Dormiu descansado pela primeira vez, no que parecia já um eternidade. Quando acordou já o Sol ia bem alto e o orvalho havia secado na plantas em seu redor, algo novo para ele. Não se lembrava de nenhum sonho. Nada! Não havia nele sequer os habituais desejos animalescos de caça, como se o simples acto de comer um pão e de dormir junto a uma fogueira houvessem despertado nele uma humanidade hibernante.
Levantou-se e descobriu, para lá do monte de cinzas que era agora a fogueira, o velho que na noite anterior o acolhera. Aí se encontrava, imóvel, sereno, sem esboçar qualquer sinal de vida, como se de uma estátua de bronze se tratasse. No seu ombro esquerdo repousava, altivo, um falcão e junto aos seus pés um corvo debicava o que parecia ser os restos de pão da noite anterior.
-Bons dias Exilado! - saudou-o o velho, sem pestanejar sequer, permanecendo imóvel. -Creio que tens muitas perguntas para fazer e eu tenho muitas respostas para te dar.
-Bom dia... Como te chamas? Quem és tu? - perguntou, ainda meio atordoado pela situação, mas com um sentimento de segurança. Sentia-se estranhamente seguro junto àquele desconhecido, que pretendia conhecer a curto prazo.
-Penso que estarás mais receptivo a respostas após uma boa refeição. Toma, come! - disse retirando de um bornal um pão, em tudo idêntico ao da noite anterior, e um cantil. - Se tiveres sede podes beber do cantil. Tem uma bebida revigorante que faço para mim, mas pareces necessitar mais dela do que eu.
-Como sabes as minhas necessidades? Como sabes quem eu sou?
-Come descansado, com o tempo saberás as respostas, porque com o tempo eu tas direi. Por agora - e levanta-se num repente, apenas se servindo das pernas, num gesto que revelou bastante agilidade - vou devolver os meus amigos à sua vida normal. Volto já.
Dirigiu-se então à clareira, o corvo e o falcão esvoaçando atrás dele, não se importando, ou figindo não se importar, com aquele ser que deixava especado a olhar para ele.
(continua)