Mil e uma vidas
Pairam sobre a tua cabeça
Pedaço de inferno na Terra
Mil e um corpos rodeiam-te
De braços estendidos para te tocarem
Mil e um com vontade de te levar
Erguido bem acima deles
Passando a mensagem que os vais tu
Levar erguer salvar
Sombra fingida de luz negra
Brilho apagado
Carta sem letras
Banquete de fome
Idolo de barro
Mil e uma palavras brotam da tua boca
Cápsulas vazias que se propagam
Pelas vazias orelhas da multidão
Que guias
Que te arrasta
Quando nos levas
Para esse maravilhoso Inferno
Que te mandam
segunda-feira, dezembro 06, 2010
domingo, novembro 28, 2010
Em alturas de dor, o que nos vai na alma
é medido pela cor da nossa face;
e não existe dor como a do adeus.
Até a neve não poderia ser mais melancólica;
farrapos isolados que caem
congelando as lágrimas que saem
e quando sólidas tocam nos nossos ombros
é o frio que nos obriga a sentir.
E o vento gelado que geme;
sombras que crescem a nossos pés
mergulhando o mundo na escuridão
e obrigando-me a descerrar meu punho.
E sabendo que a minha face
não poderia estar mais pálida.
sábado, setembro 04, 2010
Um Charuto
Cheguei a casa. Se não fosse pela varanda despida não saberia qual minha no meio de todas estas casas iguais. Acho que por isso é que, apesar de aqui morar há três anos, nunca decorei a casa, nem a varanda. Para manter um traço de originalidade e, acima de tudo, para saber qual a minha casa. Não porque ela não tenha o número da porta, mas antes, de que outra forma ela seria reconhecida. Como poderia apontar ao longe e dizer “é a minha casa, estás a ver”, ou na net, num serviço de mapas com imagem satélite, apontar com clareza “é esta, não há que enganar”?
Tiro o casaco e atiro-o para cima da mesa da cozinha. Quando aterra expõe um dos charutos que o Miguel levou hoje para o almoço. No caso o charuto que ele me deu e que não me apetecia fumar. Que estupidez, charutos porque vai ser pai! E depois de almoço sem podermos beber uns copos… Ficava a tarde toda com o sabor do tabaco na boca e…
Estou em minha casa. Na garrafeira há uma garrafa de Jack Daniels, porque não aproveito? Já sei, por causa do cheiro pestilento com que a casa fica depois! Mas posso sempre abrir uma janela. Bom, seja então!
Que merda, a porcaria do fumo passa a vida a ir para dentro de casa. Mas não vou para a varanda de boxers, porra! Oh! Que se lixe, também a esta hora não está ninguém na rua.
Tiro o casaco e atiro-o para cima da mesa da cozinha. Quando aterra expõe um dos charutos que o Miguel levou hoje para o almoço. No caso o charuto que ele me deu e que não me apetecia fumar. Que estupidez, charutos porque vai ser pai! E depois de almoço sem podermos beber uns copos… Ficava a tarde toda com o sabor do tabaco na boca e…
Estou em minha casa. Na garrafeira há uma garrafa de Jack Daniels, porque não aproveito? Já sei, por causa do cheiro pestilento com que a casa fica depois! Mas posso sempre abrir uma janela. Bom, seja então!
Que merda, a porcaria do fumo passa a vida a ir para dentro de casa. Mas não vou para a varanda de boxers, porra! Oh! Que se lixe, também a esta hora não está ninguém na rua.
sexta-feira, agosto 13, 2010
O Funeral
O dia estava cinzento. Mais do que as nuvens no céu, a disposição dos presentes contribuía para tal. Nenhum deles estava propriamente surpreendido, mas o longo definhar em nada ajudou a apaziguar a dor que cada um sentia naquele momento.
Havia começado uns anos largos antes. No velório alguém lembrara como a transportavam ao colo, como a acarinhavam, a mostravam a desconhecidos. Como em todas as famílias a educação dos filhos também neles provocou discussões, algumas em tom bem amargo, outras bem regadas, mas indiferente a todas estas discussões a menina ia-se fazendo rapariga. Até que um dia sentiu necessidade de se expandir.
Andou um bocado intermitente. Experimentou várias roupas, vários estilos. Nunca se deu por satisfeita, chamou a atenção de gentes várias e não se apercebeu que crescia para lá do controlo da família. Não se apercebia que era ela própria o cimento que juntava a família, mas qual o adolescente que tem essa noção? Como todos os adolescentes fez-se adulta e tentou então aproximar-se da família. Ainda os juntou mas aos poucos sentia a vida a fugir-lhe. Foi uma daquelas doenças que surgem devagarinho, os sintomas tão camuflados que nem nos apercebemos que são sinal de algo grave. As reuniões de família traziam sempre novos elementos, mas ela saía de lá esgotada. Cheia de vitalidade, mas esgotada e isso perturbava-a. Nos dias seguintes queria fazer coisas, mas não encontrava eco.
