quarta-feira, abril 24, 2013

O Puzzle

Eis-me perante o Puzzle existencial...

Dizem alguns que Deus (considere o caro leitor, o "Destino" se assim o entender) joga aos dados... Eu acredito que Ele prefira os Puzzles...

Espalho as peças sobre a mesa. Cada uma das ínfimas peças dispostas sobre o frio da madeira, cada qual para seu lado... uma realidade disforme e confusa...

Eis que, no auge da juventude temporal deste enigma, pequenas peças se agrupam em vários quadrantes. Algumas, como golpe da Sorte, ou acaso do Destino, ligadas pelo seu intenso padrão cromático agrupam-se, magicamente entre milhares, numa ligação perfeita resolvendo parte de todo o mistério neste enigma da Vida....

No maturar dos cantos resolvidos, falta a chave... A ligação fulcral, a resolução de tão belo quadro que se augura como solução final para o problema...

E no centro de tudo... a tal chave. Com o amadurecer do tempo, com o passar inexorável dos ponteiros do relógio (ou serão os dias do calendário...), existem peças que se começam a unir, no Coração do Mundo... ou de cada Pequeno Mundo... no centro de tão bela gravura...
Existem peças que se unem com a  simplicidade da naturalidade...

Outras há, porém, que cromaticamente tão idênticas, parecem encaixar na perfeição... Mas a estranha chave da união das mesmas, como por capricho do Destino (ou queira observar o leitor, pela mão de Deus...), parece destinada ao fracasso. O desespero toma lugar quando, perante aquilo que parecia o encaixe definitivo, nem com a força dos dedos, nem tentando forjar a chave da perfeição, se unem... Podem parecer perfeitas, o desenho coerente. Mas a exactidão do Puzzle toma conta do sistema, a união forçada rompe, separa-se pela incompatibilidade da chave, da solução... E surge a separação! Esta última sub-divide-se em dois grupos. Ou a união é tão fraca que ambas as peças se soltam esperando por aquela que corresponde verdadeiramente a si ou, de tão forçadas que estão, se degladiam entre si até ao desfecho fatal, certo, destinado pelas regras do jogo...

E, finalmente, como por artes mágicas tudo começa a fazer sentido. Peças há que finalmente encaixam verdadeiramente. No óbvio e no menos óbvio.... Tudo faz sentido quando a Mente toma lugar e o Coração, esse Doido Sensato, toma as rédeas do Puzzle. Outras peças aparentemente insignificantes, na ligação Humana, Real, Verdadeira, da Humanidade, fazem a ponte que liga os Cantos, O Centro e todas as partes integrantes da Vida. Todas as Peças se unem por magia e constroem a figura Mágica da Vida.


A cola secou por fim... Emolduro o resultado final na fria parede da sala... na tarde de Inverno. Num patamar infinitamente abaixo de Deus, Destino (ou defina o Leitor, esse com "L" maiúsculo, a realidade que o faz existir, tão único e tão especial), observo deliciado o resultado final.... A vida segue, tal como a realidade dentro das paredes desta sala.... Simples... e Infinitamente Bela.

sexta-feira, abril 19, 2013

Estações

As nuvens carregadas alimentam o cinzento húmido do Outono. Ele é drástico, ventoso e imprevisível. Apelar às emoções é um risco dada a sua insegurança. As marcas na natureza são testemunho do seu temperamento.

O luar da noite ilumina a escuridão fria do Inverno. Ele é silencioso, sombrio e frio. Testemunha a frieza dos momentos negativos e não deixa saudade. Toda a natureza se retrai à sua imensa força destrutiva.

O sol reactiva o brilho nas flores da Primavera. Ela é bonita, verdadeira e colorida. Num crescente de emoções faz fervilhar a paixão pela essência da vida. O amor aquece de cor todas as obras da natureza.

O calor ilumina as gotas quentes do Verão. Ele é optimista, luminoso e denso. A energia transpira de emoção todo o seu esplendor e vitalidade. A natureza não fraqueja aos ventos quentes da sua inquietude.



segunda-feira, abril 15, 2013

Lisboa, Três da Tarde...

 A história começou... São três da tarde!

