segunda-feira, dezembro 26, 2005

Espelho

Espelho que tudo vês
Sem julgar, sem decidir...
Diz-me, mostra-me a razão
Que me levou a agir, reagir
E a escurecer meu coração?

Espelho que tudo mostras
Sem distorcer, sem ajuizar...
Diz-me o motivo, o sentido
Para quê vir, se não é para ficar
E aqui me deixar de rastos, vencido?

Espelho que tudo devolves
Sem modificar, sem aquecer...
Diz-me, se reflectes a luz e a claridade
Porque não iluminas o meu ser
E me devolves um pouco de felicidade?

sexta-feira, dezembro 16, 2005

A REVISTA P.E.N.A. nº VII - Regresso da pérola

Venho aqui publicar pela primeira vez na história deste blog a continuação da tão esperada A Revista P.E.N.A.. Espero que gostem da ideia e que esta versão em PDF possa circular num futuro próximo, de preferência em papel. Para já limitamos este número ao BLOG mas nos próximos dias(1-3 semanas), vai estar disponível numa edição em papel limitada a 20-30 exemplares, se alguém desejar que nos peça.

Os textos foram selecionados pelos quatro administradores do site com-palavras.com pelo que alguma sugestão ou crítica deve ser reencaminhada para o mail geral@com-palavras.com.

domingo, dezembro 04, 2005

Contos do Exílio - O Regresso, Parte IV: A Última Vela

(No link esta o ultimo texto, sort of...)

(continuação)

No rescaldo da batalha, apenas dois corpos ainda respiravam na clareira. Por muito que procurassem, nenhum dos companheiros conseguia encontrar o corpo do Mestre por entre os cadáveres.
- Levaram-no! - disse o companheiro - Raios! Perdi-os a todos, não fui capaz de defender Caladon, falhei... Tu! Filho da Montanha, não é? - ele deve ter acenado que sim, porque o companheiro continuou - Temos de ir atrás deles!
- Mas como? Durante a noite será impossível seguir-lhes o rasto... - o companheiro preparava-se para responder quando uma voz cavernosa ecoou a partir das sombras:
- Meus caros... Não se preocupem que o velho não está morto. Pelo menos por enquanto! É demasiado valioso, precisam dele para completarem o feitiço que destruirá todo Caladon...
- Tu! - Os olhos do companheiro faíscavam de raiva ao olharem o gnomo que se aproximava lentamente deles. - Que sabes tu, seu vendido?
- Sei como morreram os outros seis guardiões. Sei porque é que eles não o vão matar já. Sei tantas outras coisas que tu não sabes, tantas coisas que te podia contar, entre elas onde podes encontrar o velho e ajudar-te a prevenir que a Última Vela se apague. Claro que tudo isso vos custará mais do que podem pagar... Por outro lado sou um negociador. Estou disposto a oferecer-vos uma resposta. Apenas uma, por isso escolham bem a pergunta!
- Dou-te um pão do velho se nos ajudares a salvá-lo! Sabes como é valioso, e a tua ajuda sempre é mais necessária do que a tua informação. - Disse o Exilado. Face a esta proposta o gnomo arregalou os olhos.
- Dois pães, dás-mos agora e apenas vos conduzo pelo escuro! Caso estejam esquecidos, sou a vossa única hipótese...

Muito custosamente lhe deram os pães, não sem antes o companheiro murmurar qualquer coisa como "corrupto". Caminharam o que faltava da noite até que a aurora surgiu por cima das copas das árvores. "Depressa, estamos quase a chegar e o tempo escasseia" incitou-os os gnomo. Passavam pelas fogueiras da orla da cidadela no coração da floresta quando um raio de sol despontou acima das copas. Imediatamente se levantou um vento muito forte que os projectou a todos para o chão e a escuridão encheu a terra. Quando acordaram, o gnomo, bem como todas as árvores, haviam desaparecido sem deixar rasto. Cerca de cem metros mais à frente apenas uma cabana.

Enquanto avançavam em direcção à cabana e o seu companheiro lhe explicava que era normal um gnomo fugir da luz, um vento levantou-se novamente e à medida que avançavam. Um vento não tão forte como o anterior, mas que bastou para fazer voar a cabana e mostrar o cenário de horror que ela ocultava. No chão repousava um corpo sem cabeça. Ao seu lado a cabeça, e em redor da cabeça seis velas. No cimo do corpo uma vela ardia, quase já sem corpo para arder. Quando chegaram àquele espaço identificaram o corpo como o do velho.
- O Guardião dos Cegos morreu. - disse-lhe o companheiro. - Caladon desapareceu. Não me resta nada aqui. Parto para lá do Reino das Dunas, regresso ao meu povo. Que te disse o vento?
- Quando a última vela de se apagar, há esperança para todos. Quando a última vela se apagar, é tempo de viver. - hesitou um pouco - Só não sei o que significa...
- Creio que sabes muito bem o que significa! - riu-se um pouco - Engraçado... Acho que cada um ouve coisas diferentes! - e dizendo isto partiu, rumo ao sítio onde o nasce o sol, deixando-o ali sozinho.

Meditou um pouco sobre o que aquilo queria dizer. Não havia contado tudo ao companheiro. Não contara os versos "Caminha através das terras e espera até ouvires a canção do feiticeiro. Mesmo que vejas o corvo ao longe e não o vejas cantar a música!". Quando acabou de meditar, um corvo poisou no seu ombro e grasnou. Percebeu o que o vento lhe dissera. Partiu no sentido contrário ao do companheiro, em direcção à montanha, onde tudo começara.