Foi então que percebeu que os anos em que crescia a família tornava-se várias famílias. Não era mais o garante de união de várias pessoas, antes motivo para as várias famílias se verem de quando em quando e recordarem a sua pequena menina.
Com o afastamento da família ela descobriu o que era a solidão. Não de uma vez, aos poucos, à medida que o bicho lhe comia as entranhas e as pessoas se afastavam, não de nojo, desinteressadas, sem vontade de ajudar uma doente que cambaleava, mas não parecia doente. Havia dias em que acordava e o sol parecia brilhar com mais intensidade e nesses dias punha um sorriso bonito, num desses dias ousou até fumar, algo que não fazia desde... Não se lembrava!
Na verdade não acabou o cigarro. A meio sentiu-se melhor, muito melhor, e já só viu a sua vizinha de mãos na cabeça, quando estava de pé ao lado dela, a olhar o seu corpo caído no chão.
Mais uma vez tinha conseguido juntar a família. Sabia que era a última vez. Sabia-o e percebia-o agora finalmente. Tudo o que começa apenas tem por certo o fim. Queria aproveitar aqueles instantes ali no meio deles, ouvir as memórias pela última vez, antes de se desfazer em cinzas e se espalhar pelos cantos da memória colectiva daqueles que um dias foram a sua família.
Havia começado uns anos largos antes. No velório alguém lembrara como a transportavam ao colo, como a acarinhavam, a mostravam a desconhecidos. Como em todas as famílias a educação dos filhos também neles provocou discussões, algumas em tom bem amargo, outras bem regadas, mas indiferente a todas estas discussões a menina ia-se fazendo rapariga. Até que um dia sentiu necessidade de se expandir.
Andou um bocado intermitente. Experimentou várias roupas, vários estilos. Nunca se deu por satisfeita, chamou a atenção de gentes várias e não se apercebeu que crescia para lá do controlo da família. Não se apercebia que era ela própria o cimento que juntava a família, mas qual o adolescente que tem essa noção? Como todos os adolescentes fez-se adulta e tentou então aproximar-se da família. Ainda os juntou mas aos poucos sentia a vida a fugir-lhe. Foi uma daquelas doenças que surgem devagarinho, os sintomas tão camuflados que nem nos apercebemos que são sinal de algo grave. As reuniões de família traziam sempre novos elementos, mas ela saía de lá esgotada. Cheia de vitalidade, mas esgotada e isso perturbava-a. Nos dias seguintes queria fazer coisas, mas não encontrava eco.
Foi então que percebeu que os anos em que crescia a família tornava-se várias famílias. Não era mais o garante de união de várias pessoas, antes motivo para as várias famílias se verem de quando em quando e recordarem a sua pequena menina.
Com o afastamento da família ela descobriu o que era a solidão. Não de uma vez, aos poucos, à medida que o bicho lhe comia as entranhas e as pessoas se afastavam, não de nojo, desinteressadas, sem vontade de ajudar uma doente que cambaleava, mas não parecia doente. Havia dias em que acordava e o sol parecia brilhar com mais intensidade e nesses dias punha um sorriso bonito, num desses dias ousou até fumar, algo que não fazia desde... Não se lembrava!
Na verdade não acabou o cigarro. A meio sentiu-se melhor, muito melhor, e já só viu a sua vizinha de mãos na cabeça, quando estava de pé ao lado dela, a olhar o seu corpo caído no chão.
Mais uma vez tinha conseguido juntar a família. Sabia que era a última vez. Sabia-o e percebia-o agora finalmente. Tudo o que começa apenas tem por certo o fim. Queria aproveitar aqueles instantes ali no meio deles, ouvir as memórias pela última vez, antes de se desfazer em cinzas e se espalhar pelos cantos da memória colectiva daqueles que um dias foram a sua família.
quarta-feira, junho 23, 2010
Um Charuto
No meu bairro as casas são todas iguais. Todas têm dois andares, as mesmas cores na fachada e o mesmo telhado alto. Debaixo deste telhado surge o primeiro traço de originalidade e individualidade. Escondida. Debaixo destes telhados altos estão em algumas casa quartos, noutras arrecadações e noutras, como na da minha amiga Anabela, houve quem montasse um salão de jogos.
Não um salão de jogos na acepção de um local onde se paga para entrar e onde se gasta dinheiro. O que se passou foi que o pai dela queria um espaço para meter uma mesa de bilhar e uns computadores para jogar na net. Parece que umas máquinas todas artilhadas, mas como posso saber, estão todos bloqueados! Agora a mesa de bilhar não e ao final da tarde não é raro irmos para lá jogar.
