A Vidente sentiu-se desfalecer e não fora segurarem-na pelos braços, encontrar-se-ia prostrada no chão a carpir a sua predilecta, que havia caído aos pés do seu maio inimigo.
Ele parecia não se importar com o que havia feito. Não era a primeira vez que matava e não sabia quantas vezes mais o teria de fazer. Caminhava agora em direcção à Vidente, parando a pouco mais de dois passos dela.
-E nós? Como vai ser?
-Pára por favor! – disse o Obreiro – Eu levo-a para longe da Montanha se o pedires, mas peço-te que páres. Como tu disseste, já foi derramado sangue que chegue. Peço-to como favor pessoal.
Ele olhou-o nos olhos, olhou para ela e recuou alguns passos.
-Obrigado...
-Pediste-mo como favor pessoal e concedo-to. Podem levar com vocês todos os vossos pertences e todos os que vos quiserem seguir. Todos os que partirem com vocês nunca mais serão benvindos ao vale. No entanto tal não se aplicará aos vossos filhos, para quem o vale será sempre um refúgio.
-Basta! – gritou a Vidente – Não vou deixar que estranhos discutam o que façam e ponham termos à minha vida. – E pegou na vara do Impulsivo. – Muito bem... Se tem que ser, que seja então! – E ao calar-se carregou sobre o Exilado, que surpreso se limitou a amparar os golpes de fúria da Vidente. Esta, cega pela raiva, não se apercebia que ele não se movia. Até que ele ao bloquear um golpe, a rasteirou em resposta.
-Pára. Aceita a derrota e junta-te aos teus. Ainda tens quem se preocupe contigo, quem acredite em ti, quem te siga. Porque não páras?
Ela não respondeu. O Obreiro apelou-lhe também para que ela aceitasse a derrota. O Exilado chamou-lhe a atenção para o facto de estar em clara desvantagem. Mesmo assim, ela ergueu-se e avançou novamente para ele. Desta vez ele esquivou-se e voltou a rasteirá-la.
-Pára! Não chegou já a Discípula? Pensas que tenho prazer em matar? Pensas que gosto de o fazer?
-É o preço que pagas! Destruiste a minha tribo, atraiçoaste-me e agora mataste a minha preferida. Lamento, mas isso só se resolve quando um de nós matar o outro.
Ele emitiu então um som semelhante ao de um ramo seco a mexer-se ao sabor do vento e os corvos investiram em direcção à cara dela. Quando finalmente se afastaram levavam cada um um olho como troféu e deixavam uma Vidente histérica de pavor e dor.
-Desculpa Obreiro, foi a vontade dela acima da tua. – E avançou para o corpo que se contorcia, ergueu a vara e com uma só pancada seca acabou com a agonia daquela que em tempos fora a sua protectora.
Duas piras ardem no centro da Clareira. Junto a uma delas o Obreiro contempla as chamas com um olhar vago e distante, os seus olhos a guardarem lágrimas que teimam em não cair, as mãos agarradas atrás das costas e a expressão rija como pedra. Junto à outra fogueira o Impulsivo chorava de dor, das duas dores que sentia, a física e a emocional. Só quem o conhecia sabia como ele carregava a esperança daquela relação impossível e agora a esperança acabava. Para sempre! No meio das árvores, um pouco mais atrás, dois vultos observavam. Haviam ficado ali durante toda a cerimónia e quando todos se haviam ido embora, decidiram ficar na sombra, para não incomodarem quem chorava os mortos.
-E agora?
-Agora não sei.
-Mas que tinhas planeado para depois disto tudo?
-Nada. Nada disto era para ter acontecido. – hesitou – Não planeei nada disto, esperava-a sozinha, esperava falar com ela, chegar a um entendimento. Esperava que o tempo a tivesse mudado também a ela, que fosse possível agora falar, não esperava matar ninguém. Acima de tudo, não queria nem esperava, que ela tivesse de morrer. – E ao calar-se correu-lhe uma lágrima pela face.
-Não fiques assim. Ela é que escolheu o caminho dela. Sabes... Foi pior para ela ver que tinhas razão! Depois de tudo o que se passou, ela percebeu que estavas certo, percebeu que também tinhas o dom e que o teu era mais aguçado e mais exacto que o dela. Invejou-te. Desejou ser como tu, desejou ter-te com ela e ao mesmo tempo odiou-te, porque nunca te submeteste à vontade dela, porque foste sempre fiel a ti próprio e às tuas ideias. Não te remoas se as coisas tomara um rumo com que não contavas.
