sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Indiferença

Lutar?
Lutar para viver
Lutar para crescer
Lutar para dar sem nunca receber
Lutar para viver

Vida que me abandonas
Vida que não compreende
Que não me quer nem me entende
Vida que me faz sofrer
Viver..

Momentos esquecidos
Momentos perdidos
Momentos que vão e nunca voltam
Palavras que custam
Que doem
Palavras que o vento leva

Vida que me abandonas
Sem motivo ou razão
Não tenho coração
Quero ignorar-te e abandonar-te
Como abandonas tudo o que faço por ti
Sem olhar para trás e menos ainda para mim

Tanto que te quero mostrar
Infelizmente o egoísmo não me deixa entrar
A energia vai desvanecendo
A vontade vou perdendo
Já não te quero abraçar

Sangue do teu sangue
Sangue que flui tão diferente
Sangue que questiono e me prende
Vida que me vê indiferente

Como fomos ao que fomos

Os seus lábios pareciam sussurrar algo. Naquele momento eu só ouvia a louca voz do desejo, mas não era esse desejo que ali estava, esse era mais lento e demorado, não o de um vôo directo para o ninho daquela ave. Naquele momento o meu desejo poderia ser saciado na casa-de-banho do bar, mas a voz que me sussurrava pedia algo mais, pedia-me que dançasse com ela (ou seria para ela?) e portanto seguia-a, não mais responsável pelos meus actos. Não era longe esse local onde com o corpo nos deviamos encantar, dois passos e estávamos mesmo no meio, ela a balouçar-se como uma serpente bem encantada, eu a olhar, como a águia que observa a sua presa lá do alto.
Naqueles instantes mirei-a de alto a baixo, os longos cabelos negros caídos sobre os ombros, tapando as alças do também negro top. Parecia não ter soutien, mas o par de rolas roliças a espreitar no seu decote, muito juntinhas uma à outra diziam o contrário. Também à espreita estava esse rendilhado escarlate, que quando ela lhe virava as costas assomava acima da cintura das calças de ganga, naquele momento as mais exóticas e atraentes do mundo, mas que à luz da manhã não passariam de um tapete no frio chão do quarto, que mais não faziam do que atrapalhar o andar.
Naquela noite não atrapalhavam! Pareciam o tecido mais ágil e elástico enquanto ela se contorcia e me ia enfeitiçando. Foi sem resistência alguma que a acompanhei até ao bar, reabastecemos o sistema alcoólico e ficámos ali à conversa. Não foi imediatamente, mas a mão dela acabou por tocar a minha. Seguindo a deixa, fui-lhe percorrendo o braço suavemente, com a parte de trás dos meus dedos, até que cheguei às já referidas alças. Ela virou-se um pouco de lado e com a outra mão conduziu a minha para o decote. Ali fiquei uns instantes a acariciá-la, até que de repente veio a ansiada proposta de ir mais longe, longe dali. Perguntou se eu tinha algo em mente e como eu demorasse a responder algo mais do que "Tenho o carro lá fora", ela sugeriu o quarto que tinha ali perto. Não a olhei nos olhos naquele instante. Olhei-lhe para o rabo, para as mamas, para as ancas, para as coxas, para a cintura, para todo o lado, menos para os olhos. O que não vi foi o olhar de luxúria que ela me deitava. Se o tivesse visto teria visto reflectido o mesmo olhar que lhe lançava, correndo o risco de nos cegarmos mutuamente.
O pensamento de uma casa, de um quarto, as imagens que daí vinham, o antecipar... Tudo me cegava naquele percurso, todas as imagens apetecíveis desligavam pouco a pouco o meu cérebro para os estímulos diferentes daqueles que ali estavam sentados ao meu lado. Os estímulos dispararam o inconsciente "Vamos!" que respondi...

