha)
Sentir-te vibrar quando as nossas mãos se toquem…
(sentir o pulsar do teu coração quando as nossas mãos se beijem!)
Os nossos olhos perdidos, pela timidez que nos impede de olhar directamente o outro… Talvez vendo aquela gaivota que sobe e desce na linha do horizonte…
(talvez imaginado o nosso beijo)

Um dia… Apaixono-me por ti
(nesse dia… transformo-me neste vento e prendo-me a ti num abraço eterno!)

sexta-feira, maio 09, 2008

Horas mortas

Refugio-me nos credos de outrora,
Fugindo ao presente que me persegue
Repetindo gestos, retomando acções
As horas mortas, As horas tristes
E no amanhã que se avizinha
Fascinam-me os mistérios
Do tempo que já passou
As horas mortas, As horas tristes
E no exercício da palavra esquecida
Encontro em mim o que já fui
O que sou e o que procuro ser
As horas mortas, As horas tristes
E neste tempo tão gasto
Pleno de escuro e de medo
O passo em frente é sempre o errado
As horas mortas, As horas tristes
E não há sentido
E não há razão
Encerrado
N’As horas mortas, N’As horas tristes

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segunda-feira, abril 28, 2008

Guerra de Irmãos

Uma névoa fria banhava aquela manhã. No alto do monte, cuja relva ia perdendo os tons rubros da batalha que aí se desenrolara, encontraram-se finalmente, após todos estes anos. Olharam-se olhos nos olhos e o que viram nos do outro foi uma escuridão imensa. Olharam-se como os irmãos que eram. Como irmãos que não se falavam havia já muito tempo, demasiado tempo... Tempo em que haviam deixado que os seus exércitos se travassem de razões, um pouco por toda a parte, por um motivo que já nem era claro nem para um, nem para o outro. Ao seu redor os corvos e as aves de rapina banqueteavam-se! Parecia impossível, mas apenas restavam dois. Naquele campo, onde durante uma semana homens lutaram, homens morreram, homens entraram para a história, apenas dois restavam, eles os dois, que haviam começado aquela guerra, seriam também quem acabaria finalmente com ela.

Soprou um vento frio que arrastou os largos cabelos que ambos possuiam. Não diziam nada, olhavam-se. Não sabiam bem o que procurar na cara do outro. Podia ser que se lessem, podia ser que travassem um duelo mental, podia ser que procurassem perdão.
Não há perdão, não houve, nem nunca haverá à face da Terra quem possa perdoar os dois irmãos. Só Deus, se algum dia diante d’Ele se encontrarem, os poderá perdoar. As histórias que se contam é que o motivo pelo qual a guerra durou tanto tempo é porque o próprio Diabo os expulsou do Inferno. Ninguém diria no entanto que se enfrentavam os dois seres mais malévolos que já caminharam à face da Terra. Ambos pareciam jovens, mas cansados. Via-se que o peso de muitas batalhas lhes dobrava as costas. Via-se no seu ar muitas almas que clamavam por vingança.

Um clamor surgiu então nesse monte. Nos campos em redor, os mortos pareceram levantar-se, as suas armaduras quebradas a tilintar, os seus ossos pendurados e inertes mas as suas almas a clamarem por paz. Ambos os irmão souberam o que os mortos pediam e ambos viram aí o prenúncio do que aconteceria... perceberam então que, todos estes anos, mais não fizeram que adiar o inevitável. Teriam de ser eles a acabar com o derramamento de sangue. A altura de mandar outros para a chacina havia terminado...

Começou o da armadura negra por retirar a mesma. Ficou em tronco nú, segurando apenas uma espada larga, feita mais para ser usada como moca e como espeto do que objecto de corte. O da armadura branca pareceu anuir ao desafio e retirou a sua armadura e ficou a segurar uma espada em tudo idêntica à do seu irmão. Olharam-se mais uma vez longamente. Não havia entre eles receio, havia sim algo que os impedia de se lançarem um contra o outro. Finalmente, depois de tantos rios de sangue derramados perceberam que matar só era fácil quando não é o nosso sangue o derramado. Avançou então um, difícil dizer qual no meio da neblina e sem as armaduras que os identificavam, e o outro respondeu com um passo igualmente seguro em frente.