-És capaz de ter razão!
-E agora?
-Agora? Não sei. Há tanto a fazer, devolver a normalidade ao nosso clan e lidar com a tribo dela. É isso. Agora a normalidade. – E sorriram um para o outro, antes de se abraçarem e virarem costas às piras
--->O FIM<---
quarta-feira, maio 31, 2006
domingo, maio 28, 2006
Contos do Exílio - O Regresso, parte V: O Confronto
A lua cheia iluminava as copas das árvores. Da aldeia dos Nómadas saía um triste cortejo. As tochas caminhavam silenciosas e com com passos pesados, no meio apenas uma figura não carregava nenhuma, segurando nas suas mãos apenas uma vara talhada com estranhos caracteres. A seu lado, segurando duas das tochas maiores, caminhavam duas figuras um pouco mais altas, cada uma com um grande vara bifurcada, nas quais se apoiavam a cada passo. Iam avançando decididos para o interior da floresta, em resposta ao desafio que havia sido lançado à Vidente. Quando o primeiro dos Nómadas entrou na floresta levantou-se uma enorme ventania e todos se apressaram para dentro do mar verde. Um pouco mais longe o Exilado ordenava que se acendesse a Clareira e dizia à Aprendiza que "A Vidente não vem sozinha.". Quando a lua se encontrava no seu ponto mais alto o cortejo dos Nómadas entrou na Primeira Clareira. À sua espera dezenas de Caminhantes, cada um segurando a sua vara e uma tocha. A Vidente olhava-os um a um e, quando confrontados com o seu olhar, eles respondiam em pose de desafio. À sua direita a Discípula apenas olhava para o Exilado. Sentia-se ainda humilhada com o resultado do encontro dois dias antes e pretendia desforrar-se. No lado oposto o Impulsivo parecia calmo e aceitava que havia feito por merecer estar ali e naquela posição. Havia já algum tempo que discordava da formo como a Vidente conduzia os destinos da tribo e achava que todo o assunto devia ser resolvido entre ela e o Exilado. A fechar o cortejo vinham o Obreiro e o Passivo, desarmados, destinados apenas a observarem.
-Porque não os deixaste na aldeia? Tens necessidade de os arrastares contigo?
-São o meu povo, seguem-me!
-Vejo que uns é que são seguidos por ti e não te seguem. Porque não os deixas partir? Não foi já derramado sangue inocente que chegue por tua causa?
-O sangue dela não era inocente. - rugiu a Vidente.
-Quer o sangue dela, quer o dos que a seguiram. Todos inocentes. O sangue do Músico, o sangue do Novo e de todos os seus irmãos. Tudo por causa de um capricho teu... Olha bem para ti. Onde estão os que te seguiam? Nem todos os que te seguem acreditam na tua causa, se assim não fosse, porque deixariam as varas na aldeia?
-Falas do que não sabes! Sabes o que te contaram bocas envenenadas... - ele interrompeu-a.
-Cala-te! Se me vieste aqui para me envenenares o espírito com conversa cala-te já!
-Oh! Não te conhecia essa faceta sensível. Mas olha, não te vejo com nenhuma das tuas varas. A cerimonial está longe demais para a ires buscar antes que eu a reclame como minha e a de combate já se deve ter perdido.
-Erras em ambas as presunções. Vejo nos teus olhos e percebo-o na tua voz: estás a desafiar-me, mas para o teu desafio não tenho resposta. Tenta-me. Já sei que viste a vara pendurada nessa árvore, por cima de ti. Tenta alcançá-la.
-Impulsivo: dá-ma!
Sem hesitar o antigo Caminhante saltou para alcançar a vara. No entanto, quando se encontrava quase a agarrá-la, alguém o atingiu nas pernas, desequilibrando-o e fazendo-o cair de costas no chão rugoso da floresta. No instante seguinte, várias luzes começaram a acender-se nas copas das árvores, revelando muitos dos antigos Caminhantes, os que se pensavam longe da aldeia, que ali se encontravam.
-Constou-me que perdeste o apoio da verdadeira chama dos Caminhantes. Ah! E se consegues ver bem, consegues ver que ela não está apagada.