domingo, novembro 27, 2005

Diário de um homem morto - Desejo

Era um pouco triste ao que tinha descido. Especado, à chuva, em frente à porta do bar, hesitava. Tinha sido um colega do escritório, a recomenda-lo. “É o sítio ideal para o engate, todos sabem ao que vão! Já lá fui diversas vezes, e nunca saí sozinho!!”, dissera. Durante alguns dias recusei-me, indignado, a aceitar a sugestão. Mas ultimamente o desejo tinha-me corroído a um ponto quase insustentável, desgastando-me, e quanto mais lutava para resistir, mais cedia terreno nessa luta. Até que uma sexta feira, ao acordar, a batalha estava definitivamente perdida. “Hoje depois do jantar vou lá. Um copo nunca fez mal a ninguém”, pensei, tentando desculpar a minha fraqueza. Suspirei, mas não vacilando, entrei.
Á primeira vista o bar parecia-se com qualquer outro. Uma música ambiente bastante agradável, uma decoração pós-moderna não muito agressiva, poltronas em tons avermelhado-escuro, com bastantes mesitas de apoio, e 2 juke-box em cada uma das duas divisões, que ainda funcionavam mesmo com moedas. Estava bastante cheio, e alguns grupinhos, sobretudo pares, bem como pessoas aparentemente sozinhas, bebiam ou dançavam. Dirigi-me timidamente ao balcão, e sentei-me num dos bancos altos metálicos, com apoio de pés. Com uma tentativa de aceno decidido chamei a atenção do barman, que se aproximou.
- Hum... um Jack Daniels com gelo por favor – pedi
- É para já! – disse, agarrando quase imediatamente com as suas mãos treinadas a garrafa laranja, servindo-me em menos de um minuto a minha bebida – Aqui está.
Dei alguns goles na bebida, sentindo o seu calor dentro de mim. Fui observando o movimento, ambientando-me cada vez mais ao bar à medida que pedia mais um copo. Não estava habituado a beber, e notei-o quando uma mulher se sentou num dos extremos do balcão. Eu, geralmente tímido, comecei a fixar o olhar na sua direcção. Uma figura esguia, de cabelo ruivo e curto, olhos grandes pintados com sombras negras, era o tipo de mulher que despertava em mim uma atração quase instantânea. Pediu também uma bebida, e ao fim de pouco tempo reparou que eu a observava. Durante alguns momentos os nossos olhares foram-se encontrando, até que uma sensação mútua de desejo me fez avançar. Fechei os olhos, acabando de um golo com o uísque e preparando-me para levantar. Quando os abri, verifiquei que ela se tinha antecipado, estando já ao meu lado, em pé.
- Posso? – perguntou-me, fazendo o gesto de se sentar no banco vazio a meu lado, ao que eu anuí imediatamente. Conversámos, e a imagem do seu corpo foi enchendo a minha mente com idéias nascidas do puro desejo. Comecei a tocá-la ocasionalmente, por entre gestos, na perna ou no braço, e notei que cada vez que o fazia ela parecia estremecer ligeiramente. Uma hora volvida, completamente enlevado pela sua aura provocante, decidi arriscar.
- Estava a apetecer-me uma bebida num local mais... íntimo. Que achas? – o meu coração batia descontroladamente, mas não acalmou com a sua resposta, oferecendo a sua casa para essa “bebida” íntima. Saímos os dois, deixando para trás os rituais de acasalamento modernos que se davam pelo bar. Seguimos no carro dela, um Colt vermelho, e meia dúzia de quilómetros mais à frente, parámos. O desejo entre ambos não parava de aumentar, e quase corremos pelas escadas cima até ao 3º andar. Num rompante, abrimos a porta, e ela quase me arrancou a roupa. Beijámo-nos, e os seus lábios pareciam fogo. As minhas mãos começaram a percorrer-lhe o corpo, e quando comecei acariciar-lhe o peito, ela afastou-me, e começou lentamente a despir-se na penumbra da sala. Peça a peça, a sua pele branca foi surgindo, até que, completamente nua, se virou e foi para o quarto. Eu segui-a, despindo-me, e quando entrei ela estava perto da cama, a personificação da tentação em frente dos meus olhos. Agarrei-a, beijei-a intensamente, e empurrei-a com alguma brusquidão para a cama.
Peguei firmemente na sua perna, e comecei a mordiscá-la subindo pouco a pouco, cada vez com mais força Ela estremecia. Enquanto a beijava entre as coxas, não se controlava, agarrando-me no cabelo e gemendo de prazer. Um fogo interior consumia-me, e eu tratava de o tentar apagar, alimentando-me insanamente com o seu corpo. Peguei no pescoço bem delineado, e virei-a contra a parede, possuindo-a com tanto ardor como violência. Ela gritava bem alto, numa mescla de êxtase e dor. O seu corpo suado reflectia a pouca luz existente enquanto eu o percorria, uma e outra vez, à medida que a minha paixão hipnotizante se ia consumindo, lentamente. A sua respiração alternava entre um arfar rouco e um gemer doloroso, sentindo-me cada vez que a tinha como se fosse uma primeira vez, e não como mais uma, numa espiral que parecia não ter fim.
Extenuados, finalmente voltámos a cair na cama. Fumei um cigarro, clichê recorrente, e tentei acalmar a pulsação. Sentia-me como um viajante que, a meio de uma travessia no deserto, alcança um oásis e se satisfaz impetuosamente, sabendo que ainda falta muito mais areia e sol para acabar a viagem. Ela estava deitada de lado, e o cansaço tinha levado a melhor, visto já dormir profundamente. Acabei com longas baforadas o calmante, e levantei-me, ainda nu. Dirigi-me à janela, e enquanto olhava para a rua, ouvi barulho na outra divisão. Virei-me, e a porta abriu. Um homem furioso que eu reconheci estava pregado junto à entrada do quarto. Desatou a berrar, e a minha companheira acordou, primeiro surpresa, depois em pânico, e começou a gaguejar que era suposto ele estar no Porto. Atónito, não queria acreditar que tinha acabado de ter relações com a mulher do amigo que me tinha aconselhado o maldito bar!
Completamente tresloucado, o marido ultrajado saiu por breves momentos, deixando-me a olhar vitrificado para a mulher chorosa, na cama. O desejo que tinha sentido por ela há umas horas tinha-se convertido em repulsa. Ele voltou com uma faca na mão, decidido a acabar comigo e a recuperar a sua honra. Saltou para cima de mim, e rebolámos no chão, lutando pela vida. Consegui segurar-lhe a mão, e torcendo-a fiz com que a faca caísse. Esmurrei-o violentamente, até que ele se esquivou, ensaguentado, e se levantou. Rapidamente mandou-me um pontapé no queixo, e, ao cair junto da faca, peguei nela e num ápice apunhalei-o. O corpo escorregou para o chão, enquanto me sentava, arfando, sabendo que tinha morto para não o ser eu. Subitamente um berro rasgou novamente a escuridão do quarto, vindo com ele uma pancada forte metálica na minha nuca, a primeira das muitas que me reduziram o crânio a uma massa informe. A mulher vingara-se do assassino do marido.

segunda-feira, novembro 07, 2005

Onde andarão...

Onde andarão os pássaros?
Que enchiam o olhar de alegria e espanto?
Onde andarão os sonhos
Que não sabem onde voam eles?
Ouvidos adormecidos no silêncio contínuo,
Sem o som do seu canto!

Melancolia noturna, rotina surda,
Em qualquer lado que se durma.
Não se vê sua sombra nem seu vento
E cada momento sopra no desalento.
Sozinhos caminharão um dia, quem sabe,
Na natureza tudo é uma incerteza...

domingo, outubro 02, 2005

Diário de um homem morto - Uma última bebida

Ainda antes do cano frio se encostar à minha nuca já eu adivinhara a sua presença. Calmamente dei uma última baforada no cigarro, expelindo languidamente o fumo numa nuvem cinzenta que se desvaneceu no ar. Atirei a beata para longe.
- Sempre me encontraste... não que alguma vez tenha duvidado disso! – disse, cruzando as pernas – Sempre o soube, apenas esperei que fosse mais... tarde - A sombra respondeu, ameaçadoramente, com um clique da arma.
- Calma, calma, não é preciso ter pressa, o destino espera sempre mais um pouco.Que ameaça posso eu ser para ti? – disse, abanando a cabeça e sentindo ainda a impressão metálica redonda na cabeça - Porque não uma última bebida, entre dois velhos... conhecidos? – propus. Senti o seu hesitar, um instante que reflectia uma breve, mas intensa, decisão. Finalmente, a pressão aligeirou-se e a arma foi baixa, com um clique inverso ao anterior.