O vento era agora mais forte e trazia as vozes dos milhares de mortos que clamavam por vingança, já nenhum defendia um dos irmão, mas sim a morte de ambos! Ambos sentiam um frio maior do que aquele que lhes arrepiava a pele. Naquele momento era algo maior que eles que ali estava em questão e cada um lutava contra os milhares de mortos que causara no exército do outro. Apenas eles haviam sobrevivido, não porque fossem generais que não lutam, isso não, ambos investiam a pé, na frente dos seus exércitos, não, a explicação era outra... Ambos haviam sido treinados pelo mesmo mestre, o maior general do seu tempo e ambos haviam sido o seu maior discípulo. Dominavam todas as armas conhecidas como nenhum homem do seu tempo, mas aquelas espadas eram a fonte de toda a discórdia. Ambas possuiam poderes mágicos, que faziam do seu portador invencível. Ciente de que tal poder nas mãos de um só homem seria perigoso para todos os outros, o general havia oferecido uma a cada um dos seus discípulos. Não tardou que cada um desejasse para si a espada do outro e daí até à Guerra dos Irmãos foi um passo.

Muitos anos haviam passado e ambos haviam liderado os seus exércitos, recrutados com promessas de glória e fortuna, mas nunca revelando o poder das espadas aos seus soldados ou generais, muitas gerações de homens passaram e a Guerra dos Irmãos tornou-se na Guerra Eterna, travada entre exércitos maiores do que a imaginação consegue visualizar e sempre com duas figuras eternas a liderar. Dizia-se que era uma luta entre o Bem e o Mal, com o Mal a ser sempre o irmão opositor. Havia lendas construídas em redor de batalhas lendárias daquela guerra, mas aquela, no Monte Nodegamra seria a última, as espadas invencíveis conheceriam hoje a derrota.
À medida que se digladiavam o cansaço apoderava-se de ambos por igual medida. A cada um a espada ia sugando o que lhe restava de vida. Continuaram naquela dança macabra por dias e dias até que finalmente e em simultâneo, tolhidos pelo cansaço, tiveram o mesmo movimento em falso, rapidamente aproveitado pelo irmão para enterrar a espada no seu coração...

terça-feira, fevereiro 26, 2008

O contrário de mim não existe

há todo um fogo imenso dentro do trovão,
um coração escondido nestas noites que inundam a pele,
sem grito,
a morrer de ti

só luz nacarada
nas ruas desertas do meu rosto,
na pressa dos dedos.

é impossível não tentar dizer-te
tenho medo
medo que me persigas a vida inteira
na tela do teu colo

o corpo à escuta como algo eterno
numa rotina sem remédio

é o passo em falta que demora a tua fuga,
o traçado dos poemas
a tomarem forma
sem bojo

os dias não avançam,
sangram
só doem

Vanessa Pelerigo

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

HOJE À NOITE

Hoje à noite vi-te no teu quarto.
Estavas só, sem ninguém...
Para lá de ti só eu,
Com os meus olhos, a ver-te ao longe.
Percorri as tuas costas enquanto
Te despias com desdém.
Queria ter-te comigo num quarto meu
Onde a distância me deixasse abraçar-te.

Hoje à noite vou sonhar contigo.
Vou-te ter aqui, abraçar teu corpo
branco e robusto, cheirar os teus cabelos perfumados,
Amarra-te à cama e ficar a olhar-te.

Hoje à noite vais ser minha!
Vou-te possuir de todas as formas,
Seremos pela noite dois animais com o cio.

Hoje à noite será a noite em que venço esta distância!

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Estranha cidade...

Depois de um voo atribulado, devido ao mau tempo que se fazia sentir em toda a região, tinha chegado finalmente à cidade que me iria acolher nos próximos dias enquanto participava num congresso de história medieval. O terminal de aeroporto era bastante amplo e apresentava diversas indicações em inglês sobre o câmbio para a moeda local, tempo que se fazia sentir (bem frio e chuvoso por sinal), indicações sobre os transportes que faziam a ligação do aeroporto ao centro da cidade, entre outras indicações úteis para o viajante desprevenido. Depois de recolher a bagagem dirigi-me à zona de câmbios do aeroporto onde fui atendido por uma funcionária:

- I wanted to change 200 euros what is the changing rate?

- Can’t you see it on the screen?!

- It’s your job telling me the changing rate; if you can’t do it pick another job.