-Impulsivo: ele! - ordenou a Vidente. Sem lhe dar tempo de reagir , a Aprendiza saltou para o chão e atingiu-o violentamente nas pernas, partindo-lhas e saíu a correr para o lado direito do Exilado. A Vidente estupefacta não reagia. A Discípula olhava-o agora com raiva redobrada, mas aquele golpe havia-lhe quebrado a confiança. No chão, o Impulsivo contorcia-se de dores. Nunca soubera suportar a dor e a dor das duas pernas partidas juntava-se ao choque e ele não passava de um aglomerado de urros de dor e lágrimas. O resto da tribo dos Nómadas começava a recuar para fora da Clareira.
-Deixa-os partir. - ordenou o Exilado - Isto é entre tu e eu, eles são inocentes, a maioria nem me conhece. És tão egoísta que os arrastas contigo para o fim?
No instante em que se calou a Discípula carregou para ele. Um caminhante que se pôs à sua frente foi atingido na cabeça, um outro no lado, ficando ambos mortos no chão. A Discípula avançava para ele, com a intenção de o atingir no lado, mas ele esquivou-se da mesma forma que já havia feito, ficando virado de frente para as costas dela. Ao mesmo tempo a Aprendiza tentou atingir-lhe uma das mãos. A Discípula havia sido no entanto bem treinada e esquivou o golpe da sua adversária e contra-atacou, atingindo-a no braço, quebrando-o e preparava-se para a atingir na cabeça quando uma das suas mãos pareceu rebentar. Imediatamente perdeu controle da vara e largou-a. Um corvo debicava-lhe a mão enquanto outro voava em direcção ao Exilado, largando uma vara estreita e alta, toda ela lisa e escura. Assim que o Exilado empunhou a sua vara de combate ambos os corvos se dirigiram ao alto de uma das árvores.
-Vejo que continuas com apetência para os mais fracos Discípula. Anda cá e bate-te com alguém à tua altura... - os olhos dele já não eram olhos humanos, pareciam negros como a noite, como se por dentro todo ele fosse uma sombra escura. Nessa escuridão parecia brilhar uma fúria assassina.
-Não. Tu... Vais pagar por tudo! - pegou na vara dela e tentou defender-se, mas ele havia crescido muito para além da capacidade dela. O primeiro golpe dele desfez-lhe a vara em duas. Este golpe gelou o sangue da Discípula. Aquelas varas haviam sido envelhecidas pelo fogo e conseguiam aguentar vários golpes. Aquele único golpe partiu-lhe a vara e a confiança, a partir daqui só lhe restava um destino. Ele no entanto não parou apenas com um golpe. Revelando um sadismo que ninguém lhe conhecia, desferiu imediatamente um segundo golpe, o qual partiu o braço da mão ainda boa, e um terceiro golpe na bacia, o que lhe imobilizou uma das pernas, para em resposta lhe partir a outra. A Discípula só conseguia urrar de dor e as lágrimas era um rio na sua face. A Vidente gritava por piedade e avançava já em direcção a ele quando o Passivo e o Obreiro a agarraram e obrigaram a assistir ao massacre.
Com a Discípula estendida no chão, ele atingiu-a repetidamente nas pernas, até as pernas delas não passarem de membros flácidos.
-Pareceu-me que perfuraste um pulmão um Caminhante, durante a tua corrida. - e atingiu-a violentamente num lado. Para ela a pancada significou imediata dificuldade em respirar e uma dor aguda. - Já agora aproveito e furo-te os dois. - Uma pancada no outro lado, a sensação de falta de ar. Por esta altura a Discípula já não gritava, faltava-lhe o ar e limitava-se a soluçar assustada. Estava no limite da consciência, o desmaio e o negro que se lhe seguia eram iminentes. - E também me parece que rachaste uma cabeça! - Deu-lhe uma pancada na cabeça, mas não tão violenta que, ela perdesse os sentidos. Foi assim, ainda na posse de algum grau de consciência que ela sentiu a vara dele perfurar-lhe o peito e parar-lhe o coração. - Adeus. - disse ele, com o ar mais impávido e sereno.
-Porque não os deixaste na aldeia? Tens necessidade de os arrastares contigo?
-São o meu povo, seguem-me!
-Vejo que uns é que são seguidos por ti e não te seguem. Porque não os deixas partir? Não foi já derramado sangue inocente que chegue por tua causa?
-O sangue dela não era inocente. - rugiu a Vidente.
-Quer o sangue dela, quer o dos que a seguiram. Todos inocentes. O sangue do Músico, o sangue do Novo e de todos os seus irmãos. Tudo por causa de um capricho teu... Olha bem para ti. Onde estão os que te seguiam? Nem todos os que te seguem acreditam na tua causa, se assim não fosse, porque deixariam as varas na aldeia?