- Óptimo. Penso ainda me lembrar da tua bebida preferida... Gin com muito gelo e um pouco de sal, certo? – o vulto aquiesceu com um ligeiro “hum” nervoso – Uma bebida tão fora do comum não se esquece facilmente. Para mim apenas o velho e vulgar “escocês” com duas pedras. – disse, permitindo-me um sorriso enquanto me dirigia para o bar da sala, onde comecei habilmente a preparar as bebidas. O vulto parecia permanecer imóvel nas sombras. Acabei, e com uma mão estendi-lhe o copo, ao mesmo tempo em que dava um golo no meu e me encostava no sofá, em pé.

- Então, que tal? Não está bom? – perguntei, observando a hesitação do meu oponente, que observava o copo sem se decidir a leva-lo à boca.
- Bebe tu primeiro – disse ela, ouvindo-se pela primeira vez no escritório a sua voz melódica, mas rouca.
- Ah, desconfiada como sempre. Pensas que deitei alguma coisa na bebida? – atirei notoriamente surpreendido – Tudo bem, eu provo primeiro... em situações normais esse sal podia fazer-me mal à tensão, mas na presente situação não me parece que o meu médico se vá aborrecer – dei um gole, soltando antes uma sonora gargalhada, e estendi novamente o copo à minha assassina, depois de alguns segundos – Como vês, ainda não estrebucho. Força, bebe à vontade. – e ela bebeu, agora mais descansada, mas sempre com a mão tensa sobre a arma.

- Sabes que esta bebida apenas te deu mais uns breves batimentos desse reles coração, não sabes? – disse ela. Com um vestido longo e preto, os seus olhos faiscavam ódio – O que ansiei por este momento!!
- Também eu ansiei... por te ver. Mesmo sabendo que isso significaria a minha morte. Sempre foste tudo para mim... – a minha adversária pareceu tremer - Mas a vingança e o ciúme falaram mais alto na altura. Ele roubou-te de mim! Eras minha, não tinha o direito! – o longo e delgado braço começou, tremendo, a levantar a arma – E que gozo me deu matá-lo! Guinchou e implorou, enquanto eu punha dolorosamente fim à sua vida! Ah! – a arma apontava agora na minha direcção, pronta a atirar, mas tremia violentamente. – Não te merecia, não era digno de te tocar nem com um dedo!! – O braço parou repentinamente, tal como o corpo, que caiu redondo no chão, completamente hirto. Apenas os seus olhos brilhantes se mexiam em pânico. Aproximei-me.

- Não tenhas medo, é apenas veneno de víbora australiana. Um paralisante poderoso, mortal apenas se eu não te der o antídoto – expliquei, cuidadosamente, fazendo uma festa na sua cabeça, como faria a uma menina. Os seus olhos espantados olhavam para o copo tombado – Sabes, apenas um gole de veneno não é suficiente para alguém que foi ganhando anticorpos como eu através de pequenas doses diárias. – tirei uma pequena seringa do bolso, e injectei o seu conteúdo no braço da mulher que estava estendida no chão. – Pronto, um antivírus produzido por anticorpos de cão. O melhor amigo do homem em todo o seu esplendor – ri-me, agora nervosamente - Daqui a uma hora estás como nova. Achas realmente que eu alguma vez seria capaz de matar a minha própria... filha? – uma lágrima correu pela minha face, enquanto dava um último, terno e muito esperado beijo na sua face

– Poupo-te o trabalho, pela segunda vez. Ninguém vai ouvir nada, o edifício está vazio. As câmaras estão desligadas. Quando te conseguires mexer levanta-te, limpa o copo e sai. – disse, enquanto pegava na arma, ainda presa na mão da minha filha. Levantei-me, limpei com um lenço a pistola enquanto me dirigia para o outro lado do escritório, e fiquei a olha-la, melancolicamente – O que fiz foi por amor... Tal como agora – Com um gesto brusco encostei o cano frio na testa e disparei.

sexta-feira, setembro 30, 2005

Tonan, O Barbariano - 6ª Parte

(ANTES DE MAIS, E DEVIDO AO GRANDE INTERVALO DE TEMPO ENTRE O ÚLTIMO CAPÍTULO E O ACTUAL, URGE FAZER UM RESUMO DA HISTÓRIA ATÉ ESTE PONTO)



  • Entra em cena Tonan, o Barbariano, imundo salteador e temido morador da Floresta Negra.
  • Após intensa sessão de brainstorming entre os seus dois neurónios (coisa rara!), Tonan decide rumar a Tarkul, capital de Takar, no intuito de... bem, não vamos já estragar a surpresa ao leitor, não é? Mais vale dizer que o herói morre no fim... oh, porra!
  • Cena de acção na qual Tonan despacha uma patrulha de soldados. Alguma violência gratuita.
  • Mudança de cenário: na estrada para a capital, encontramos o jovem Vitus, aprendiz de feiticeiro, também conhecido como “o Vitalho, cabeça de ca...”
  • Vitus encontra Tonan, mas este não parece estar na melhor das suas más disposições e demonstra-o, prontamente, arrancando várias árvores pela raíz e lançando-as a uma distância considerável. Vários recordes de lançamento de dardo e peso são batidos.
  • Vitus, em pânico, urina na túnica. Ah, e ainda consegue conjurar um misterioso feitiço contra o seu obtuso agressor...


TONAN, O BARBARIANO – CAPÍTULO VI – IT´S MAGIC, YOU IDIOT!



“­ – Crescepello!”

A complexidade do campo da magia é algo que continua a maravilhar até os mais eruditos. A enorme variedade de fórmulas e conjurações existentes só é ultrapassada pela miríade de aplicações diferentes que o engenho humano, sempre adaptável, se lembra de conceber. Se para fins nobres ou... não tão nobres, tal não podemos assertoar com exactidão.
No entanto o sempre avisado leitor, conhecedor da natureza humana, decerto terá ideia da proporção entre os honestos aplicadores da magia e os que lhe dão pérfido uso.
Tal como no mundano dia-a-dia, também no plano arcano existe um cisma entre benfeitores e charlatães, entre altruístas e egoístas, entre homens santos e imundos filhos da puta, incluindo a mãe.
Retrato vivo desse cisma é a rivalidade entre os paladinos da Irmandade do Pastel (um grupo secreto que se esconde sob a fachada de um clube gastronómico) e a Sociedade de Prião, um enorme consórcio de Guildas mágicas e outros representantes desonestos como banqueiros, conselheiros reais, macumbeiros e cartomantes (por ordem crescente de inocuividade).

Mas divago.

“ – Crescepello!” – bradou Vitus, uma aura verde-alface emanando de si, qual Maria José Valério.
Quase imediatamente, Tonan sentiu um formigueiro percorrer-lhe o corpo todo.
“Que diabo”, pensou. Não podiam ser pulgas. Essas, as carraças e demais parasitas há muito que tinham desistido de povoar tão hedionda epiderme.
Só então Tonan reparou que a sua pilosidade corporal, já de si equiparável à de um mamute, aumentava a olhos vistos! Em pouco tempo, os seus pêlos estavam tão crescidos que Tonan não pôde evitar tropeçar e enrodilhar-se neles, ficando convenientemente bem amarrado no processo.
“ – Ha ha ha! Não pensavas poder comparar-te ao grande Invictus, o Mago Supremo!” – Vitus quase voltava a molhar a túnica com a emoção – “Na na na, nem penses nisso!” – Tonan, passada a surpresa inicial, tentava soltar-se daquela prisão capilar.
“ – Queres voltar a provar outro dos meus potentes feitiços? Garanto-te que o próximo não será tão meigo para com a tua pessoa!”

