segunda-feira, dezembro 26, 2005

Espelho

Espelho que tudo vês
Sem julgar, sem decidir...
Diz-me, mostra-me a razão
Que me levou a agir, reagir
E a escurecer meu coração?

Espelho que tudo mostras
Sem distorcer, sem ajuizar...
Diz-me o motivo, o sentido
Para quê vir, se não é para ficar
E aqui me deixar de rastos, vencido?

Espelho que tudo devolves
Sem modificar, sem aquecer...
Diz-me, se reflectes a luz e a claridade
Porque não iluminas o meu ser
E me devolves um pouco de felicidade?

sexta-feira, dezembro 16, 2005

A REVISTA P.E.N.A. nº VII - Regresso da pérola

Venho aqui publicar pela primeira vez na história deste blog a continuação da tão esperada A Revista P.E.N.A.. Espero que gostem da ideia e que esta versão em PDF possa circular num futuro próximo, de preferência em papel. Para já limitamos este número ao BLOG mas nos próximos dias(1-3 semanas), vai estar disponível numa edição em papel limitada a 20-30 exemplares, se alguém desejar que nos peça.

Os textos foram selecionados pelos quatro administradores do site com-palavras.com pelo que alguma sugestão ou crítica deve ser reencaminhada para o mail geral@com-palavras.com.

domingo, dezembro 04, 2005

Contos do Exílio - O Regresso, Parte IV: A Última Vela

(No link esta o ultimo texto, sort of...)

(continuação)

No rescaldo da batalha, apenas dois corpos ainda respiravam na clareira. Por muito que procurassem, nenhum dos companheiros conseguia encontrar o corpo do Mestre por entre os cadáveres.
- Levaram-no! - disse o companheiro - Raios! Perdi-os a todos, não fui capaz de defender Caladon, falhei... Tu! Filho da Montanha, não é? - ele deve ter acenado que sim, porque o companheiro continuou - Temos de ir atrás deles!
- Mas como? Durante a noite será impossível seguir-lhes o rasto... - o companheiro preparava-se para responder quando uma voz cavernosa ecoou a partir das sombras:
- Meus caros... Não se preocupem que o velho não está morto. Pelo menos por enquanto! É demasiado valioso, precisam dele para completarem o feitiço que destruirá todo Caladon...
- Tu! - Os olhos do companheiro faíscavam de raiva ao olharem o gnomo que se aproximava lentamente deles. - Que sabes tu, seu vendido?
- Sei como morreram os outros seis guardiões. Sei porque é que eles não o vão matar já. Sei tantas outras coisas que tu não sabes, tantas coisas que te podia contar, entre elas onde podes encontrar o velho e ajudar-te a prevenir que a Última Vela se apague. Claro que tudo isso vos custará mais do que podem pagar... Por outro lado sou um negociador. Estou disposto a oferecer-vos uma resposta. Apenas uma, por isso escolham bem a pergunta!
- Dou-te um pão do velho se nos ajudares a salvá-lo! Sabes como é valioso, e a tua ajuda sempre é mais necessária do que a tua informação. - Disse o Exilado. Face a esta proposta o gnomo arregalou os olhos.
- Dois pães, dás-mos agora e apenas vos conduzo pelo escuro! Caso estejam esquecidos, sou a vossa única hipótese...

Muito custosamente lhe deram os pães, não sem antes o companheiro murmurar qualquer coisa como "corrupto". Caminharam o que faltava da noite até que a aurora surgiu por cima das copas das árvores. "Depressa, estamos quase a chegar e o tempo escasseia" incitou-os os gnomo. Passavam pelas fogueiras da orla da cidadela no coração da floresta quando um raio de sol despontou acima das copas. Imediatamente se levantou um vento muito forte que os projectou a todos para o chão e a escuridão encheu a terra. Quando acordaram, o gnomo, bem como todas as árvores, haviam desaparecido sem deixar rasto. Cerca de cem metros mais à frente apenas uma cabana.

Enquanto avançavam em direcção à cabana e o seu companheiro lhe explicava que era normal um gnomo fugir da luz, um vento levantou-se novamente e à medida que avançavam. Um vento não tão forte como o anterior, mas que bastou para fazer voar a cabana e mostrar o cenário de horror que ela ocultava. No chão repousava um corpo sem cabeça. Ao seu lado a cabeça, e em redor da cabeça seis velas. No cimo do corpo uma vela ardia, quase já sem corpo para arder. Quando chegaram àquele espaço identificaram o corpo como o do velho.
- O Guardião dos Cegos morreu. - disse-lhe o companheiro. - Caladon desapareceu. Não me resta nada aqui. Parto para lá do Reino das Dunas, regresso ao meu povo. Que te disse o vento?
- Quando a última vela de se apagar, há esperança para todos. Quando a última vela se apagar, é tempo de viver. - hesitou um pouco - Só não sei o que significa...
- Creio que sabes muito bem o que significa! - riu-se um pouco - Engraçado... Acho que cada um ouve coisas diferentes! - e dizendo isto partiu, rumo ao sítio onde o nasce o sol, deixando-o ali sozinho.

Meditou um pouco sobre o que aquilo queria dizer. Não havia contado tudo ao companheiro. Não contara os versos "Caminha através das terras e espera até ouvires a canção do feiticeiro. Mesmo que vejas o corvo ao longe e não o vejas cantar a música!". Quando acabou de meditar, um corvo poisou no seu ombro e grasnou. Percebeu o que o vento lhe dissera. Partiu no sentido contrário ao do companheiro, em direcção à montanha, onde tudo começara.