Borboletas
na barriga...imensas explosões no peito que fariam girar o mundo um milhão de
vezes e, um sorriso capaz de derrubar as barreiras do tempo. Era assim que
Pedro se sentia: apaixonado, sim! Ele estava apaixonado. Inspirado, já tinha
alugado um apartamento na Lua por tempo indeterminado, vivia no epicentro da
sua existência, enfeitiçado pelo olhar que permanecia na sua memória: dançava
nas estrelas com Lúcia, dançavam juntos...
Pedro
já não caminhava, corria sobre os carris do eléctrico como uma bala, sentia as
gotas de suor a embater no ferro com violência desmaterializando o seu reflexo.
Exausto, ainda morro de amor antes de beijar os seus lábios – pensava Pedro
sempre que os seus músculos gritavam de dor, gritavam por socorro! Ai meu
Deus!!! Dá-me forças caramba!!! – Gritava Pedro, já em desespero.
Ainda
estava longe, muito longe. No fundo Pedro sabia que jamais conseguiria manter
aquele ritmo e chegar até Lúcia com vida. Precisava de parar, era urgente
parar. Pedro parou, ainda longe do seu destino, tão longe que o fez pensar na
borrada de não esperar pelo autocarro ou, pelo táxi, que não apareceu naquele
crucial momento. Que raiva! – gritou Pedro com raiva, imobilizando um olhar
indiscreto de uma senhora, já de idade avançada, que passava devagar.
Velhinha:
Sente-se bem meu filho? Perguntou a senhora de idade.
Pedro:
Sim, simmmm. Desculpe, estou exausto.
Velhinha:
Saia do meio da estrada, venha até ali ao banco de jardim um pouco. Ai como está
meu filho, encharcado até aos ossos da pele.
Pedro
respirou fundo e enquanto caminhava junto da senhora até ao humilde banco de
jardim pensava que, estaria certamente perdido. Já não sentia nada, apenas a dor
reivindicava o direito de presença. Que fiz eu? – falava Pedro furioso consigo.
Velhinha:
Vá, meu filho, fique aqui que eu vou ali à mercearia comprar umas bananas e já
venho ter consigo. Não saia daqui! – falava a senhora de idade à medida que se
afastava.
Pedro
já não ouvia nada, deitou-se no banco, olhou o céu a sentir terlintar dos seus
músculos e pensou no quanto estava exausto, no surreal o pulsar do sangue nas
veias, parecem loucas as curvas das articulações que se desenham em precipícios
verticais, no limite profundo da mente e do desejo. Em segundos, a respiração
entra num outro estado, numa outra razão de incandescência, onde permanece em
perfeita lucidez aguda, superando cada patamar pré-definido nas gotas de suor
que deixam a pele para sempre. Outro concerto, outro palco de marionetas
desengonçadas, apenas em equilíbrio devido ao axioma da pauta cravada no
corpo...
Velhinha:
Vá meu filho, levante-se coma uma banana! – disse a senhora de idade.
Pedro:
Obrigado. – disse Pedro enquanto se tentava endireitar naquele branco que já
lhe parecia familiar.
Velhinha:
Meu filho, já está a ficar com outra cara, assim já gosto mais, mas conta-me lá
o que aconteceu.
Pedro:
Se soubesse...
Velhinha:
Eu sei meu filho – interrompeu a senhora já de idade.
Pedro:
Sabe? – perguntou Pedro com um ar espantado.
Velhinha:
Sim, eu sei, esta vida já não me esconde os seus segredos, nem esse. O de amor
que nos mata e que nos mantém vivos. Sabes meu filho, nem sempre fui velha, já
fui nova e bela. Tive muitos pretendentes, mas apenas casei com um deles, o
único homem que amei nesta vida e de quem tenho tantas saudades, tantas... – a
senhora de idade chorou – Sabes meu filho, nesta vida, desenham-se cousas
transcendentes, coysas que existem para além das coisas das cousas, que existem
sobre os pilares do Mundo, numa frágil pétala onde sobrevive o coração que se
eleva no beijo do vento e que se encantada pelo desejo do Sol enfurecendo as planícies
desertas apenas para sorrir uma vez mais.
Pedro
estava espantado a escutar a senhora já de idade, na verdade estava sem
palavras e apenas conseguiu soltar umas curtas palavras.
Pedro:
Como se chamava o seu marido?
Velhinha:
Pedro, sim Pedro era o seu nome.
Pedro:
Como eu, também sou Pedro.
A
senhora já de idade sorriu, beijo-lhe a testa e afastou-se devagar,
desejando-lhe boa sorte e muita coragem. Já a uns bons metros Pedro gritou:
Pedro:
Como se chama?
Velhinha:
Lúcia, meu filho, Lúcia.
Pedro
sentou-se, não queria acreditar na coincidência e levantou-se em dois tempos seguindo em direção de Lúcia, a sua cara metade. Nada mais importava para Pedro,
apenas a respiração sobre os cabelos negros de Lúcia que dociliza a fera do destino;
choravam-lhe me as mãos destas todas as coysas que interruptamente teimavam em
o afastar do seu destino, sentia-se capaz de derrubar as barreiras de fogo com
o mármore da sua pele...