Tal bravata esganiçada não correspondia nem de perto nem de longe à realidade. De facto, “Crescepello” era o único feitiço do currículo de Vitus que se podia considerar vagamente ofensivo. Vitus era licenciado em “Iniciação às Artes Místicas e Afins” pelo famigerado Professor Kibomba, reputado vidente/aldrabão, procurado em três países por fraude e burla agravada. Actualmente, encontra-se em parte incerta – não sem antes se ter eclipsado com as propinas dos seus pupilos; a meio do curso, entenda-se.
Na verdade, “Crescepello” foi criado, sabe-se lá quando, por um feiticeiro amador, barbeiro de profissão, quiçá por falta de clientela.
Muito simplesmente, bastava ao dito escanhoador sussurrar a fórmula mágica a qualquer incauto que lhe passasse à porta do estabelecimento...
Mas tal história não estava destinada a ter um final feliz, pois é sabido que a Fortuna (leia-se capricho do autor) dá e tira com igual celeridade.
Pois então o anónimo baeta, na ânsia de aumentar os seus dividendos, teve a triste ideia de mudar para o ofício de cabeleireiro. Ora, se até aqui o desmesurado crescimento da barba e cabelo dos seus clientes não lhe proporcionava senão avultada freguesia e gorjeta, o mesmo não sucedeu com as suas clientes. Poupamos os leitores sensíveis às cenas de indizível horror e violência que tiveram lugar naquele salão, quando respeitáveis aristocratas se viram, de um momento para o outro, cobertas por uma espessa carpete capilar...
Por fim, aleijado, falido pelos processos em tribunal e com a reputação arruinada, decidiu pegar na sua fiel navalha e... ZÁS! Cortou ambas as patilhas; não queria ser reconhecido quando saísse do país...

“ – Muahahahaha! Irónico, não, Barbariano? Um home...euh, um animal tão possante e não se consegue desembaraçar de si mesmo!” – Vitus voltou ao ataque, inspirado – “Mas se nem eu me consigo desembaraçar de mim mesmo, desta inconstância do ser,desta consciência do sofrimento... desta... desta murzels and the freckles and the beautiful fireworks exploding into the sky e...”

>>BOUM!<<



O punho de Tonan descera sobre a cabeça de Vitus com óbvio momento linear. Mas, coisa incomum, Vitus limitou-se a deslizar para o solo e permanecer lá, inconsciente. Os seus olhos não saltaram das órbitas, nem o seu crânio se abriu, nem o conteúdo polposo e cinzento se espalhou por todo o lado.

Não, Vitus estava vivo. Pois era essa a vontade de Tonan.

(continua...)

segunda-feira, agosto 22, 2005

Tic
Sonhar
Tic Tac Tic
Hábito de estar
Tic Tac Tic Tac Tic
Não querer dizer nada
Tic Tac Tic Tac Tic Tac Tic
Calar com medo de tudo acabar
Tic Tac Tic Tac Tic Tac Tic Tac Tic
Acabaste por apenas o sofrimento adiar

Explodiste e o relógio parou
A corda até ao fim chegou
A vida agora acabou
Tic

quarta-feira, agosto 03, 2005

Ventos de Mudança

O vento da mudança soprou
Nos ecos mudos da solidão
Ninguém lhe estendeu a mão
Quem o perdeu nunca o alcançou

No vento entoa a voz ferida
Nos espaços vazios do coração
Ninguém escuta com razão
Quando sente a força perdida

O vento acalmou adormecido
No silêncio triste da condição
Ninguém olhou para o clarão
Quem não o viu foi esquecido

quarta-feira, julho 20, 2005

Contos do Exílio - O Regresso, Parte IV: A última vela (continuação)

Chegou a noite do dia seguinte e do velho nem sinal. Começou-se então a preparar para partir e assim que pegou na vara, dois vultos atravessaram a orla do clarão da fogueira e sentaram-se junto dela.
- Demoraste demasiado tempo a partir, ó Filho da Montanha! - Era o Mestre que lhe falava. Um dos dois vultos era o do Mestre, mas qual deles? Reparou então que ambos vestiam robes idênticos e apenas os cajados eram diferentes, sendo um deles de madeira clara e o outro de uma madeira escura. O do cajado claro virou-se então para o outro.
- Ó Guardião dos Cegos, tendes a certeza que ele está pronto?
- Tenho. -respondeu a voz do Mestre.
- Mas Guardião dos Cegos, ele parece tão frágil e tão perdido no mundo.
- Já vos esquecestes com quem falais? Já agora, já vos esquecestes de quem falais? - Esta última questão intrigou-o. Tinha a certeza que falavam dele, mas o tom empregue não se ajustava a nada do que vivera.
- Desculpem, mas que conversa é essa? - interrompeu.
- Filho da Montanha... Há tanto para saberes que te peço: senta-te connosco aqui junto ao fogo. Pela manhã partimos para o bosque de Caladon e queremos que nos acompanhes.
- Porque havia de vos acompanhar?
- Porque Caladon, fica longe de tudo o que conheces, apesar de estares relacionado com ele... - suspirou o Mestre - Mas senta-te aqui e ouve o que tenho para te contar.

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Não acabou de lhe contar a história naquela noite. Na realidade, muitas noites se passaram antes que chegassem ao velho bosque e a história terminasse. A história de como num bosque ardiam sete velas, cada uma representando um dos guardiões da floresta, a história do porque é que hoje só ardia uma delas, a do Guardião dos Cegos, o povo que vivia no coração da floresta, a zona mais escura e onde o mal, até recentemente, não ousara nunca entrar. Ao fim e ao cabo, a história do velho a quem ele chamava Mestre, a história do tempo que o Mestre procurara uma criança há muito desaparecida. Ele! O Exilado!
Em tempos idos, habitava no coração da floresta um feiticeiro que tinha um filho. No dia em que, pela última vez, o feiticeiro gritou de dor, a criança transformou-se em pedra. Os sete guardiães partiram com essa estátua para a mais alta das montanhas que conheciam. Uma vez lá chegados, soprou um vento terrível, que por entre fragas assobiava melodias proféticas sobre Caladon. Rezavam os ventos notícias de como gnomes e elfos devastavam Caladon, apenas poupando as zonas escuras, que eram assolaas pela fúria devastadora dos orcs, que armadilhavam os caminhos e incendiavam a floresta.
Dos sete guardiães, seis regressaram a cantar aquele que ficou conhecido como o Cântico do Vento, mas o Guardião dos Cegos ficou e tomou conta da estátua, até ao dia em que esta desapareceu.
- Um dia mais tarde passei pela aldeia dos Caminhantes. Contaram-me tudo sobre o que se passara e que culminara no exílio de um deles e numa luta interna na tribo, após a qual os Caçadores abandonaram a vida da aldeia. Desde a noite em que te encontrei até hoje é uma história que já conheces.