-Falas do que não sabes! Sabes o que te contaram bocas envenenadas... - ele interrompeu-a.
-Cala-te! Se me vieste aqui para me envenenares o espírito com conversa cala-te já!
-Oh! Não te conhecia essa faceta sensível. Mas olha, não te vejo com nenhuma das tuas varas. A cerimonial está longe demais para a ires buscar antes que eu a reclame como minha e a de combate já se deve ter perdido.
-Erras em ambas as presunções. Vejo nos teus olhos e percebo-o na tua voz: estás a desafiar-me, mas para o teu desafio não tenho resposta. Tenta-me. Já sei que viste a vara pendurada nessa árvore, por cima de ti. Tenta alcançá-la.
-Impulsivo: dá-ma!
Sem hesitar o antigo Caminhante saltou para alcançar a vara. No entanto, quando se encontrava quase a agarrá-la, alguém o atingiu nas pernas, desequilibrando-o e fazendo-o cair de costas no chão rugoso da floresta. No instante seguinte, várias luzes começaram a acender-se nas copas das árvores, revelando muitos dos antigos Caminhantes, os que se pensavam longe da aldeia, que ali se encontravam.
-Constou-me que perdeste o apoio da verdadeira chama dos Caminhantes. Ah! E se consegues ver bem, consegues ver que ela não está apagada.
-Impulsivo: ele! - ordenou a Vidente. Sem lhe dar tempo de reagir , a Aprendiza saltou para o chão e atingiu-o violentamente nas pernas, partindo-lhas e saíu a correr para o lado direito do Exilado. A Vidente estupefacta não reagia. A Discípula olhava-o agora com raiva redobrada, mas aquele golpe havia-lhe quebrado a confiança. No chão, o Impulsivo contorcia-se de dores. Nunca soubera suportar a dor e a dor das duas pernas partidas juntava-se ao choque e ele não passava de um aglomerado de urros de dor e lágrimas. O resto da tribo dos Nómadas começava a recuar para fora da Clareira.
-Deixa-os partir. - ordenou o Exilado - Isto é entre tu e eu, eles são inocentes, a maioria nem me conhece. És tão egoísta que os arrastas contigo para o fim?
No instante em que se calou a Discípula carregou para ele. Um caminhante que se pôs à sua frente foi atingido na cabeça, um outro no lado, ficando ambos mortos no chão. A Discípula avançava para ele, com a intenção de o atingir no lado, mas ele esquivou-se da mesma forma que já havia feito, ficando virado de frente para as costas dela. Ao mesmo tempo a Aprendiza tentou atingir-lhe uma das mãos. A Discípula havia sido no entanto bem treinada e esquivou o golpe da sua adversária e contra-atacou, atingindo-a no braço, quebrando-o e preparava-se para a atingir na cabeça quando uma das suas mãos pareceu rebentar. Imediatamente perdeu controle da vara e largou-a. Um corvo debicava-lhe a mão enquanto outro voava em direcção ao Exilado, largando uma vara estreita e alta, toda ela lisa e escura. Assim que o Exilado empunhou a sua vara de combate ambos os corvos se dirigiram ao alto de uma das árvores.
-Vejo que continuas com apetência para os mais fracos Discípula. Anda cá e bate-te com alguém à tua altura... - os olhos dele já não eram olhos humanos, pareciam negros como a noite, como se por dentro todo ele fosse uma sombra escura. Nessa escuridão parecia brilhar uma fúria assassina.
-Não. Tu... Vais pagar por tudo! - pegou na vara dela e tentou defender-se, mas ele havia crescido muito para além da capacidade dela. O primeiro golpe dele desfez-lhe a vara em duas. Este golpe gelou o sangue da Discípula. Aquelas varas haviam sido envelhecidas pelo fogo e conseguiam aguentar vários golpes. Aquele único golpe partiu-lhe a vara e a confiança, a partir daqui só lhe restava um destino. Ele no entanto não parou apenas com um golpe. Revelando um sadismo que ninguém lhe conhecia, desferiu imediatamente um segundo golpe, o qual partiu o braço da mão ainda boa, e um terceiro golpe na bacia, o que lhe imobilizou uma das pernas, para em resposta lhe partir a outra. A Discípula só conseguia urrar de dor e as lágrimas era um rio na sua face. A Vidente gritava por piedade e avançava já em direcção a ele quando o Passivo e o Obreiro a agarraram e obrigaram a assistir ao massacre.