O sol alto começa a baixa, as sombras a alongarem-se para oriente e as formigas incansáveis começam a acusar as temperaturas, as suas mentes a escorregarem para cervejas e ginjinhas e pães embebidos em gordura envolvendo carnes tenras e pedras de calçada que não são já do alvo calcário mas amareladas como as lâmpadas dos lampiões. E ainda falta tanto tempo...

São três da tarde e na sua cara de quem só agora esqueceu o almoço farto de uma sandes trazida de casa, instala-se esse fugaz movimento dos olhos para o relógio, a contar as horas, os minutos, todos os instantes que ainda faltam para sair desse centro de atendimento onde, por mais um mês ou dois, conseguirá tirar a renda. Depois? Quem sabe o que virá depois? Outro centro, mais um mês ou dois? E nova chamada. O nome. Em que posso ajudá-lo? Pois sim... Pois... Infelizmente não o posso ajudar, mas vou passá-lo para a assistência técnica. Pois, também lamento. Vai tu!

São três da tarde, mas podiam ser três da manhã, não fosse às três da manhã não haver turnos. Três da tarde, onze da manhã, em passando a hora de ponta é tudo o mesmo! Para trás, para a frente, para trás, para a frente, só oito voltas para trás, oito para a frente, pouco mais de uma hora para o final deste dia, ou noite? Uma vida sem luz do sol, só a espaços as lâmpadas fluorescentes e o brilho do relógio que dita as horas por que se rege o dia. Todos os dias, exepto Domingo. Quando não calha...

Três da tarde, toque de saída, resto da tarde livre. "Lu, queres vir ao Budapeste?"

sexta-feira, abril 12, 2013

Imperfeições do coração

No azul do dia a saudade do batimento
 Dão mote às fraquezas da saudade.
 Medo e tristeza dominam o momento
 Alimentando e corroendo a ansiedade.

quarta-feira, abril 10, 2013

Lisboa… (Empresto-te a prosa, completa este rio…)

Este que flui até ao Bugio… sempre rio. O que espelha nas suas águas a luz mortiça, essa estranha mistura cromática que esbate o poder solar, numa reconfortante nostalgia que abraça esse mundo... esse reconfortante mundo, a que ainda ousamos chamar casa.

Ontem odiava-te. E não são os ódios transformados em amor a antítese da nossa naturalidade… Aquela natureza perversa que tanta vez torna o mais belo dos sentimentos no mais rancoroso dos finais... Lisboa tu não tens fim… és talvez o livro aberto sem começo.


Ao odiar-te não te conhecia… Percorria alheado as curvas do teu corpo sem verdadeiramente apreciar a beleza do teu interior… Sem saber que só a beleza do interior permite vislumbrar a tão resplandecente imagem, do teu quadro tão lindo… Talvez sejas, Lisboa, a mão que me descerra as pálpebras com a subtileza do teu suspiro.

Só hoje verdadeiramente vejo em ti o berço… a mãe… os braços que me seguram… Quanto mais longe de ti, maior o prazer do reencontro. Hoje não te vejo! Toco-te. Hoje não te odeio, sinto-te! Lisboa, hoje começa o novo capítulo da canção abraçada a tantas vozes.

E nasce o rio novamente… Junto ao Tejo… No bulício das gentes que se agitam, dos olhos que se abrem para te ver, inocentes por não conhecerem as tuas formas, surpreendidos como o jovem imberbe que vislumbra pela primeira vez teu seio desnudado… Observo-te, sinto-te, mergulho em ti e nas águas que agora, verdadeiramente nasceram. E aqui junto às águas que brotam do teu coração inicio a aventura que partilho com aqueles que também te sentem.

A história começou… São três da tarde!

terça-feira, abril 09, 2013

Amar… para sempre!


São oito da manhã… a voz do despertador revela uma vontade louca para te beijar.

Sinto o calor e a respiração no teu corpo, numa batalha longa para despertar.

Transcrevo alguns carinhos, desenhando no teu rosto palavras eternas de amor,

Sinto nos teu lábios um desejo imenso, mas secreto, de brotares como uma flor.

São oito e meia da manhã e a luz do teu olhar iluminam as sílabas para te amar… para sempre.