Esta tarde estava-lhe a dar nas horas e por muitos jogos que fizéssemos, em menos de um quarto de hora já tinham acabado, com o resultado a ser invariavelmente uma vitória minha. Compreensivelmente a vontade de jogar não era muita e a Anabela decidiu que queria antes ir ver montras ao centro. Quando estávamos a sair do pequeno jardim
(talvez canteiro seja o termo mais correcto, mas a mãe dela insiste tanto em chamar-lhe jardim, que toda a gente acaba por alinhar com ela; quem disse que uma mentira repetida não se torna verdade?)
reparámos numa situação estranha: um homem, de calções e t-shirt, estava na varanda a fumar.
(Esqueci-me de dizer que todo o bairro está organizado por pracetas, com a frente das casas orientada para o centro e um acesso a uma rua principal no topo norte da rua. Todas as casas têm um acesso à porta ladeado por canteiros, uma garagem mesmo ao lado da porta e, a cobrir ambas as ombreiras, um varandim com não mais do que um metro de largura, mas onde alguns moradores ainda conseguiam colocar alguma verdura. A decoração das varandas é o segundo, e penúltimo, traço de individualidade.)
O estranho na situação é o haver alguém a olhar o quadrado morto em que se torna a praceta a meio da tarde. Aquela cena pareceu-me tão fora do sítio que o que me tomou não foi um sentimento de “é um homem a fumar um charuto”. Não! Naquele momento era mais que isso, era um estranho com um comportamento estranho! Não se pense que o estranho era o fumar, como já referi, o estranho era alguém olhar para a praceta enquanto o fazia, porque era isso mesmo que ele fazia, estava ali, de pé, encostado à ombreira da porta da varanda, um charuto na mão e o olhar vazio. Ou seria um olhar cheio, a tentar captar toda a praceta? Mas que havia na praceta para captar?
“Estás bem?” perguntou-me a Anabela, e só então percebi que estava parada a olhar para a varanda. “Não é nada de tão especial que pares para aí a olhar. Até parece ser já um bocado velho demais para ti!”
“Não é isso! Não achas esquisito o que ele está a fazer?” perguntei-lhe. A resposta veio na forma de uma pergunta e de uma risada e senti-me um bocado aparvalhada por ser confrontada com a naturalidade de acto de se fumar um charuto. “Mas não achas estranho alguém estar a fumá-lo sozinho a olhar para a praceta a meio da tarde? Que é que há aqui para ver?”
“Olha… Se estás tão cheia de dúvidas porque não vais lá perguntar?”
(continua)
Não um salão de jogos na acepção de um local onde se paga para entrar e onde se gasta dinheiro. O que se passou foi que o pai dela queria um espaço para meter uma mesa de bilhar e uns computadores para jogar na net. Parece que umas máquinas todas artilhadas, mas como posso saber, estão todos bloqueados! Agora a mesa de bilhar não e ao final da tarde não é raro irmos para lá jogar.
Esta tarde estava-lhe a dar nas horas e por muitos jogos que fizéssemos, em menos de um quarto de hora já tinham acabado, com o resultado a ser invariavelmente uma vitória minha. Compreensivelmente a vontade de jogar não era muita e a Anabela decidiu que queria antes ir ver montras ao centro. Quando estávamos a sair do pequeno jardim
(talvez canteiro seja o termo mais correcto, mas a mãe dela insiste tanto em chamar-lhe jardim, que toda a gente acaba por alinhar com ela; quem disse que uma mentira repetida não se torna verdade?)
reparámos numa situação estranha: um homem, de calções e t-shirt, estava na varanda a fumar.
(Esqueci-me de dizer que todo o bairro está organizado por pracetas, com a frente das casas orientada para o centro e um acesso a uma rua principal no topo norte da rua. Todas as casas têm um acesso à porta ladeado por canteiros, uma garagem mesmo ao lado da porta e, a cobrir ambas as ombreiras, um varandim com não mais do que um metro de largura, mas onde alguns moradores ainda conseguiam colocar alguma verdura. A decoração das varandas é o segundo, e penúltimo, traço de individualidade.)
O estranho na situação é o haver alguém a olhar o quadrado morto em que se torna a praceta a meio da tarde. Aquela cena pareceu-me tão fora do sítio que o que me tomou não foi um sentimento de “é um homem a fumar um charuto”. Não! Naquele momento era mais que isso, era um estranho com um comportamento estranho! Não se pense que o estranho era o fumar, como já referi, o estranho era alguém olhar para a praceta enquanto o fazia, porque era isso mesmo que ele fazia, estava ali, de pé, encostado à ombreira da porta da varanda, um charuto na mão e o olhar vazio. Ou seria um olhar cheio, a tentar captar toda a praceta? Mas que havia na praceta para captar?
“Estás bem?” perguntou-me a Anabela, e só então percebi que estava parada a olhar para a varanda. “Não é nada de tão especial que pares para aí a olhar. Até parece ser já um bocado velho demais para ti!”
