terça-feira, dezembro 21, 2004

Desejo...

Paixão arrebatadora e quente
Que incontrolável me invade
Torna o meu olhar ardente
E cheio de desejo, beijando-te
Com insana vontade...

Mãos trémulas e desejosas
Percorrem teu corpo tentador
Determinadas, embora ansiosas
Por uma carícia ardente...
Em mim, todo o teu calor!

Os teus beijos me envolvem
Lábios húmidos, insaciáveis
Que ao paraíso me devolvem...
Horas parecendo segundos
Cheios de prazeres inigualáveis...

Dois corpos que se abraçam
Unidos num ritual de amor
Dois pulsares que se entrelaçam
Num nó, momentaneamente, eterno...
Clímax de prazer entontecedor!

Sinto-te, sentes-me...
Dois seres, sentindo como um só...

quinta-feira, dezembro 09, 2004

Opostos

Gosto de ver o sol a se deitar,
O céu dourado ao entardecer.
Em pensamentos me perder
Antes de na noite navegar.

Observas o sol nascente
Que começa a manhã a tingir.
O tempo parece fugir...
De ti, eternamente...

Lentamente começo a despertar,
O quotidiano aperta-me feroz.
Mais um dia, quiçá atroz,
Destes em que me pareço arrastar...

Chegas a casa, cais na cama,
Fechas os olhos, procuras dormir...
O corpo começa a fugir
No entorpecimento que te chama.

Será que alguma vez te encontrei?
Será que alguma vez chamaste por mim?
Mundos opostos,
Verdades suspensas...
Na igualdade me despenhei,
Nas coincidências fiquei assim.
Cansei-me de pressupostos,
Mudei as minhas crenças...
E sem saber onde parei
Espero que do nada... surja um fim.

sexta-feira, dezembro 03, 2004

Inconsciente

“A razão chama por mim,

Na realidade do cansaço,

Na cama que desfaço,

Acaba mais um dia, enfim…”


Pelas ruas semi-vidradas do inconsciente vibram vozes nas janelas, nelas sorriem pessoas alegremente. São como tons de cristal a organizar a minha orquestra mental.
A melancolia, numa janelinha ao fundo, quebra a organização musical. Partem-se vidros em infinitos estilhaços como refugiando-se na sua pequenez. A janelinha aproxima-se transformando a melancolia em malvadez. Já não há pessoas a sorrir, apenas rostos a partir, escondendo-se do mundo, tentando refugiar-se nas suas origens, mas a dor acaba por derrotar-me a mim também.

“O coração olha para ti,

Na imaginação da dor,

Na cama uma chama de amor,

Acabo mais uma noite, sem ti…”

Ecos relembram-me do mundo imaginário, como um aviso. Talvez nem tudo seja imaginário, talvez nem tudo seja um sonho, talvez algum pessimismo… Oriento-me em direcção ao que não sou, ao que não acredito. O medo persegue-me e não desaparece… Tudo em mim enlouquece…


“Na escuridão olho pelo mundo,

E não o vejo,

Com um desejo

De querer sair do fundo…”

Sem nada a apoiar meu inconsciente tento adormecer novamente.

quinta-feira, dezembro 02, 2004

Contos do Exílio - O Regresso, parte II: Encontro (cont.)

Exilado... Vêm-lhe à cabeça imagens de uma aldeia, um grupo de adultos a olhar para ele, um grupo de crianças na brincadeira, uma caçada na floresta! Exilado... A palavra faz badalar um sino na sua cabeça, acorda nele a memória do antigamente, memória essa que lhe refresca a alma como se da brisa do mar, na orla do Grande Mar se tratasse!

-Levanta-te Filho da Montanha! Aqueles que um dia chamaste pais esquecem-se de ti, a cada dia que passa e tu, preso neste teu exílio do mundo, acentuas o esquecimento, esqueces-te de quem és, de quem foste e de quem tens de ser! Levanta-te que não és nenhuma criatura da floresta, não te vergues como elas se vergam perante ti.

Toda e cada palavra que o velho pronunciava, despertavam-no para a sua humanidade. Sentia-se agora como não se sentia havia já muitas Viagens... Sentia-se um Homem Novo, sentia que tinha acabado de nascer só que o mundo lá fora não era estranho, só os sentimentos! Levantou-se e caminhou em direcção ao velho, que entretanto não mexera mais nenhum músculo para além dos necessários para levantar levemente um dos cantos da boca, gesto que lhe acentuava as muitas rugas do rosto.

-Tenho fome... Tenho sede... - balbuciou, a sua voz entaramelada dada as poucas palavras que havia pronunciado desde que chegara à floresta. Parecia-lhe que era a primeira vez, desde sempre, que se dirigia a alguém. Não andava longe desta realidade uma vez que essa última vez havia já sido apagada da sua memória e certamente não lhe havia transmitido a satisfação que este encontro lhe trazia.

-Acredito, Filho da Montanha, Exilado do teu povo, Vítima Injustiçada. Senta-te comigo junto do fogo, trouxe-te comida e vestes. - dizendo isto sentou-se. O Exilado sentou-se ao seu lado. Sentia agora na face o ar quente que emanava da fogueira. Comeu do pão que o velho trazia, saciando-se como se de um animal de grande porte se tratasse. De seguida bebeu do cantil do velho, que lhe assegurava que era água, no entanto não havia água em toda a floresta que fosse tão refrescante e que mais do que saciar a sede, aliviava os pensamentos e parecia limpá-lo por dentro. Quando acabou o velho ordenou-lhe que dormisse ali no chão, junto à fogueira. "A manhã traz consigo um novo dia. Que estejas recuperado para o enfrentares e à tua nova vida."