quinta-feira, março 22, 2012

A Amante

Tens outra?
Perguntas e eu respondo
Tenho
Ficas sem resposta
Não esperavas esta honestidade
Mas se eu dissesse
Não
Procurarias que dissesse
Tenho
E tu então poderias dizer
Eu sabia
Quando não sabias
Quando agora te digo
Tenho
Continuas sem saber

Não sabes como gosto de acordar
Junto do seu coração
O sangue que começa a fluir
O burburinho que aumenta
E a cor que retorna aos membros
Com o Sol que a ilumina
A reflectir em poças de suor
Aqui e ali na sua pele negra e áspera
Que lhe lavam pela manhã
Remelas acumuladas pelos cantos
Bolas de cotão que restam ainda
Das noites loucas nos bares
Dos amantes nas esquinas
Dos bêbados cambaleantes nas avenidas

Saio pela manhã para a ver
Corro-lhe sobre os dedos pela tarde
Ela chama-me e deixa que a abrace
Que lhe sinta os humores
Que com ela partilhe frio e calores
Sem nunca me dizer nada
Sem nada me proibir
Até que a dada altura retorno para o seu coração
E parto para ti, a minha mulher

Tens outra?
Tenho
Mas tu não sabes
Nem agora que te digo
Tenho
Que a outra que tenho não é mulher
É uma cidade à beira-mar
Que me fascina com sombras e me conquista!