“Não é isso! Não achas esquisito o que ele está a fazer?” perguntei-lhe. A resposta veio na forma de uma pergunta e de uma risada e senti-me um bocado aparvalhada por ser confrontada com a naturalidade de acto de se fumar um charuto. “Mas não achas estranho alguém estar a fumá-lo sozinho a olhar para a praceta a meio da tarde? Que é que há aqui para ver?”
“Olha… Se estás tão cheia de dúvidas porque não vais lá perguntar?”
(continua)
terça-feira, abril 06, 2010
Ana Berta (conclusão)
O Bazar era pequeno para as multidões que lá se juntavam todas as noites. Conhecendo o Rui, ele sozinho de certeza que tinha convidado uma pequena multidão, a maior parte deles malta do secundário, para falarmos da nossa mais famosa colega, de tempos idos e de como as vidas tinham sido madrastas para nós e não para os outros. Como não me apetecia repetir conversas de pé, fui para lá reservar mesa uma hora antes do combinado.
Quando faltava cerca de um quarto de hora para o combinado vi aquele balancear de pernas familiar a entrar no bar. Vestida e maquilhada quase que passava despercebida, mas aquele andar, aquilo era-lhe tão enraizado e tão dela que não precisava de ver mais nada para saber quem entrava e se dirigia a mim.
-Então campeão? - disse-me aquela voz quente que não ouvia há muitos anos.
-Então? - estava ainda um pouco incrédulo que aquilo estava realmente a acontecer - Sei lá, "então"!... Há quanto tempo?
-Às vezes parece demasiado.
-Outras nem tanto. Vi hoje que fizeste carreira no mundo do espectáculo.
-É uma maneira simpática de pôr as coisas. Eu também já sei que dedicaste a, como alguém me disse uma vez, "morrer de tédio no lento suicídio do escritório". Lembra-te alguma coisa?
-Lembra-me alguém iludido com a vida. Quando não conheces o mundo, ele parece mais entusiasmante, com mais opções, menos impossíveis.
-E quando o conheces aprendes a ver outros possíveis, mas possíveis que te permitem fugir à rotina. Se olharmos bem - aqui uma pausa para pedir uma imperial - só temos de saber procurar as opções para fugir ao escritório.
-Tipo o quê? Tornar-me uma estrela porno?
-É uma opção. - sorriso maroto - Não é tão entusiasmante como parece, mas não é entediante. Claro que como qualquer profissão não é para qualquer um.
-Pois não, é preciso muito treino para...
-O Rui tinha razão! - interrompe-me com um tom algures entre o chateado e o cansado - Está uma sombra do que eras, partido, vencido, derrotado.
-Desculpa, o Rui!?
-Sim o idiota é que me arranjou a entrevista e é que me disse que estavas aqui agora.
-E tu vieste porque...
-Porque já não te vejo há imenso tempo! Não se pode ter saudades dos amigos? No meu ramo precisamos dos amigos, sabes?
-Claro que podes, mas vais-me desculpar estar esquisito, sabes nunca pensei que tu acabasses...
-...A vender o corpo?
-Sim. Provavelmente é isso. Que te correu mal na vida?
-Mal? - o ar dela enquanto gritava esta palavra era de espanto indignado - Ai tu achas que algo me corre mal na vida porque faço o que faço? Nunca pensaste no contrário, que isto é a vida a correr-me bem? Tu que passas nove horas num escritório, cinco dias por semana, quatro semanas por mês e tens menos de um mês de férias, quando te deixam gozá-las, perguntas-me o que me correu mal?
Filipe, Filipe... - e acenava com a cabeça condescendentemente - Que sabes tu de a vida correr bem? Desde que acabámos o décimo segundo que não ligas nem falas. Se não fosse pelo Rui nem sequer agora estávamos a falar.
-Desculpa mas o que é que isso tem a ver?
-Estás desculpado. Tu que ias mudar o mundo, passar a vida em férias constantes, quando é paraste de acreditar que isso era possível? Pára e pensa: és mesmo feliz? Sabes que para quem te conheceu a resposta é bastante óbvia: não!
-Porque com a tua actividade vem incluído um curso de psicologia barata que dá alegria aos outros. Bom a parte da alegria se calhar até vem...
-Porque com a minha actividade tenho uma semana de férias por mês, porque neste momento escolho os trabalhos que faço, com quem os faço, tenho direito a assistência médica paga e acima de tudo - aqui frisou que o que se seguia era a parte realmente importante - não tenho a monotonia da fábrica de carros onde penei durante dois anos, ganho num mês o que ganhava lá num ano, não tenho turnos impossíveis e tenho um horário reduzido. Ah! E quando chego ao fim do dia cansada é porque provavelmente nesse dia consegui ter um orgasmo genuíno e não porque nem para orgasmos tenho vontade.