Depois de quase fazer um requerimento por escrito a apresentar queixa da funcionária lá consegui que me trocasse o dinheiro que necessitava. Dirigi-me para o terminal de táxis esperando que esta primeira impressão não se confirmasse ao longo a minha estadia. Mal cheguei ao terminal apanhei o primeiro táxi que apareceu

- Hotel Panorama please

Era notório que o taxista não dominava bem a língua inglesa mas havia compreendido o meu pedido que era o que interessava. Dirigíamo-nos para a cidade propriamente dita visto o aeroporto ficar nas redondezas da mesma, a cidade era esplendorosa onde se destacava uma mistura de edifícios do antigo regime comunista, grandiosas catedrais, castelos e museus. As ruas estavam perfeitamente alinhadas umas com as outras e a simetria e consonância entre os edifícios davam à cidade um aspecto geométrico, artificial, como se de uma maqueta se tratasse. Enquanto me admirava com o aspecto geral da cidade não pude deixar de notar que o taxista que me conduzia estava bastante concentrado naquilo que estava a fazer, e para além disso gesticulava com todo e qualquer taxista que lhe aparecesse pela frente, como se fosse algum código secreto entre eles, se umas vezes acenava, outras vezes mandava avançar ou parar como se de um policia sinaleiro se tratasse, o mais estranho é que os outros taxistas se comportavam da mesma maneira, que estranho todo aquele panorama! Tínhamos chegado ao hotel, era um hotel relativamente recente com um hall de entrada amplo, dirigi-me à recepção onde se encontrava um homem bastante delicado, para não dizer efeminado, que me atendeu:

- Good afternoon, I booked a room, my name is Pedro Alcântara.

- Let me check the files….check in confirmed, your room is the 221, our team wish you a pleasant stay…just one more thing, you can also book here the return flight if you wish.

- I’ve already booked the return flight; just don’t forget to add me to the wake up list

- Ok

Subi até ao meu quarto, era pequeno mas com tudo o que para poder passar ali alguns dias. Arrumei todos os meus pertences, tomei um banho e resolvi ir jantar fora do hotel até para conhecer um pouco melhor aquela estranha cidade. Ao sair para o exterior não pude deixar de notar que o frio era cortante, de modo que me dirigi com passo estugado até à avenida principal, onde estavam alguns restaurantes, entrei num bastante castiço com mesas que mais faziam lembrar enormes troncos de árvore cortados longitudinalmente onde me sentei e fui atendido por uma bela empregada, que me cumprimentou na sua língua

- dobrá nocní

- Do you speak english?

- A little bit

- I want a Svikova and a krusovice beer. Did i pronounce it correctly?

- You did it well but we say Svicková

- I won’t miss it next time

Comi bem e bebi ainda melhor, antes de pagar a minha conta fui à casa de banho do restaurante, era um bocado estranha pois para fazer o que mais ninguém podia fazer por mim tinha duas opções, tinha um compartimento com uma porta que isolava todo o cubículo; e tinha outro cuja porta que ficava a meia altura e que também tinha abertura por baixo. Por que carga de água havia duas portas tão diferentes na mesma casa de banho? Seriam duas casas de banho, uma para pessoas que requerem maior privacidade e outra para pessoas menos recatadas…deixei-me de pensamentos profundos, afinal já tinha ultrapassado a minha cota de álcool. Paguei a minha conta e saí. O frio tinha-se acentuado, mesmo para quem tinha comido e bebido bem, de modo que não tive outra alternativa senão acelerar o passo, aquela era uma zona de bares e restaurantes assim que havia uma certa animação apesar do frio, reparei que em todos os bares e night-clubs por onde passava havia uma espécie de angariadores de clientes e mais estranho ainda, e sem ser racista, eram todos pretos, e eu que desde que chegara à cidade não me lembrava de ter visto algum, pelo menos durante o dia, parece que se tinham reunido todos àquela hora naquele local, resolvi tirar uma foto daquele cenário estranho. Estava a começar a achar aquela cidade mais estranha do que seria de esperar para uma cidade estrangeira.