Com a Discípula estendida no chão, ele atingiu-a repetidamente nas pernas, até as pernas delas não passarem de membros flácidos.
-Pareceu-me que perfuraste um pulmão um Caminhante, durante a tua corrida. - e atingiu-a violentamente num lado. Para ela a pancada significou imediata dificuldade em respirar e uma dor aguda. - Já agora aproveito e furo-te os dois. - Uma pancada no outro lado, a sensação de falta de ar. Por esta altura a Discípula já não gritava, faltava-lhe o ar e limitava-se a soluçar assustada. Estava no limite da consciência, o desmaio e o negro que se lhe seguia eram iminentes. - E também me parece que rachaste uma cabeça! - Deu-lhe uma pancada na cabeça, mas não tão violenta que, ela perdesse os sentidos. Foi assim, ainda na posse de algum grau de consciência que ela sentiu a vara dele perfurar-lhe o peito e parar-lhe o coração. - Adeus. - disse ele, com o ar mais impávido e sereno.
domingo, maio 14, 2006
Construí esta fantasia que alimentas devagar, abrindo em mim abismos de solidão intercalados… És tu, eu sei, naquela música, naquele gesto… oiço os tons preguiçosos da tua voz nos monólogos dos outros… estou perdida no mundo, tentando seguir o percurso dos teus passos… abres-me o peito e agarras-me o coração… sinto-o pulsar nas tuas mãos e entrego-me palpitante e destemida a um destino trágico… és tu, sempre tu, só tu…
segunda-feira, maio 08, 2006
Concurso literário de Santiago do Cacém
O meu texto veio de encontro a uma ideia do Norsk TørskfisK, que eu e o Stein apoiamos.
A minha pergunta é a seguinte:
Querem que a PENA concorra com os textos dos autores que assim autorizarem, como um todo? Ou então se quiserem podem concorrer indivualmente.
Podem ver o regulamento - ver regulamento aqui-
Quem concordar deixe aqui nos comments a vossa intenção ou por email. Caso o número de interessados justifique submeteremos a concurso.
(Não se esqueçam que caso queiram é necessário corrigir alguns erros dos textos e que cada um se responsabilizará pelo seu :P)
A minha pergunta é a seguinte:
Querem que a PENA concorra com os textos dos autores que assim autorizarem, como um todo? Ou então se quiserem podem concorrer indivualmente.
Podem ver o regulamento - ver regulamento aqui-
Quem concordar deixe aqui nos comments a vossa intenção ou por email. Caso o número de interessados justifique submeteremos a concurso.
(Não se esqueçam que caso queiram é necessário corrigir alguns erros dos textos e que cada um se responsabilizará pelo seu :P)
domingo, maio 07, 2006
Contos do Exílio - O Regresso, parte V: O Confronto
-Quando foi que a Vidente entrou na aldeia dos Caminhantes?
-Faz amanhã duas Fases.
Silêncio. De repente ele solta um riso discreto. Era a primeira manifestação de alegria desde que haviam iniciado a caminhada.
-Disseste que ela estava assustada e que queria as minhas varas, não foi?
-Assim por alto foi isso.
Soltou então duas palavras imperceptíveis e os corvos que os haviam seguido à distância aterraram-lhe nos ombros. Falou-lhes num dialecto parecido com folhas secas a serem pisada e ramos a partirem-se. Quando se calou os corvos esvoaçaram, cada um na sua direcção.
-Isso é para me fazeres acreditar que consegues falar com aves?
-Não te quero fazer acreditar em nada. O que te digo é que não são só aves. - Ficou a olhá-la e depois continuou. - Preciso da tua ajuda. Vai até à aldeia dos Caminhantes e diz a todos os que estão connosco para virem ter comigo aqui amanhã à noite. Eles que venham preparados para ficarem cá se necessário. Entretanto tenho assuntos pendentes a tratar... - Calando-se caminhou em direcção à floresta, a sua vara de caminhante numa mão e o cajado do velho na outra. A sua vara de combate, essa não estava em lado nenhum!...
A Discípula caminhava apressada para a aldeia dos Nómadas quando se apercebeu que um corvo voava em seu redor. Primeiro em círculos largos, depois tão perto dela que as penas dele por duas vezes lhe provocaram escoriações na face. Quando parou reparou que o corvo voou para longe dela, mas quando retomou a marcha ele reaproximou-se.
-A menina não sabe pedir com delicadeza a um simples pássaro que a deixe sossegada?