Estavam acampados na orla de Caladon, planeando como furar através das linhas de terror escarlate que se viam ao longe, bem dentro da muralha verde. Só ali culminara a história e encontravam-se a comer tranquilamente do pão que o velho tinha e que parecia não acabar! Quando mais tarde se preparavam para dormir, um grunhido próximo deles alertou-os.
O Mestre levantou-se segurando a vara na mão e começou a entoar um lamento, soprando como o vento nas copas das árvores e em simultâneo, como o zéfiro que bate nas fragas da encosta de uma montanha. O seu companheiro exclamou "A Canção do Ancião" e ele reconheceu-a, pois lá no fundo da sua alma aqueles suspiros e uivos eram-lhe familiares e sentia-se inquebrável ao entoar mentalmente aquela ladaínha. Subitamente uma horda de orcs surgiu da floresta. Mal tiveram tempo de se levantar e pegar nas varas, enquanto o Mestre atingia um orc violentamente na cabeça e partia a perna a outro. Assim que se pôs de pé, o Exilado entrou também em acção, servindo-se da hesitação dos orcs perante o ímpeto do Mestre. Rodopiando a vara acima da cabeça rachou o crâneo a pelo menos seis orcs. Graças ao treino do Mestre conseguia antever os movimentos dos inimigos e a escuridão não o incomodava, mas ali os inimigos pareciam uma avalanche que se abatera sobre eles, era impossível vencê-los a todos, morreriam ali, a lutar heroicamente! Quando o seu corpo começava a acusar o cansaço e o cheiro a sangue de orc lhe provocava vómitos, um urro ecoou na clareira e todos os orcs bateram em retirada.

domingo, julho 17, 2005

Contos do Exílio - O Regresso, parte IV: A última vela.

Estava novamente sozinho. Olhava em seu redor e ainda não acreditava que estava outra vez sozinho. Vinha-lhe à cabeça a noite em que conhecera o velho e via nessa nopite muitas semelhanças com aquela. Noite escura e pesada, como se fosse uma treva eterna, o cheiro a pinho queimado a perfumar o ar e a única luz e cor provinha da tremeluzente chama da fogueira.

Ali no chão, ao lado da fogueira, repousavam as mesmas varas que o Mestre correra mundo para lhe dar. As varas que outrora haviam sido dele e que regressavam agora às mãos do seu dono. Faltava só o cajado do velho... Faltava-lhe tudo o que o Mestre simbolizava.

"Não sejas para o teu povo o que eu fui para o meu: a última vela a apagar-se..." Essa frase remoía-lhe a alma. Tanta coisa mudara, mas o desejo de vingança tomava agora uma outra dimensão. Não procurava vingar o mal que lhe fizeram, procurava sim mostrar que o Mestre estava correcto, procurava não destruir os outros, mas antes mostrar-lhes que estavam errados... O que para eles era pior do que serem destruídos!

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Treinaram durante três meses. Nos dois primeiros apurou os sentidos de uma forma que nunca o havia feito. No primeiro dos dois meses nunca viu a luz do sol, devido à venda que o Mestre lhe colocou. Teve de caçar, identificar árvores e plantas, sem que nunca a pudesse tirar e de noite ainda tinha de realizar percursos na floresta. Aliás, todas as deslocações que efectuavam, efectuavam-nas apena de noite, ele com o Mestre às costas, enquanto que este dormia pesadamente. No segundo mês apurou apenas a visão, de tal forma o fazendo que conseguia distinguir o suave movimento dos pêlos no braço do Mestre, quando à noite se sentavam à fogueira.

O terceiro mês foi de todos o mais exigente, uma vez que o Mestre o iniciou no treino da luta com vara. Ao ver a sua vara de guerreiro, um ramo de eucalipto forte e robusto, seco e endurecido pelo tempo e pelo fogo, sentiu um formigueiro nas mãos e lembrava-se dos duelos que outrora fizera. O Mestre contudo, trazia também a sua vara de Caminhante, uma vara bifurcada, pouco maior que ele e que havia sido toda ela trabalhada. "Tomei a liberdade de esculpir nela a tua história", disse-lhe o velho com um olhar terno e meigo, "Mas deixei a bifurcação para ti. Afinal, daqui para a frente a escolha é tua..." acrescentou. Na manhã seguinte começaram a treinar movimentos de combate. Apesar de se lembrar dos movimentos, os seus músculos encontravam-se demasiado entorpecidos, pelo que levou toda a manhã para readquirir toda a destreza e coordenação necessárias, tendo na parte da tarde treinado movimentos avançados, tais como defesas e ataques com uma mão. No dia seguinte o Mestre desafiou-o para um duelo e só então percebeu que o cajado do velho era sim um bastão de duelo, à semelhança da sua vara, endurecido pelo tempo e pelo fogo. O duelo durou o dia todo, pois o Mestre apenas o considerava acabado quando um dos dois caísse inconsciente no chão. O Mestre movia-se graciosamente, parecendo leve como uma pena ao vento, e batia com a força de um urso. A meio da tarde, já com um dedo inchado e um enorme alto na testa, vencido pela dor e pelo cansaço, caíu.

Sentiu o sol quente a bater-lhe na face e acordou. Era a manhã que se erguia e o corpo dele já não apresentava nenhuma das mazelas com que havia desfalecido. Não havia mais ninguém no campo, pelo que teve tempo para repousar. Quando o sol já se punha, apareceu o Mestre, que apenas pronunciou as palavras "Recomeçamos agora." e prontamente o atacou. Não evitando a surpresa, não conseguiu evitar ser zurzido com violência na cabeça e, tonto, limitou-se a defender nos primeiros instantes. Ao recuperar o discernimento apercebeu-se de uma certa cadência repetitiva nos movimentos do Mestre e deciciu passar ao ataque. na sua primeira investida, uma esquiva lateral, seguida de ataque às pernas, quase conseguiu acertar, mas no último instante o Mestre saltou por cima dele e atingiu-o violentamente nas costas.

- Paramos por agora. - pronunciou, enquanto ele procurava levantar-se. - Fazes progressos notáveis, mas algo me apoquenta agora. - olhou em redor e depois continuou - Vou ausentar-me por uns instantes, se não estiver de volta até ao pôr-do-sol de amanhã, dirige-te para longe da montanha, levando tudo contigo. Se em alguma altura não souberes para onde ir, procura uma árvore e segue o lado sem musgo. - Dizendo isto partiu, sem lhe permitir qualquer pergunta. Assim que o velho desapareceu atrás da folhagem, um corvo aterrou junto à fogueira e grasnou ruidosamente. Pelo menos não estava sozinho!

(continua)

domingo, junho 05, 2005

Ofegante...
O meu olhar fazendo-te vibrar
A respiração ruidosa, galopante
No meu toque o teu despertar
Ergues-te, inebriada e cambaleante
Aproximo-me...

Segues-me...
Por entre uma ténue luz prateada
Encontrares os lábios que te enlevam
E afastam do teu coração, a geada
Aqueço-te...

sexta-feira, junho 03, 2005

Asas de um pensamento...