No dia seguinte levantei-me cedo, afinal a conferência a que me tinha proposto participar iniciava-se praticamente ainda de madrugada. Saí do hotel, à entrada estava um grupo de policias a multar um carro que estava numa posição bizarra: primeiro estava numa zona para peões bastante afastado da estrada propriamente dita, em segundo o carro estava numa posição pouco ortodoxa, apoiado exclusivamente na duas rodas de um dos lados, e com as restantes apoiadas sobre um pequeno parapeito, os polícias tiravam fotos daquele cenário quando pararam de o fazer para olhar para mim com ar inquisidor como se fosse eu o dono daquele carro, resolvi não pensar mais no assunto e concentrar-me na minha palestra agendada para aquele dia. Cheguei ao centro de conferências, na universidade local ainda a tempo das primeiras apresentações, o ambiente estava ao rubro pois ali estava em causa a preponderância que cada país tinha tido na idade média, assim não era de estranhar que o período de discussão e dúvidas fosse mais extenso do que a exposição propriamente dita. A minha palestra era “Inquisição, uma herança actual” aproveitei para improvisar um pouco sobre aquela terra e sobre a herança do antigo regime comunista daquele país, obviamente os estudiosos locais não gostaram da minha intervenção e aproveitaram para criticar o comportamento da Inquisição em Portugal, obviamente toquei-lhes no nervo, e as consequências foram imprevisíveis, pois este é um povo que não esquece… Após alguma discussão acesa a situação pareceu acalmar e a normalidade aparentemente voltou ao anfiteatro. As palestras foram-se seguindo dentro da normalidade, no fim pude dar-me satisfeito com a minha intervenção e com aquilo que havia aprendido. Terminadas as conferências, voltei para o hotel, desta vez trovejava e a meio caminho do hotel começou a chover abundantemente tal como se me fosse cair o céu em cima. Cheguei ao hotel completamente encharcado, no preciso momento em que havia cessado de chover, e eu lamentava-me para com os meus botões do desafortunado que havia sido.

Depois de um banho quente e ter trocado de roupa dirigi-me para o restaurante do hotel, estava apinhado de gente, algumas caras tinha-as visto na conferência. Servi-me do buffet com comida de todo o mundo desde a famosa paelha espanhola, passando pelo porco alemão, ou os bifes de carne picada russos, sem esquecer o chapati indiano. Servi-me de um pouco de cada coisa e sentei-me na minha mesa. Estava um grupo a falar atrás de mim, falavam todos em inglês mas com pronúncias provenientes de diversas partes do globo e estavam a ter uma conversa bastante estranha:

- …he’s Portuguese, is an historian and since he arrive this city is getting trouble in each corner he passes…

Fiquei perturbado com aquelas palavras, as semelhanças comigo eram evidentes, mas não era possível, não os conhecia de parte alguma nem sequer de os ver nas conferências de hoje, tinha de ser outra pessoa. Terminei de jantar e fui à recepção onde estava o mesmo homem efeminado que havia encontrado na chegada.

- Good evening I wanted to use internet.

- Ok, you can use the pc in that corner

E apontou-me para um computador no outro extremo do hall de entrada

- It’s 0.75 cents each 10 minutes, you need to insert a coin in the machine near the pc

- Ok, thanks

Fui para consultar o meu e-mail, estava à espera de receber alguns mails importantes da faculdade e não podia esperar mais. Inseri a moeda e abri o browser, fui para a minha conta de e-mail e quando ia para a minha caixa de entrada, retrocedia na página para a que tinha estado anteriormente. Tentei uma e outra vez sempre com o mesmo resultado. Consultei as minhas outras duas contas de e-mail, e precisamente quando estava para entrar na minha caixa de entrada, o browser recuava para a página anterior. Era impossível todas as minhas contas de e-mail terem o mesmo problema, voltar para trás precisamente quando estava para entrar na caixa de correio. Podia alguém estar a controlar as páginas que ia abrindo?! Nunca tinha visto tal coisa, mas já estava num estado em que desconfiava de tudo e todos. Olhei para o recepcionista e efectivamente estava ao computador, levantei-me rapidamente e dirigi-me a ele. Quando me viu aproximar ficou meio atrapalhado.

- I’ve a problem using the browser; i can’t access my e-mail accounts, and all of them have the same problem, when I try to go to the inbox it returns to the previous page.

- Let me try

O funcionário dirigiu-se ao computador e tentou entrar na sua conta de e-mail, e conseguiu.

- I can’t see any problem with the pc.