Aquela voz que se lhe dirigia, vinda de trás de si, era estranhamente familiar, mas não podia ser, aquela voz havia desaparecido há muito tempo!
-Não... - disse enquanto se virava.
-Olá Discípula, voltei! Não estás a sonhar, não estás a ver coisas, voltei e esse corvo é um servo meu. Sabes quem servem os corvos não sabes?
O silêncio entre os dois era imenso e absorvia os pequenos sons da floresta. Entre eles não se pronunciou palavra, mas ela olhava-o com um misto de desdém e desafio.
-Ela era capaz de gostar de te ver agora. Podia ser que percebesse todas as escolhas erradas que fez. Esse teu ar não esconde a estupefacção, não me tentes fazer passar por parvo! - Calou-se. Como não obtivesse resposta continuou. - Não faz mal. Ela vai perceber!
O que se passou a seguir foi demasiado rápido para que a Discípula se apercebesse. Lembra-se de avançar para ele, vara apontada à cabeça, mas quando estava quase a atingi-lo ele rodou para o lado de fora dela e atingiu-a violentamente na nuca. A seguir foi a penumbra.
A Vidente encontrava-se na sua tenda, inalando fumos, quando na aldeia começou um burburinho imenso. Esse mumúrio inicial cresceu até que se tornou o som de uma multidão. Sem hesitar lançou um dos seus habituais gritos estridentes, que gelavam o sangue aos habitantes do vale. Como não provocasse efeito nenhum audível, levantou-se e dirigiu-se ao exterior. O que viu deixou-a abismada. Ali, no meio da aldeia, encontrava-se o Exilado, olhando-a nos olhos com uma expressão inabalável de triunfo. Ao seu lado, estendida no chão e inconsciente, a sua predilecta. Em seu redor todos os Nómadas incrédulos com a cena que presenciavam.
-Já há muito tempo, que não nos falamos. Vi os mesmos sinais que tu e soube o que procuras. Uma vara tenho-a comigo, a outra está guardada. Posso entrar para falar contigo a sós, ou queres que o faça à vista de todos?
-Ela... - disse apontando para o corpo inanimado no chão.
-Acordará a qualquer altura.
-Segue-me. - e dirigiu-se para a cabana dela.
Entraram ambos na cabana, enquanto o resto da tribo observava o corpo inerte da Discípula.
-Estou velha demais para lutar contigo...
-Quando se recusa uma luta tem-se o cuidado de não a procurar.
-Não fui eu que entrei pela aldeia adentro.
-Não fui eu que te expulsei, nem fui eu que procurei as tuas armas perdidas.
-Porque as minhas nunca se perderam.
-As minhas também não!
-De qualquer das formas, já não sou a mesma.
-Nisso tens razão. Aparentas não estar fisicamente capaz, mas sei ver as tuas mentiras. Conheço os teus poderes e a tua força. Vim aqui apenas para dizer que aceito o teu desafio.
-O meu desafio?
-O que deixaste escrito nas cinzas da Primeira Clareira...
-Viste-as portanto?
-Vi-as portanto! Os termos são os seguintes daqui a duas noites, nessa mesma clareira espero-te com os meus. Levas certamente os teus, certo?
-Esperas-me com os teus? Quais teus? O povo disperso, os perdidos e sem rumo? Falas desse povo? Os Caminhantes já não têm o sangue puro e a chama do caminho não arde na aldeia desde há muitas Viagens. Hoje nem sequer se lhes pode chamar uma sombra do que foram outrora os Caminhantes. Os teus, é isso que lhes chamas? Os únicos de valor entre os teus preferem seguir-me e residirem na aldeia dos Nómadas a alinharem nas passeatas dos Caminhantes e tomarem o seu caminho. É com esse povo que me esperas?
Durante uns intantes nenhum dos dois se falou. Olhavam-se olhos nos olhos e dir-se-ia que travavam uma batalha silenciosa. Na face de um e outro escorriam gotas de suor, fruto da tensão aliada ao calor extremo dentro da cabana. Finalmente ele optou por responder:
-Aqueles que tomo por meus não te seguiram, nem te seguirão. A Chama que dizes estar apagada ainda brilha o suficiente para criar sombras onde tu e eu não vemos. Tens o dom da Visão. Eu também o ganhei na minha ausência. Ambos sabemos que não viverás outra Viagem. O que ambos não sabemos é se eu viverei essa mesma Viagem. O que ambos não sabemos é o como as coisas acontecem. O que não sabemos é se as sombras são as tuas se as minhas. Sei que tens poder sobre os Anciãos, mas isto é entre tu e eu. No teu lugar deixava os Anciãos em sossego.