Olho perdido os rostos que se afastam para lá da vidraça...
Na mão a chávena; no seu interior o café tépido que insisto em agitar removendo das paredes os últimos vestígios de acúcar, que teimavam em colar numa massa castanha... Lentamente coloco a mão no bolso direito retirando o maço de tabaco carcomido e retiro um dos meus últimos cigarros... Penso um pouco e volto a recolocar o cigarro no maço.
Entretanto mais uma figura recorta o meu estreito horizonte em grande velocidade deixando-me uma saudação... Amigo? Inimigo? Pouco interessa... Retribuo com um gesto melancólico o cumprimento.
Volta a olhar para a janela do meu lado esquerdo... lá fora pequenos flocos brancos teimam em cair. Começo a sorrir aparvalhado. Estranho pensamento este de uma tempestade de neve em plena primavera asfixiante, em que o calor me percorre a fronte originando as gotas de suor que me cobrem a testa, e que ao mesmo tempo me procuram dar um pouco de hidratação, no inferno que se torna este espaço no qual partilho o meu pensamento de fim de tarde...
Estranho como sozinho construo o meu ode triunfal de glória alguma, que nem consigo descobrir qual. E como ao mesmo tempo partilho comigo próprio esta tristeza que sou incapaz de explicar... tão ínfima... tão pequena no mar de desgraças que tolda este mundo. Mas nós próprios somos talvez um mundo... sim pequeno! mas sempre um mundo! Tão nosso, tão importante!
E neste pensamento quiçá um pouco egoísta, nova reflexão profunda... Quão ridiculo o ódio quotidiano, toda a irritação que nos perturba, mergulhando-nos num caos, tão banal, tão mesquinho, tão humano.
Volto a sorrir curioso com a minha própria dissertação... O calor abafa-me cada vez mais... A desilusão que sinto, a frustração que me tolda o pensamento torna-se motivo da minha própria auto-chacota, enquanto volto a olhar para o exterior vendo agora aqueles flocos se toldarem com o alaranjado crescente de um enorme sol poente...
A cor inspira-me, levanto-me calmamente e a imagem de uma cerveja fresca apaga todo o marasmo existencial em que parecia cair.
É tempo de ir... Porque a noite ainda é uma criança... no seu leito de concepção.

terça-feira, maio 17, 2005

Manicómio revisitado

A tarde calma, Domingo solarento,
A tarde repousante na avenida.
Mãos dadas... um futuro imenso
Nas asas de um momento intenso.
Uma poesia, palavras sentidas...
Um breve... demasiado breve momento...

Na violencia do reencontro,
A saudade de novo a aparecer;
O sentimento a ressurgir...
E numa vontade de fugir,
A pressa de tudo esquecer,
Para a crueldade do novo auto encontro.

E no novo cenario de real imaginário,
Afasto-me, sentindo o sangue escorrer...
Procurando envergonhado esconder
O meu rosto temerário...

Tentando mostrar o meu eu,
Memória de quem esqueceu:
O que era ambicionar,
O que era sonhar,
O que era acreditar...

Asas do sonho, violento acordar.
Os olhos fitam a nova realidade...
Adeus saudade no olhar,
Neste presente de insanidade.

Agora a braços com a tragédia;
Aquelas luzes ao entardecer,
Outrora tão cintilantes,
Parecem tão distantes...
E ao encontar um novo sofrer,
Dou asas à minha trágico comédia.

Qual triangulo de incerteza...
Recomeçou a minha alegre tristeza.

Bem vindo... á loucura!

quarta-feira, abril 27, 2005

Sombras negras

Sombras negras esvoaçam no pensamento,
Que com melancolia distorce a realidade.
Vergonha cega, fugitiva da verdade,
Foge do mundo, alimentando o ressentimento.

A solidão abre a mão ao desconhecido,
Erguendo sua muralha, o egocentrismo.
O recalcamento da ira, o negativismo,
Adormeceu o mundo, deixando-o perdido.

terça-feira, abril 12, 2005

Viagens

Longe vão as viagens do ser,
Perdidas da emoção e da vida.
Prazer libidinoso, imaturo...
No futuro cresce e torna-se maduro.

Mão jovem procurou...

Procurou desvendar o mundo,
Navegar pela lógica negra da vida.
Mas medos travaram-lhe o caminho...
Vozes interiores negavam conhecer.

A mão adolescente tremeu...

Abrandou a conquista obscura,
Aproximou-se da emoção.
O coração batia, maduro...
Tinha encontrado o seu futuro.

A mão que restou...

Caminha devagar no seu lugar.
Pois a viagem há de terminar.
Paixão e memória, darão o fruto!
Os último suspiros, serão a vida.

sábado, março 19, 2005

Contos do Exílio - O Regresso, parte III: O Mestre (conclusao)

- Essa missão tu vais aceitá-la, sabe-lo bem! - respondeu o Mestre, olhando-o directamente nos olhos, transbordando calma - Vais aceitá-la porque se não tivesses esperança de que surgisse tal oportunidade, já te tinhas matado ou deixado morrer há muito tempo.

- Que sabes tu de mim para afirmares tal coisa? - contrapôs ele agressivamente.

- O suficiente... Sei donde vens, algo que tu não sabes, e sei qual o teu destino, algo de que foges e te recusas a ver...

- Como posso ver o que não se vê?

- Limita-te a acreditar! - exclamou o Mestre - Todo este tempo te remoeste com pensamentos de culpa e vingança, só nunca acreditaste realmente nessa vingança que te consumia por dentro. - Fez uma pausa e continuou. - Alguma vez paraste e refletiste sobre a forma como concretizarás a tua vingança?

- Sim... - E um brilho de maldade e raiva encheu-lhe os olhos - Muitas noites sohei com que lhe faria quando a reecontrasse...

- Não! Não te pergunto o que lhe farias, mas sim como te encontrarias com ela... - levantou-se num repente e apontou uma montanha no horizonte - Vim ontem daquela montanha. Por trás dela o Sol irá deitar-se hoje e por trás dela repousa o Clã dos Caminhantes. - Os olhos do Exilado brilharam de entusiasmo à menção do seu Clã. - Quando nós repousarmos debaixo do olhar atento da Deusa-Lua, na tenda dos anciãos a Vidente preparará o futuro da tribo, o futura em que a Discípula comandará a tribo! Queres realmente isso?

Ele não respondeu. Sentia arde em si um fogo invisível. Sentia as pernas a retesarem-se e os punhos a cerrarem-se, salivava sem cessar e a lembrança dos nomes das responsáveis pelo seu Exílio despertavam nele o que de pior o seu ser tinha.

- Exilado! - Gritou o Mestre, pegando no cajado que repousara até então ao seu lado. - Exilado, acorda da Fúria!

Só então se apercebeu que cerrara os punhos com tanta força que havia cravado as unhas na sua própria carne.

- Desculpa... Não me consegui controlar quando referiste...

- ... Eu sei! - interrompeu o Mestre. - Não o devia ter feito, mas não pensei que a Fúria estivesse ainda tão desperta em ti.

- A Fúria?! - perguntou o Exilado, espantado com tudo o que o Mestre dizia.