Aqui eu já não ouvia bem o que ela ia dizendo. Pensei, por breves instantes, que poderiam ser as desculpas que ela se dava para justificar o trabalho, mas algo na forma de falar me dizia que não era esse o caso. Aquilo não eram desculpas, eram motivos, eram as razões pelas quais ela, ao fim de um dia na fábrica, farta de processar guias de transporte, folhas de pagamento e deves-e-haveres, havia decidido deixar aquela vida. Aquilo havia sido pensado, aquelas eram as razões e ela vivia tranquila com a sua consciência e encarava de frente um mundo que a segregava. Quase que fazia com que parecesse inveja!
-Então e namorados? - perguntei, apenas com a curiosidade de saber como conjugava o incompatível.
-Casada, divorciada. Presentemente sem ninguém. Estás interessado é? - não consegui resistir a sorrir.
-Não costumo cometer o mesmo erro duas vezes.
-Então e uma quecazinha? Aposto que tenho uns truques para te ensinar. - aqui engasguei-me. No meio de tudo não vi esta a chegar e só aqui percebi que a hora de encontro com o Rui já tinha passado para lá do atraso normal. Comecei a questionar-me que ao "pagas tu" não faltou acrescentar um "não e preocupes que é só copos para dois".
-O Rui sabia? - perguntei, quase que esperando um "foi ideia dele".
-Sabia. Foi complicado convencê-lo, mas lá acabou por concordar em não aparecer.
-Então ele sabe da proposta?
-Qual proposta? Achas que estava a falar a sério?
-Pensei que...
-Que eu era uma puta que dava uma borla de vez em quando? Nem uma, nem a outra! Mostro-me e deixo que me façam coisas, também faço coisas, mas isso tem um espaço definido e é só mais um trabalho.
-Ah, peço desculpa se confundi as coisas.
-Não é isso. Emocionalmente, achas que te consegues distanciar? Se sim, bora lá, até filmamos e poupas-me umas horas de trabalho. Até te mostro como se faz, quem sabe tenho um orgasmo daqueles que se ouve na rua toda e acorda os vizinhos. Mas pensa bem no dia seguinte. Achas que estás distante o suficiente para te meteres nisso? Não esperes que eu amanhã esteja toda ramelosa à tua volta.
Eu sei que achas que preciso de ser salva, mas não preciso. E mesmo se precisasse não era por ti! Agora pensa lá bem: queres alguma coisa?
--------------------//--------------------
O sol bate-me de frente na cara e acordo num quarto de hotel. Penso para mim que deviam proibir quartos virados a nascente e apercebo-me que a água corre na banheira da casa de banho.
-Bom dia dorminhoco. - diz-me uma voz familiar e aconchegante - Não faças esse ar de parvo. Consigo ver-te pelo espelho. - olho e confirmo que é possível ver o seu corpo despido enquanto o seca.
-Bom dia! - solto aquilo que penso ser palavras, mas assumo que possa ser ouvido como um balbuciar.
-Quem era a tua amiga de ontem?
-A Ana?
-É esse o nome dela? Na revista dizia outro, um inglês.
-Sim, é actriz porno. Na revista vem o nome artístico.
-Uh! O meu namorado dá-se com actrizes porno. Tenho motivos de preocupação?
-Não 'mor, preocupa-te antes com o teu marido, que as minhas amigas são só isso mesmo: amigas!
Quando faltava cerca de um quarto de hora para o combinado vi aquele balancear de pernas familiar a entrar no bar. Vestida e maquilhada quase que passava despercebida, mas aquele andar, aquilo era-lhe tão enraizado e tão dela que não precisava de ver mais nada para saber quem entrava e se dirigia a mim.
-Então campeão? - disse-me aquela voz quente que não ouvia há muitos anos.
-Então? - estava ainda um pouco incrédulo que aquilo estava realmente a acontecer - Sei lá, "então"!... Há quanto tempo?
-Às vezes parece demasiado.
-Outras nem tanto. Vi hoje que fizeste carreira no mundo do espectáculo.
-É uma maneira simpática de pôr as coisas. Eu também já sei que dedicaste a, como alguém me disse uma vez, "morrer de tédio no lento suicídio do escritório". Lembra-te alguma coisa?
-Lembra-me alguém iludido com a vida. Quando não conheces o mundo, ele parece mais entusiasmante, com mais opções, menos impossíveis.
-E quando o conheces aprendes a ver outros possíveis, mas possíveis que te permitem fugir à rotina. Se olharmos bem - aqui uma pausa para pedir uma imperial - só temos de saber procurar as opções para fugir ao escritório.
-Tipo o quê? Tornar-me uma estrela porno?
-É uma opção. - sorriso maroto - Não é tão entusiasmante como parece, mas não é entediante. Claro que como qualquer profissão não é para qualquer um.