- Just a moment let me try again

Enquanto o recepcionista estava comigo consegui abrir a minha caixa de correio

- Now i can open my inbox, strange…

Depois de consultar o meu mail, resolvi ir para o meu quarto. Tinha sido um dia estranho, mais um desde que chegara àquelas paragens, e por muito que me tentasse abstrair, vinha-me sempre ao pensamento aquelas estranhas palavras no restaurante ou o episódio da Internet, para não falar em todos os outros pequenos detalhes que faziam daquele lugar um sitio bizarro. Praticamente não consegui pregar olho toda a noite, noite de trovoada incessante.

Levantei-me de manhã cedo, aquele era o último dia conferências, que hoje recomeçavam depois de almoço, aproveitei a manhã para trocar mais alguns euros e decidi fazê-lo fora do hotel, em busca de uma taxa de câmbio mais baixa e também ficar a conhecer melhor a cidade, também o banco mais próximo não poderia estar muito longe. Procurei pessoas mais novas pois em principio essas saberiam falar o inglês. Passei por uma bela jovem e perguntei:

- Where is the closest bank?

- I don’t know, sorry

Continuei em direcção a um ponto central pois ai teria mais hipóteses de encontrar o almejado banco, pelo caminho encontrei outro jovem ao qual lhe perguntei:

- Where is the closest bank?

- I don´t know

Parecia ser uma resposta recorrente, mas será que toda a gente desta cidade tinha o dinheiro debaixo do colchão?! Tentei perguntar mais algumas vezes mas a resposta foi sempre a mesma, já me sentia como se fosse um pedinte a mendigar por uma indicação que teimava em não chegar, a propósito de pedintes, todos os que havia visto tinham o mesmo comportamento, ajoelhavam-se de cabeça baixa em frente a um chapéu ou algo que lhe valesse, onde recebiam a esmola; era uma cidade muito uniforme em termos de comportamentos, não havia grande margem para a diferença, e eu realmente ali sentia-me um estrangeiro. Depois de andar uma hora à procura sem sucesso decidi voltar ao hotel, e pagar uma taxa mais elevada. De regresso ao hotel, parecia ver no semblante das pessoas que se cruzavam comigo um sorriso de troça. Seria impressão minha pelo cansaço acumulado e pelo acumular de situações estranhas que havia vivido desde que chegara àquela cidade.

Cheguei ao hotel e na recepção fui ver se me trocavam 70 euros, seria o que precisava até sair daquele país. Mas a resposta foi contundente

- We don’t have the exchange service available because of technical problems

Realmente estava atado de pés e mãos, só com euros no bolso não me iria safar naquele país. Resolvi não pensar muito mais no assunto, não ia adiantar nada. Dirigi-me ao centro de conferências e procurei alguém que estivesse interessado em trocar alguns euros, mas de todos a resposta foi a mesma.

-“I didn’t brought the wallet”

Aparentemente ninguém queria colaborar comigo e toda aquela maré de infortúnio tinha começado depois da minha intervenção no dia anterior na conferência.

No final das conferências voltei para o hotel, jantei qualquer coisa e fui para o quarto arrumar as coisas a fim de no dia seguinte de manhã regressar a Portugal. Só tinha euros no bolso, o positivo é que podia pagar a conta do hotel em euros, mas o transporte para me levar ao aeroporto é que forçosamente teria que pagar com a moeda daquele pais, o aeroporto distava do hotel mais de 13 Km’s.

Na manhã do dia seguinte, depois de tomar o pequeno-almoço, dirigi-me à recepção a fim de ver se o serviço de câmbios já estaria operacional. Atendeu-me o mesmo recepcionista efeminado:

- Hi, the exchange service is already available?

- No, I’m sorry

- Where can i exchange some euros?

- In this zone there is no such place apart from the hotel, only in the city center in some bank or exchange house.

- Today is Sunday I don’t think I’ll have any luck. There is the possibility to call a taxi that accept euros?

- The telephone line is down since yesterday

- There is something working in this hotel?!

- I’m sorry

- I also wanted to check out and to pay in euros

- Just a moment

it’s 120 euros

Paguei a minha conta de má vontade e decidi voltar a tentar a minha sorte lá fora. Tinha partida de avião às 13h00, era naquele preciso momento 9h00, teria que me apressar se o queria apanhar ainda hoje. Resolvi tentar apanhar um táxi e simplesmente perguntar se aceitava euros. E foi o que aconteceu mas a resposta infelizmente não me surpreendeu.

- I don’t accept euros!