- O feitiço que a Vidente te lançou. Levou-lhe uma Viagem a urdi-lo e quando finalmente o deu por terminado, na primeira noite que passaram no Grande Vale, deixaste de responder por ti. Passaste nessa noite a agir em conformidade com os desejos dela e ela incutiu em ti o espírito do Lobo. Podes não o saber, mas tu não nasceste com o espírito do lobo...

- Com que espírito nasci então? - interrompeu ele.

- Não interessa! Nos dias de hoje respondes só pelo Lobo. Esse espírito foi-te dado para que tu a odiasses a ela e à sua astúcia de raposa...

- Como se contraria esse ódio? Voltando ao espírito antigo?

- Estou aqui para te ajudar a recuperares o espírito do Morcego, o caçador das trevas, que sem ver alcança sempre a sua presa, que fazendo barulho ninguém o ouve.

- E como é que isso me ajuda a regressar à tribo?

- Uma coisa não invalida a outra! Arrisco mesmo dizer-te que sem o teu espírito não passas de mais um dos seus instrumentos dela; com o teu espírito tornas-te um lutador e será tua a vontade de ocupares o teu lugar dentro do teu Clã!

Fez-se um silêncio pesado, apenas se ouvindo esporadiacamente o crepitar do fogo elevar-se acima da respiração pesada de ambos.

- E se eu quiser ficar com o espírito do Lobo?

- Estás sempre sujeito à Fúria. Momentos em que te tornas incontrolável, em que perdes a noção de onde estás e o que és; apenas a morte, o sangue e o saciar a fome interessam nesse instante. Será a primeira fraqueza que ela vai explorar. Sentes-te mesmo capaz de mudar a esse ponto e correr esse risco?

- Sinto! Na prática já não sou o que era antigamente. Teria de renascer para que me tornasse no que era. Mais vale trabalhar aquilo que me tornei e descobrir as minhas falhas, para que ela não se valha delas.

- Tens então de escolher quem serás daqui para a frente.

- Corrige-me as falhas e torna-me no Homem-Lobo!

FIM do capítulo III

Próximo Capítulo: A última vela (Homenagem a Blind Guardian)

quinta-feira, março 17, 2005

Gritar ao mundo
e não ter voz para falar
Querer fugir
e não ter pernas para escapar

Sentir perdido por entre a rima forçada
Dizer "Desculpa mas não se passa nada"
Gritar impropérios a medo
Ter sonhos mas desistir cedo

Gritar ao mundo
e não ter voz para sonhar
Querer fugir
e não ter pernas para andar

Querer mostrar fé mas nunca a ter
Mostrar ter força mas nunca o ser
Envolver o mundo numa especulação
Ser firme mas tremer a mão

Gritar ao mundo
e não ter voz para gritar
Querer fugir
e não ter pernas para gatinhar

Querer tudo e não ter nada
Simplesmente ficar
e deixar-me acabar

segunda-feira, março 07, 2005

Contos do Exílio - O Regresso, parte III: O Mestre (cont.)

Ficou então sozinho com a sua refeição. Enquanto tomava a sua refeição, sentia que o mundo era agora um sítio diferente. Os pássaros cantavam nas árvores, o orvalho que pingava não era mais uma forma de saciar a sede, mas também uma forma de refrescar o rosto pela manhã. Encontrava-se entregue a um sentimento de espanto quando o velho regressou. Pela primeira vez apercebeu-se da real estatura do velho. Não era muito alto, talvez pouco mais alto que os seus ombros, tinha os cabelos lisos e estranhamente curtos e brancos como neve. A sua cabeça era redonda e os olhos pequeninos mal se viam, por se encontrarem sempre semi-cerrados. Possuia ainda uma longa e estreita barba branca, que lhe tocava o meio do peito.

- Não sei se já me apresentei. - começou por dizer - O meu nome é Mestre. Assim como tu foste um dia baptizado Exilado e outros que conheceste com os seus, assim eu recebi este nome. - Sentou-se ao lado dele e ateou o lume. - Vês esta fogueira? Ontem ardia de tal maneira que parecia ter nela todo o calor do mundo. Hoje, quando acordaste, estava morta, fumegando e pouco mais, no entanto agora voltou a pegar fogo e se a alimentarmos tornar-se-á um clarão a irradiar energia e calor. - Fez uma pausa para colocar mais uma acha na fogueira. Olhou para ele com os olhos suficientemente abertos para ele se aperceber do seu negrume, e disse então: - Assim é também a vida do Homem! - e os seus olhos faíscaram!

- O que é que isso tem a ver com o tu estares aqui? Como é que isso se relaciona comigo?

- Meu caro... - hesitou - Na verdade, tem tudo a ver contigo! - sorriu - Quando nascemos todos nós temos uma missão e todos os nossos passos nos conduzem para o momento em que vamos ser chamados a realizá-la. Não importa os empurrões que nos dão ou o quanto fugimos dela, invariavelmente acabamos por ter de optar entre cumpri-la ou não a cumprir. A minha missão é estar aqui, agora, contigo. A tua... revelá-la-ei mais tarde, porque só a ti te cumpre realizá-la ou não!... - dizendo isto calou-se e ficou à espera, perscutando-o com aquele olhar escuro e profundo.

- Mestre, - começou o Exilado - tudo o que dizes é muito bonito. De certa forma lembra-me a minha vida passada. - hesitou - Mas essa já passou! Com ela muita dor, muita revolta, muito sofrimento... - Ia acrescentar muitas pessoas, mas não foi capaz. - A tua preença faz com que as memórias do passado não despertem em mim uma fúria selvagem, nem causam a amargura das noites de luar. Assim é a tua missão porventura fazer-me esquecer tudo isso e devolver-me a minha humanidade?

- A tua humanidade já te foi devolvida. No momento em que abriste a boca e dela saíram palavras, aí recuperaste a tua humanidade! - Pareceu dizer a frase colocando um particular ênfase em "tu" e "tua". - A minha missão, Filho da Montanha, é fazer com que não esqueças nunca as amarguras da vida pelas quais passaste. A minha missão é fazer com que retornes ao teu clã e assumas o teu lugar como orientador da próxima geração de Caminhantes!

- Essa missão eu recuso-a! - interrompeu ele, num grito e com os olhos a arderem furiosamente.

(continua)

sábado, março 05, 2005

E é na ontologia deste amor
Que me descubro
Fragmentada, dividida
Pela mão de outro
E no frémito das horas
Sinto o toque da saudade,
Que crava no meu rosto
A métafora do que és
Encarnada no que vivo
E nas palavras que talhaste
no meu corpo,
A epopeia de um amor clandestino

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Palavras

Palavras... rio incansável,
Águas que correm violentamente...
Que se agitam inexoravelmente
Numa raiva insaciável.

Águas que ferem, que matam!
Que afogam imagens e recordações,
Que exaltam mil emoções...
Que revoltas tudo atacam.

Barcos no rio, atentos estai...
Tempestade, tempestade!
Recolhei velas, que a hora é certa...
Alerta, alerta!
Na tormenta que aperta...
Tudo parte, tudo cai!
Rio cruel sem piedade...

Pela terra mil destroços...
Rio... Palavras perdidas,
Palavras na tempestade consumidas,
De uma verdade, que mata a verdade!