-Pois não, é preciso muito treino para...
-O Rui tinha razão! - interrompe-me com um tom algures entre o chateado e o cansado - Está uma sombra do que eras, partido, vencido, derrotado.
-Desculpa, o Rui!?
-Sim o idiota é que me arranjou a entrevista e é que me disse que estavas aqui agora.
-E tu vieste porque...
-Porque já não te vejo há imenso tempo! Não se pode ter saudades dos amigos? No meu ramo precisamos dos amigos, sabes?
-Claro que podes, mas vais-me desculpar estar esquisito, sabes nunca pensei que tu acabasses...
-...A vender o corpo?
-Sim. Provavelmente é isso. Que te correu mal na vida?
-Mal? - o ar dela enquanto gritava esta palavra era de espanto indignado - Ai tu achas que algo me corre mal na vida porque faço o que faço? Nunca pensaste no contrário, que isto é a vida a correr-me bem? Tu que passas nove horas num escritório, cinco dias por semana, quatro semanas por mês e tens menos de um mês de férias, quando te deixam gozá-las, perguntas-me o que me correu mal?
Filipe, Filipe... - e acenava com a cabeça condescendentemente - Que sabes tu de a vida correr bem? Desde que acabámos o décimo segundo que não ligas nem falas. Se não fosse pelo Rui nem sequer agora estávamos a falar.
-Desculpa mas o que é que isso tem a ver?
-Estás desculpado. Tu que ias mudar o mundo, passar a vida em férias constantes, quando é paraste de acreditar que isso era possível? Pára e pensa: és mesmo feliz? Sabes que para quem te conheceu a resposta é bastante óbvia: não!
-Porque com a tua actividade vem incluído um curso de psicologia barata que dá alegria aos outros. Bom a parte da alegria se calhar até vem...
-Porque com a minha actividade tenho uma semana de férias por mês, porque neste momento escolho os trabalhos que faço, com quem os faço, tenho direito a assistência médica paga e acima de tudo - aqui frisou que o que se seguia era a parte realmente importante - não tenho a monotonia da fábrica de carros onde penei durante dois anos, ganho num mês o que ganhava lá num ano, não tenho turnos impossíveis e tenho um horário reduzido. Ah! E quando chego ao fim do dia cansada é porque provavelmente nesse dia consegui ter um orgasmo genuíno e não porque nem para orgasmos tenho vontade.
Aqui eu já não ouvia bem o que ela ia dizendo. Pensei, por breves instantes, que poderiam ser as desculpas que ela se dava para justificar o trabalho, mas algo na forma de falar me dizia que não era esse o caso. Aquilo não eram desculpas, eram motivos, eram as razões pelas quais ela, ao fim de um dia na fábrica, farta de processar guias de transporte, folhas de pagamento e deves-e-haveres, havia decidido deixar aquela vida. Aquilo havia sido pensado, aquelas eram as razões e ela vivia tranquila com a sua consciência e encarava de frente um mundo que a segregava. Quase que fazia com que parecesse inveja!
-Então e namorados? - perguntei, apenas com a curiosidade de saber como conjugava o incompatível.
-Casada, divorciada. Presentemente sem ninguém. Estás interessado é? - não consegui resistir a sorrir.
-Não costumo cometer o mesmo erro duas vezes.
-Então e uma quecazinha? Aposto que tenho uns truques para te ensinar. - aqui engasguei-me. No meio de tudo não vi esta a chegar e só aqui percebi que a hora de encontro com o Rui já tinha passado para lá do atraso normal. Comecei a questionar-me que ao "pagas tu" não faltou acrescentar um "não e preocupes que é só copos para dois".
-O Rui sabia? - perguntei, quase que esperando um "foi ideia dele".
-Sabia. Foi complicado convencê-lo, mas lá acabou por concordar em não aparecer.
-Então ele sabe da proposta?
-Qual proposta? Achas que estava a falar a sério?
-Pensei que...
-Que eu era uma puta que dava uma borla de vez em quando? Nem uma, nem a outra! Mostro-me e deixo que me façam coisas, também faço coisas, mas isso tem um espaço definido e é só mais um trabalho.
-Ah, peço desculpa se confundi as coisas.
-Não é isso. Emocionalmente, achas que te consegues distanciar? Se sim, bora lá, até filmamos e poupas-me umas horas de trabalho. Até te mostro como se faz, quem sabe tenho um orgasmo daqueles que se ouve na rua toda e acorda os vizinhos. Mas pensa bem no dia seguinte. Achas que estás distante o suficiente para te meteres nisso? Não esperes que eu amanhã esteja toda ramelosa à tua volta.
Eu sei que achas que preciso de ser salva, mas não preciso. E mesmo se precisasse não era por ti! Agora pensa lá bem: queres alguma coisa?