Ainda tentei abordar mais dois taxistas mas as respostas foram tiradas a papel químico da primeira. Resolvi tentar o autocarro, tinha uma ideia dos números dos autocarros que me levariam ao aeroporto. Entrei pela porta de trás de forma ao condutor não me ver, o autocarro estava apinhado de gente que me fitava com olhar reprovador, ouvia alguns comentários na língua local que percebia virem dirigidos a mim muito embora não soubesse o que significavam. Numa paragem mais à frente vi entrar o revisor, que mais me podia acontecer, parecia a vingança perfeita…. Antes do revisor me abordar saí numa paragem algures, já nos arredores daquela cidade. Não devia estar muito longe do aeroporto, de maneira que procurei alguém que me indicasse o caminho para fazer a pé, já carregava a minha mochila há um par de horas, assim quanto antes chegasse ao aeroporto melhor. Encontrei um transeunte ao qual me dirigi:

- The airport please!

- I don’t know

Aquele ritual de conversação com transeuntes repetiu-se durante uma hora, mas as suas respostas culminavam sempre num encolher de ombros, já não sabia o que fazer para sair dali, já eram 12h00 e o mais certo era perder o voo de regresso.

Até aquele instante a colaboração que havia recebido era nula, ninguém sabia onde trocar dinheiro nem onde ficava o aeroporto. Portugal tinha muitos defeitos mas numa situação semelhante um estrangeiro já teria recebido indicações como se “desenrascar” e certamente já estaria a fazer o embarque de regresso a casa. Não valia a pena lamentar-me o que interessava agora era encontrar o maldito aeroporto.

Continuei a andar sem rumo, até que avistei ao longe uma estrutura que se parecia com um aeroporto: diversas balizas a indicar a direcção do vento, um radar enorme, uma torre de controlo, tudo condizia. Ganhei novo ânimo e acelerei o passo. Quando cheguei, para alem das características de aeroporto que havia visto à uns minutos atrás, vi mais qualquer coisa que me desconcertou, em vez de ver pessoas em trânsito com as suas bagagens vi uma multidão de crianças acompanhadas pelos seus respectivos pais naquilo que era um parque temático relacionado com aeroportos. Fiquei branco como a cal, tudo isto parecia uma brincadeira de mau gosto e eu era o alvo. Praguejei com todas as minhas forças naquele mesmo local, todos me olharam com surpresa mas no instante seguinte seguiam como se nada fosse com eles. Continuei a andar até ver uma indicação com um símbolo de um avião, era provavelmente a minha única chance, resolvi segui-la. Percorri aquela estrada durante quase uma hora perguntando-me se teria seguido o caminho certo, até que me apercebi de um avião a aterrar perto, só podia ser ali, segui a direcção do avião até chegar ao aeroporto, finalmente estava diante do verdadeiro aeroporto, mas já eram 14h00, e o meu voo estava marcado para as 13h00. Ainda fui ver nos ecrãs informativos se o voo estava atrasado ou não, mas nenhuma informação a esse respeito aparecia, depreendi que já tinha partido. Dirigi-me ao balcão da TAP a fim de esclarecer toda a situação e arranjar voo de regresso quanto antes.

- Tinha um voo de regresso a Portugal reservado para as 13:00 mas não me foi de todo possível estar cá a essa hora. Gostava de saber quando é o próximo voo para Lisboa?

- O seu nome por favor

- Pedro Alcântara

- …

Exactamente, tinha voo marcado para as 13:00, o próximo só 3ª-feira à mesma hora.

- Está-me a dizer que tenho de ficar aqui dois dias à espera?! Não há nenhuma alternativa dalgum voo com escala, com outra companhia?

- Infelizmente não, os funcionários do aeroporto de Lisboa estão em greve até 3ª feira precisamente, mesmo que encontre outra companhia que faça o voo antes terá sempre que aguardar por 3ª feira.

- E o que é que eu fico a fazer aqui durante dois dias?

- Tem uma cidade lindíssima para visitar, o que não dariam muitos para estar na sua situação! Afinal esta é uma cidade especial, quem a visita fica a ver o mundo de uma perspectiva diferente. A cidade está pensada ao pormenor não sei se já reparou, parece um jogo de xadrez.

- Sim deve ser uma cidade interessante para quem goste de ser uma peça de tabuleiro em vias de lhe fazerem xeque-mate!