-Que te leva a crer que os poderia usar?
-Conheço-te e às tuas acções melhor do que tu pensas! Tentaste usá-los contra mim uma vez. Tentaste usá-los contra a aldeia dos Caminhantes. Desta vez se os tentas usar deixo-te viva para veres os que tomas por teus tombarem à minha mercê e nem penses que ficas para o fim, deixo-te viva, com a dor...
Ambos voltaram então ao duelo silencioso, mas como nenhum dissesse mais nada ele levantou-se e ao sair acrescentou:
-Dou-te uma noite para reflectires sobre o que queres fazer. Conheces os meus termos, mas acrescento uma nova exigência: que vás sozinha. Se fores sozinha esperar-te-ei sozinho também, senão por cada um que te acompanhe, um outro o esperará, palavra do Caminhante. - dizendo isto saiu porta fora e deixou-a entregue aos seus pensamentos.
-Faz amanhã duas Fases.
Silêncio. De repente ele solta um riso discreto. Era a primeira manifestação de alegria desde que haviam iniciado a caminhada.
-Disseste que ela estava assustada e que queria as minhas varas, não foi?
-Assim por alto foi isso.
Soltou então duas palavras imperceptíveis e os corvos que os haviam seguido à distância aterraram-lhe nos ombros. Falou-lhes num dialecto parecido com folhas secas a serem pisada e ramos a partirem-se. Quando se calou os corvos esvoaçaram, cada um na sua direcção.
-Isso é para me fazeres acreditar que consegues falar com aves?
-Não te quero fazer acreditar em nada. O que te digo é que não são só aves. - Ficou a olhá-la e depois continuou. - Preciso da tua ajuda. Vai até à aldeia dos Caminhantes e diz a todos os que estão connosco para virem ter comigo aqui amanhã à noite. Eles que venham preparados para ficarem cá se necessário. Entretanto tenho assuntos pendentes a tratar... - Calando-se caminhou em direcção à floresta, a sua vara de caminhante numa mão e o cajado do velho na outra. A sua vara de combate, essa não estava em lado nenhum!...
A Discípula caminhava apressada para a aldeia dos Nómadas quando se apercebeu que um corvo voava em seu redor. Primeiro em círculos largos, depois tão perto dela que as penas dele por duas vezes lhe provocaram escoriações na face. Quando parou reparou que o corvo voou para longe dela, mas quando retomou a marcha ele reaproximou-se.
-A menina não sabe pedir com delicadeza a um simples pássaro que a deixe sossegada?
Aquela voz que se lhe dirigia, vinda de trás de si, era estranhamente familiar, mas não podia ser, aquela voz havia desaparecido há muito tempo!
-Não... - disse enquanto se virava.
-Olá Discípula, voltei! Não estás a sonhar, não estás a ver coisas, voltei e esse corvo é um servo meu. Sabes quem servem os corvos não sabes?
O silêncio entre os dois era imenso e absorvia os pequenos sons da floresta. Entre eles não se pronunciou palavra, mas ela olhava-o com um misto de desdém e desafio.
-Ela era capaz de gostar de te ver agora. Podia ser que percebesse todas as escolhas erradas que fez. Esse teu ar não esconde a estupefacção, não me tentes fazer passar por parvo! - Calou-se. Como não obtivesse resposta continuou. - Não faz mal. Ela vai perceber!
O que se passou a seguir foi demasiado rápido para que a Discípula se apercebesse. Lembra-se de avançar para ele, vara apontada à cabeça, mas quando estava quase a atingi-lo ele rodou para o lado de fora dela e atingiu-a violentamente na nuca. A seguir foi a penumbra.
A Vidente encontrava-se na sua tenda, inalando fumos, quando na aldeia começou um burburinho imenso. Esse mumúrio inicial cresceu até que se tornou o som de uma multidão. Sem hesitar lançou um dos seus habituais gritos estridentes, que gelavam o sangue aos habitantes do vale. Como não provocasse efeito nenhum audível, levantou-se e dirigiu-se ao exterior. O que viu deixou-a abismada. Ali, no meio da aldeia, encontrava-se o Exilado, olhando-a nos olhos com uma expressão inabalável de triunfo. Ao seu lado, estendida no chão e inconsciente, a sua predilecta. Em seu redor todos os Nómadas incrédulos com a cena que presenciavam.