--------------------//--------------------
O sol bate-me de frente na cara e acordo num quarto de hotel. Penso para mim que deviam proibir quartos virados a nascente e apercebo-me que a água corre na banheira da casa de banho.
-Bom dia dorminhoco. - diz-me uma voz familiar e aconchegante - Não faças esse ar de parvo. Consigo ver-te pelo espelho. - olho e confirmo que é possível ver o seu corpo despido enquanto o seca.
-Bom dia! - solto aquilo que penso ser palavras, mas assumo que possa ser ouvido como um balbuciar.
-Quem era a tua amiga de ontem?
-A Ana?
-É esse o nome dela? Na revista dizia outro, um inglês.
-Sim, é actriz porno. Na revista vem o nome artístico.
-Uh! O meu namorado dá-se com actrizes porno. Tenho motivos de preocupação?
-Não 'mor, preocupa-te antes com o teu marido, que as minhas amigas são só isso mesmo: amigas!
quinta-feira, abril 01, 2010
Ana Berta
-Bom dia, senhor Saraiva. Que vai ser hoje? - a saudação parece mais ajustada a um café do que um quiosque, mas a verdade é que desde sempre ali comprava o jornal, desde o menino Filipe até, agora, o senhor Saraiva, desde sempre vendido pelo, agora idoso, senhor Bastos do quiosque.
-Bom dia senhor Bastos. Hoje é "O Apito" e o "Diário de Trivialidades".
-Acho que "O Apito" esgotou, deixe só cá ver se sobrou algum. - e dizendo isto desaparece nas profundezas do quiosque, como que engolido.
O momento em que se espera pelo jornal é um momento mágico para o vendedor. Aquele ritmo lento com que ele procura, apurado com o lento passar dos anos, faz com que quem espera pelo jornal desde cedo perceba que é melhor entreter-se. Como o que não falta são cabeçalhos e capas para ler, a verdade é que nem nos importamos de sermos presos a uma outra capa e levar sempre algo mais do que vínhamos comprar.
Naquele dia chamou-me a atenção uma revista masculina, a CCM, que trazia na capa uma modelo escultural. Ou seria uma apresentadora semi-despida? Enfim, era escultural ou aparentava... Mesmo assim, o que me chamou a atenção foi uma das fotos mais pequenas, daquelas que aparecem nos cantos e cuja legenda anunciava "Uma portuguesa com a Europa entre as pernas" e que retratava nada mais nada menos que uma das minhas amigas de longa data, mas da qual havia já alguns anos não ouvia notícias. Na altura chamava-se Ana Filipa Machado, mas agora respondia por Cuntrine Wide.
Sei que fiquei ali um bocado, mas quando dei por mim já o senhor Bastos me olhava com os jornais na mão.
-Dê-me também uma CCM, faz favor.
-Aqui tem. - expedito - Para a semana quer que lhe guarde o Jornal de Palavras?
-Sim, se puder ser.
-Então ora aqui tem. Acertamos contas no Sábado?
-Sim, como de costume.
-Então passe bem, senhor Saraiva.
-Até logo, senhor Bastos. - e segui para o escritório com os jornais e a revista debaixo do braço, mas só um dele me fazia fervilhar de curiosidade.
-//-
Trabalhar naquele dia era impossível. Simplesmente não estava a ali, estava na revista. De facto nem sei dizer exactamente porque é que estava incomodado, afinal as estrelas porno também andaram na escola e foram colegas de alguém, simplesmente a vida não lhes havia corrido como aos outros. Eu simplesmente tinha sido colega de uma delas. E namorado.
Até compreendia que houvesse quem gostasse que lhe pagassem para fazerem aquilo, mas com a pressão das câmaras e o peso de milhares... milhões (vivemos numa época de milhões) de visualizadores de conteúdos para adultos (milhões de quase-adultos convém acrescentar) ao qual ainda se pode juntar a dificuldade de manter uma relação...
Toca o telefone:
-Estou?
-Foda-se, viste a capa da CM hoje? - a voz, quase que o grito, pertence ao Rui, amigo de muito longa data.
-A capa da...
-CCM, a revista de gajos, pá! Tens de ver, nem acreditas quem vem lá.
-A Filipa do secundário?! - disse, dando uma entoação de palpite casual.
-Porra, já viste. Ganda cena meu, andaste com uma estrela porno. - E quando ele diz isto quase que lhe vejo o grande sorriso trocista que certamente está a exibir para o telemóvel.
-Não se pode dizer que tenha o exclusivo da coisa, não é?
-Deixa-te de merdas! Logo copos no Bazar, pagas tu Dick Mountenjoy - Com a referência pornográfica desligou o telefone. O resto do dia prometia...
(continua)
-Bom dia senhor Bastos. Hoje é "O Apito" e o "Diário de Trivialidades".
-Acho que "O Apito" esgotou, deixe só cá ver se sobrou algum. - e dizendo isto desaparece nas profundezas do quiosque, como que engolido.