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Revolução

Ouçam amigos, ouçam
O que vos venho anunciar
Tremam, amedrontem-se, mas não esqueçam
Que o mais ansiado dos meus desejos
Se está prestes a realizar...

Ouçam amigos, ouçam
Pois aproxima-se não a passo, mas a trote
A revolução que tudo engolirá!
Está a chegar, pulsante, vibrante!
E debaixo de uma turba raivosa
Os alicerces da sociedade ruirão,
A terra firme e escura virará céu,
E o fogo crepitante tudo consumirá
Numa labareda quente, eterna,
E penitenciante...

Ouçam amigos, ouçam
Que o trovador do que virá
O bardo do apocalipse
O arauto dos novos tempos
Vos avisa

sexta-feira, fevereiro 04, 2005

Contos do Exílio - O Regresso, parte III: O Mestre

Dormiu descansado pela primeira vez, no que parecia já um eternidade. Quando acordou já o Sol ia bem alto e o orvalho havia secado na plantas em seu redor, algo novo para ele. Não se lembrava de nenhum sonho. Nada! Não havia nele sequer os habituais desejos animalescos de caça, como se o simples acto de comer um pão e de dormir junto a uma fogueira houvessem despertado nele uma humanidade hibernante.
Levantou-se e descobriu, para lá do monte de cinzas que era agora a fogueira, o velho que na noite anterior o acolhera. Aí se encontrava, imóvel, sereno, sem esboçar qualquer sinal de vida, como se de uma estátua de bronze se tratasse. No seu ombro esquerdo repousava, altivo, um falcão e junto aos seus pés um corvo debicava o que parecia ser os restos de pão da noite anterior.
-Bons dias Exilado! - saudou-o o velho, sem pestanejar sequer, permanecendo imóvel. -Creio que tens muitas perguntas para fazer e eu tenho muitas respostas para te dar.
-Bom dia... Como te chamas? Quem és tu? - perguntou, ainda meio atordoado pela situação, mas com um sentimento de segurança. Sentia-se estranhamente seguro junto àquele desconhecido, que pretendia conhecer a curto prazo.
-Penso que estarás mais receptivo a respostas após uma boa refeição. Toma, come! - disse retirando de um bornal um pão, em tudo idêntico ao da noite anterior, e um cantil. - Se tiveres sede podes beber do cantil. Tem uma bebida revigorante que faço para mim, mas pareces necessitar mais dela do que eu.
-Como sabes as minhas necessidades? Como sabes quem eu sou?
-Come descansado, com o tempo saberás as respostas, porque com o tempo eu tas direi. Por agora - e levanta-se num repente, apenas se servindo das pernas, num gesto que revelou bastante agilidade - vou devolver os meus amigos à sua vida normal. Volto já.
Dirigiu-se então à clareira, o corvo e o falcão esvoaçando atrás dele, não se importando, ou figindo não se importar, com aquele ser que deixava especado a olhar para ele.

(continua)

domingo, janeiro 30, 2005

Reencontro

Toca a porta, caminho até ela, alguém sussurra, estendo a mão e agarro a chave, a voz soou baixo, seguro-a firme, não entendo, aproximo o olho para espreitar, volta a tocar a campainha, pergunto “quem é?”, a voz macia pronuncia um nome, vejo uma silhueta ao longe, o nome vibra nos ouvidos, eu respondo “que fazes aqui? Vou já abrir!”, ela sorri e aproxima-se mais, afasto-me da porta e rodo a chave num ruidoso roçar de ferros sentindo o coração bater de emoção, abro a porta, sinto um beijo profundo e uma mão carinhosa a agarrar a camisola, foco os olhos cruzando os dela, ela olha-me nos lábios e solta um sorriso de paz e paixão, respondo com um beijo, as palavras não saem, sentimento comum num reencontro, o olhar é guarnecido e num abraço unido.

quinta-feira, janeiro 20, 2005

Tonan, O Barbariano - 5ª Parte

O recém-iniciado nas Artes Místicas e Afins (não confundir com Artes Arcanas, Marciais E Outras Que Tais, um canudo tão desejado como difícil de obter) olhava, incrédulo e apavorado, para a inverosímil personagem à sua frente. O terrível Barbariano com que se deparava fazia mais que juz às medonhas histórias que o infeliz pseudomago ouvira na sua infância, com a agravante de vir acompanhado do factor "cheiro", uma sensação tão desagradavelmente pungente que quase fizera o pobre e cabeçudo aprendiz esquecer as vestes urinadas (que por pouco também não borrara de medo)...
- "Ughar! Ittuk!" - grunhiu Tonan, pois este era o nome pelo qual era conhecido o temível salteador, molestador de frades e devorador de criancinhas (não, não os troquei). Encontrava-se desarmado pois perdera as suas armas na longa viagem desde a Floresta Negra até à Orla.
Poderia pensar-se que a sua natureza animalesca o tivesse tornado desajeitado ao ponto de perder os seus utensílios por pura inconsciência. Tal era não apenas uma dedução incorrecta como também uma subestimação grosseira, pois qualquer arma resistia pouco tempo a Tonan, último dos Gu'Man, devido ao tremendo desgaste que sofria nas mãos desse virtuoso carniceiro. Apenas um instrumento em particular resistia a tal manipulação, mas não reproduzirei aqui a sua descrição para evitar ferir as mentes mais susceptíveis...
Era, pois, um Barbariano desarmado que se apresentava ao jovem aprendiz, o que de maneira nenhuma o tranquilizava. Já tinha visto aqueles poderosíssimos braços em acção quando o selvagem, num ataque de fúria (os leitores assíduos decerto recordarão o pitoresco episódio), arrancara metade das árvores do bosque em que se encontravam. Aquela zona da Orla - o nome dado à região da periferia de Tarkul, cidade capital de Takar - fora conhecida pela beleza da sua floresta de coníferas, da sua fauna delicada de corças e felpudos esquilos... Agora, com a sua vegetação devastada, o ar conspurcado pelo fedor pestilencial, a bicharada pisada e devorada, a sua beleza fora-se para sempre. Assim era onde quer que passasse Tonan.
- "Ughar! Ittuk!" - repetiu Tonan, feito notável para algo com uma mente tão rudimentar.
O semifeiticeiro indagava-se acerca de tais grunhidos quando se tornou claro o seu significado: Tonan corria na sua direcção, uma fúria insana no seu olhar!
Genuinamente aterrorizado, o jovem mágico pré-amador invocou, como recurso desesperado, o único encantamento ofensivo que aprendera em toda a sua vida:
- "Crescepello!!!"

(fim da 5ª Parte)

sexta-feira, janeiro 07, 2005

Sonhar, ser mundo, perder-me na vontade de ser.
Serei eu, será gente?
Gente não é certamente e o mundo não é meu.

Talvez seja o vento,
talvez seja a emoção.
Perder-me no mundo não é vida
nem criar esperança no coração.

Então que hei-de fazer,
quem irei acariciar?
Tocar no fundo de mim não é vida
se não existe ninguém para me dar paixão.

Um dia talvez me arrependa
dos sonhos que corrompi,
mas por agora sou apenas eu
numa vida que não é para mim.