-Já há muito tempo, que não nos falamos. Vi os mesmos sinais que tu e soube o que procuras. Uma vara tenho-a comigo, a outra está guardada. Posso entrar para falar contigo a sós, ou queres que o faça à vista de todos?
-Ela... - disse apontando para o corpo inanimado no chão.
-Acordará a qualquer altura.
-Segue-me. - e dirigiu-se para a cabana dela.
Entraram ambos na cabana, enquanto o resto da tribo observava o corpo inerte da Discípula.
-Estou velha demais para lutar contigo...
-Quando se recusa uma luta tem-se o cuidado de não a procurar.
-Não fui eu que entrei pela aldeia adentro.
-Não fui eu que te expulsei, nem fui eu que procurei as tuas armas perdidas.
-Porque as minhas nunca se perderam.
-As minhas também não!
-De qualquer das formas, já não sou a mesma.
-Nisso tens razão. Aparentas não estar fisicamente capaz, mas sei ver as tuas mentiras. Conheço os teus poderes e a tua força. Vim aqui apenas para dizer que aceito o teu desafio.
-O meu desafio?
-O que deixaste escrito nas cinzas da Primeira Clareira...
-Viste-as portanto?
-Vi-as portanto! Os termos são os seguintes daqui a duas noites, nessa mesma clareira espero-te com os meus. Levas certamente os teus, certo?
-Esperas-me com os teus? Quais teus? O povo disperso, os perdidos e sem rumo? Falas desse povo? Os Caminhantes já não têm o sangue puro e a chama do caminho não arde na aldeia desde há muitas Viagens. Hoje nem sequer se lhes pode chamar uma sombra do que foram outrora os Caminhantes. Os teus, é isso que lhes chamas? Os únicos de valor entre os teus preferem seguir-me e residirem na aldeia dos Nómadas a alinharem nas passeatas dos Caminhantes e tomarem o seu caminho. É com esse povo que me esperas?
Durante uns intantes nenhum dos dois se falou. Olhavam-se olhos nos olhos e dir-se-ia que travavam uma batalha silenciosa. Na face de um e outro escorriam gotas de suor, fruto da tensão aliada ao calor extremo dentro da cabana. Finalmente ele optou por responder:
-Aqueles que tomo por meus não te seguiram, nem te seguirão. A Chama que dizes estar apagada ainda brilha o suficiente para criar sombras onde tu e eu não vemos. Tens o dom da Visão. Eu também o ganhei na minha ausência. Ambos sabemos que não viverás outra Viagem. O que ambos não sabemos é se eu viverei essa mesma Viagem. O que ambos não sabemos é o como as coisas acontecem. O que não sabemos é se as sombras são as tuas se as minhas. Sei que tens poder sobre os Anciãos, mas isto é entre tu e eu. No teu lugar deixava os Anciãos em sossego.
-Que te leva a crer que os poderia usar?
-Conheço-te e às tuas acções melhor do que tu pensas! Tentaste usá-los contra mim uma vez. Tentaste usá-los contra a aldeia dos Caminhantes. Desta vez se os tentas usar deixo-te viva para veres os que tomas por teus tombarem à minha mercê e nem penses que ficas para o fim, deixo-te viva, com a dor...
Ambos voltaram então ao duelo silencioso, mas como nenhum dissesse mais nada ele levantou-se e ao sair acrescentou:
-Dou-te uma noite para reflectires sobre o que queres fazer. Conheces os meus termos, mas acrescento uma nova exigência: que vás sozinha. Se fores sozinha esperar-te-ei sozinho também, senão por cada um que te acompanhe, um outro o esperará, palavra do Caminhante. - dizendo isto saiu porta fora e deixou-a entregue aos seus pensamentos.
quarta-feira, maio 03, 2006
Cansado…
Cansado de lutar….
Cansado de ter de me erguer quando apenas me quero deitar…
Cansado de sorrir quando apenas quero chorar… cansado…
Cansado…
Cansado de te perder todos os dias, quando já te perdi há muito…
Cansado de ouvir o que não quero, ainda que verdades… cansado…
Cansado…
Cansado de não me encontrar, mesmo não estando perdido…
Cansado de ter de seguir, quando não vejo o caminho… cansado…
Cansado…
Cansado de sofrer, de não te ter, cansado de te procurar, de não te encontrar, cansado de mim, cansado de ti… cansado…
[de te amar
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