O momento em que se espera pelo jornal é um momento mágico para o vendedor. Aquele ritmo lento com que ele procura, apurado com o lento passar dos anos, faz com que quem espera pelo jornal desde cedo perceba que é melhor entreter-se. Como o que não falta são cabeçalhos e capas para ler, a verdade é que nem nos importamos de sermos presos a uma outra capa e levar sempre algo mais do que vínhamos comprar.
Naquele dia chamou-me a atenção uma revista masculina, a CCM, que trazia na capa uma modelo escultural. Ou seria uma apresentadora semi-despida? Enfim, era escultural ou aparentava... Mesmo assim, o que me chamou a atenção foi uma das fotos mais pequenas, daquelas que aparecem nos cantos e cuja legenda anunciava "Uma portuguesa com a Europa entre as pernas" e que retratava nada mais nada menos que uma das minhas amigas de longa data, mas da qual havia já alguns anos não ouvia notícias. Na altura chamava-se Ana Filipa Machado, mas agora respondia por Cuntrine Wide.
Sei que fiquei ali um bocado, mas quando dei por mim já o senhor Bastos me olhava com os jornais na mão.
-Dê-me também uma CCM, faz favor.
-Aqui tem. - expedito - Para a semana quer que lhe guarde o Jornal de Palavras?
-Sim, se puder ser.
-Então ora aqui tem. Acertamos contas no Sábado?
-Sim, como de costume.
-Então passe bem, senhor Saraiva.
-Até logo, senhor Bastos. - e segui para o escritório com os jornais e a revista debaixo do braço, mas só um dele me fazia fervilhar de curiosidade.
-//-
Trabalhar naquele dia era impossível. Simplesmente não estava a ali, estava na revista. De facto nem sei dizer exactamente porque é que estava incomodado, afinal as estrelas porno também andaram na escola e foram colegas de alguém, simplesmente a vida não lhes havia corrido como aos outros. Eu simplesmente tinha sido colega de uma delas. E namorado.
Até compreendia que houvesse quem gostasse que lhe pagassem para fazerem aquilo, mas com a pressão das câmaras e o peso de milhares... milhões (vivemos numa época de milhões) de visualizadores de conteúdos para adultos (milhões de quase-adultos convém acrescentar) ao qual ainda se pode juntar a dificuldade de manter uma relação...
Toca o telefone:
-Estou?
-Foda-se, viste a capa da CM hoje? - a voz, quase que o grito, pertence ao Rui, amigo de muito longa data.
-A capa da...
-CCM, a revista de gajos, pá! Tens de ver, nem acreditas quem vem lá.
-A Filipa do secundário?! - disse, dando uma entoação de palpite casual.
-Porra, já viste. Ganda cena meu, andaste com uma estrela porno. - E quando ele diz isto quase que lhe vejo o grande sorriso trocista que certamente está a exibir para o telemóvel.
-Não se pode dizer que tenha o exclusivo da coisa, não é?
-Deixa-te de merdas! Logo copos no Bazar, pagas tu Dick Mountenjoy - Com a referência pornográfica desligou o telefone. O resto do dia prometia...
(continua)
terça-feira, março 09, 2010
Novo velho blog meu
domingo, fevereiro 28, 2010
Concurso de Fotografia :: PENA 2010
Camaradas, venho abrir o tão esperado concurso de Fotografia :: PENA 2010!
Cada autor deve participar com o máximo de três fotografias, uma por tema!
Nesta edição os temas são os seguintes:
A submissão de fotografias durará até ao final do mês de Março.
As submissões são aceites para o email geral do com-palavras. Neste deverá ser mencionado o(s) tema(s) e o nickname do autor.
Em Abril abriremos as votações.
Bom concurso!!! :)
Cada autor deve participar com o máximo de três fotografias, uma por tema!
Nesta edição os temas são os seguintes:
- pessoas
- urbano
- natureza
- científico
- abstracto
A submissão de fotografias durará até ao final do mês de Março.
As submissões são aceites para o email geral do com-palavras. Neste deverá ser mencionado o(s) tema(s) e o nickname do autor.
Em Abril abriremos as votações.
Bom concurso!!! :)
sexta-feira, fevereiro 19, 2010
O meu novo blogue
A não perder: As Aventuras Radioactivianas - Agora ja funciona!
http://aventuasradioactivianas.blogspot.com/
Num lab perto de si!
http://aventuasradioactivianas.blogspot.com/
Num lab perto de si!
quarta-feira, janeiro 06, 2010
Concurso de Fotografia com-palavras.com
Meninos e Meninas,
E que tal fazemos um concurso de Fotografia, com-palavras.com 2010?
Em que cada um entra com 2-3 fotos.
Depois podíamos também repensar numa tertúlia em 2010? Faltam é locais...
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