quinta-feira, julho 24, 2008

Lamento

Preenche-me o vazio que há na minha alma… Nesta noite quente em que a Lua me roubou as Estrelas…

Lamento desiludir-te, mas não sou Cyrano D’Bergerac… Não tenho, ao contrário dele, jeito com a espada e muito menos com a pena…

Sou apenas um homem… Este homem, com um pouco de cientista, outro tanto de artista e nada de poeta… A única poesia em mim existe no teu olhar, no teu sorriso, nas tuas mãos… No teu corpo dançando ao vento coberto por um manto de seda! O teu sorriso não é mais que uma forma na tua cara! Eu, vejo-o perfeito… Assim como vejo a ondulação do teu ventre…

Lamento desiludir-te, mas não sou Dorian Gray… Não tenho, ao contrário dele, uma beleza irrepreensível e muito menos guardo em mim o segredo da eterna juventude…

Sou apenas este que te olha com ternura… Possuo em mim apenas a vontade… O desejo de ser livre como o vento… De ir contigo… De Ser contigo… De deixar este garfo e este copo de uma qualquer bebida fermentada e sair daqui! Ir até onde Selene não nos roube as estrelas… Onde não faça tanto calor e possa ouvir o bater do teu coração por entre a ondulação do mar…

Lamento desiludir-te, mas não sou Romeu… Não sou, ao contrário dele, puro Amor, e muito menos seria capaz de morrer por ti…

Sou apenas alguém, que por um golpe de sorte ou azar se apaixonou por ti naquela praia! Sou apenas este alguém, que um dia ousou sonhar contigo! Ainda recordo o sabor da tua boca, mas já não sinto o bater do teu coração…

Lamento desiludir-te, mas não sou Hércules… Não sou, ao contrário dele, filho de um deus e muito menos tenho a sua Força…

Sou apenas mais um no meio da multidão… Certamente vês em mim o nada que sou…
Sou apenas filho do pó que cobre o asfalto e que um dia quis ser vento… A minha única tarefa é esperar pelo próximo carro e tentar voar um pouco mais…

Lamento desiludir-te, mas não sou O Rei Artur… Não tenho, ao contrário dele, o coração cheio de Virtude e muito menos a sua Bravura…

Sou apenas um homem com todos os defeitos inerentes e pouca ou nenhuma virtude… Com uma Vontade que nem o próprio corpo respeita!

Lamento desiludir-te, mas não sou Tom Swayer… Não sou, ao contrário dele, livre e muito menos tenho a ingenuidade de uma criança…

Sou apenas uma lembrança do jovem que fui um dia…. Como o Leão do jardim zoológico! E, que mais é a lembrança, senão o medo de esquecer? Sou apenas um homem com medo de esquecer o jovem que fui um dia… Com medo de esquecer a criança que queria mudar o Mundo!

Lamento desiludir-te, mas sou apenas este homem!

quarta-feira, julho 16, 2008

Tributo ao soldado perdido

Soldado que velas os mortos
num campo de batalha esquecido
Soldado que proteges os vivos
num campo de batalha afastado
Soldado que esqueces os amigos
num campo de batalha isolado
Soldado desconhecido
que morres sozinho
num campo, de teu sangue, encarnado

quarta-feira, julho 09, 2008

Para a Bruxa Encornada

Mel que escorrega viscoso pela alva pele
da Usina que te aquece o corpo quando o arqueias
quando te percorrem essas mãos delicadas
quando mergulha, essa tua musa, por entre as tuas pernas
donde brota esse mel...

Mato espesso que outrora era
aparado à força de dentadas violentas
que essa tua amiga te dava
quando nas costas cravava profundas
garras afiadas em tons de verniz escarlate.

Armações, dos antigos xamãs europeus
Cornos ornamentais pendurados nas casas das bruxas
Aquelas que comiam os filhos que não querias ter
Aquelas que te conduziram até onde não sabias ir
Aquelas que te percorreram o corpo, te furaram vezes e vezes sem conta
Com a sua língua afiada
Aquela outra que não vias na tua cama deitada
Que te deixou hoje uma mulher frustrada
E dos filhos dele será sempre a mãe amada...