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

À noite, antes do quarto à beira-rio

É noite. A noite que antecede a manhã que anteriormente narrei. Encontro-me num bar sozinho. Estava em casa e apeteceu-me sair. Apeteceu-me assim sem mais nem menos, sem nenhum motivo aparente, mas a verdade é que todos os nossos actos são definidos por aquilo que decidimos e não como voltar atrás. Se hoje pudesse voltar atrás não mudaria aquele momento, tê-lo-ia antecipado em vários dias, para que depois dele houvessem mil outros! Fui para um bar na vila piscatória, onde tudo o que se pesca é turistas. Turistas e gajos como eu, em bares frequentados por putos e pitas, o mais velho deles com idade para ser meu filho. Nenhuma delas no entanto se parece com filhas minhas. Eles são claramente putos, como se diz em inglês “boys will be boys” e não há roupa ou atitude que o disfarce. Um rapaz que se porte como homem no máximo faz ar de parvo e idiota. Um homem que se porte como um rapaz está apenas bem disposto e com ar de jovem. Muitos deles ainda nem eram projectos de filho quando as músicas que tocam foram feitas, alguns deles provavelmente foram pensados ao som das músicas mais melosas. Um amigo meu, americano, que um dia ali esteve comigo disse-me que “this bar has plenty of eye-candy for all” e a verdade era mesmo essa. Miúdas, mulheres, rapazinhos e homens feitos. Num canto um casalinho de gajos, da minha idade mais ou menos, comia-se discretamente, e uma pitareca, no meio da pista, entretinha-se a acariciar gentilmente o rabo a um amigo, enquanto o avô dela a abraçava por trás, num acariciar de seios nada discreto. Foi a observar este clima que a vi encostada ao balcão. Não sei o que me chamou a atenção, mas o que é certo é que num instante estava a condenar moralmente aquele velho rebarbado, no outro estava a imaginar conversas com aquela mulher. Porque era uma mulher que me parecia, ali, de copo na mão, a olhar para a pista.
Tinha o cabelo liso e solto, que lhe caía pouco abaixo dos ombros, uma pele pálida e um sorriso de animar um velório. É verdade que, sentado à janela de casa dela, quando olho para a cama não consigo pensar o que me atraiu nela, mas naquela noite parecia Afrodite encarnada e não consegui desviar nem olhar nem pensamento, até que ela, vendo-me a contemplá-la, se dirigiu a mim.

terça-feira, fevereiro 10, 2009

De manhã à beira-rio

Acordo de manhã, o rio à minha frente, à esquerda o oceano.
Acordo e vejo na cama uma bela rapariga. Percorro-lhe com o olhar as curvas do corpo semi-nú, tapado, aqui e ali, pelos finos lençóis com que nos protegemos da brisa nocturna. Olho novamente o azul esverdeado do rio, que reflecte o brilho intenso do sol do meio dia. Deve ser já tarde, mas porquê ter pressa? Não há pressas que me tirem a noite passada. Vejo ali ao meu lado o corpo de uma bela rapariga. Agora despida de maquilhagem e de roupas não me parece mais do que uma adolescente. Se calhar é uma adolescente... Que diabo, se é uma adolescente a verdade é que se portou como uma mulher bem adulta!
Ela dá uma volta na cama. Irá acordar? Não, está apenas a aproveitar o espaço extra. Penso por um instante em arranjar-me e sair de casa, mas por algum motivo não o consigo e fico ali parado a olhar o rio que flui para o mar. Não dou comigo a pensar nela, ela é apenas umas palavras cordiais, um número de telefone que já não uso e um “adeus até nunca mais”, que nunca será dito. Provavelmente ela ou já pensou o mesmo, ou irá pensar quando acordar, afinal que atracção vem de duas pessoas que se conheceram num bar na mesma noite em que uma delas leva a outra para a intimidade do seu lar?

Não é nela que penso mas sinceramente, também não penso em mim. Penso apenas na paisagem, penso nos tons de verde que o rio reflecte. Foda-se, deve ser a paisagem mais espectacular que já vi. A vontade que dá é de ir para a marginal que passa logo por baixo da janela daquele primeiro andar e andar para trás e para a frente, a contemplar os pássaros. Será que este prazer me vai ser negado por muito mais tempo, apenas pela consciência que tenho de me despedir frontalmente de uma fonte de outros prazeres, que há muito chegaram ao oceano do meu ego?

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Recordar o descanso

Recordar a calma quotidiana é um privilégio que muitas vezes me passa ao lado. São horas desgastadas no trabalho, são minutos desligados da vida e no desleixo. Esquecido dos prazeres que nunca pensei rejeitar...

Hoje ganhei uns segundos de sobra e o reconforto fez-se sentir nas batidas da música e nas poucas linhas que hoje vos escrevo. Poucas palavras mas resumindo este breve sentimento de descanso (especial)!