sexta-feira, novembro 30, 2007

Subitamente

Subitamente algo me aconteceu, enquanto vivia a minha vida. Subitamente comecei a sentir-me deprimido, subitamente comecei a sentir-me stressado. Subitamente nada do que vivia fazia sentido.
Sabes o que aconteceu? Sabes o que me deu?

A minha vida está a mudar todos os dias,
de todas as maneiras possíveis.
Nada disto é o que parece,
eu continuo a ser quem sou.

Por isso ajuda-me.
Dá-me as tuas mãos e vem comigo,
e assim não poderei fugir.

Dá-me apoio nos sonhos,
que nunca são o que parecem.
Mudemos a realidade ao mundo.

Subitamente algo me aconteceu enquanto vivia o meu sonho. Subitamente comecei a sentir-me acordado, subitamente comecei a sentir-me apavorado. Subitamente tudo começou a fazer sentido.

quinta-feira, novembro 22, 2007

Mais um Outono

Sinto o frio e o vento...
A pele seca, os lábios também.
Sinto a chuva e o ar sombrio...
A voz rouca, trovejando além.

A sombra em mim desapareceu,
O céu cobriu e a água à terra desceu...

Sinto a luz e o som...
A natureza relampejante.
Sinto o medo e a aproximação...
A energia trespassante.

O medo em mim desvaneceu,
E a terra molhada ao céu agradeceu...

segunda-feira, novembro 05, 2007

É uma dor que se agrava quanto mais me minto

Convenço-me que não. Que nada do que sinto é real, que dói-me aqui o peito e este aperto é do calor, é falta de ar. Só pode ser. Afinal, 33 graus são suficientes para a taquicardia. A roupa é pouca. A pele queima os ossos e tudo se estreita quando te penso. Mas, não. Não te penso. Não penso. Sangro demais por dentro para pensar. É do Verão esta ferida, esta desidratação de amor. O melhor mesmo é beber qualquer coisa fresca que me acaricie a boca e me gele o sentir. Saio talvez para lanchar, peço um sumo de laranja bem frio, um pastel de nata, uma torrada, qualquer coisa que me distraia os dedos da escrita e a alma de ti. E pronto, deve bastar. Pego no carro, abro a capota e a aflição não passa. Sem nó nem piedade, um sufoco apodera-se do corpo. Pesam-me os olhos, as mãos. Primeira, segunda, 60 km/hr e o vento a esvoaçar-me o cabelo e o juízo. E arde-me a saudade. Persuado-me que não é saudade. Claro que não é saudade. Como pode haver saudade de algo que nunca existiu senão no coração alcatifado? E eu afrontada, vidrada no alcatrão que sempre me abraça a mágoa e a vontade de fugir. Acelero sempre ao sinal vermelho. Tenho pressa de viver, de tocar o céu. Que ideia parva, tocar o céu. É tão mais fácil bater com a cara no chão, desfazer todos os sonhos nos rails do impossível e da desilusão. Travão a fundo. Milonga del Angel do Piazzola a vibrar-me os sentidos. Chega. Páro. Merda para o calor, a culpa é do aquecimento global e das pessoas. Que raio de ideia de destruirem o planeta e, aos poucos e poucos, a minha respiração. Dou por mim quase em sufoco por não te ter, mas a culpa não é tua. É mesmo desta brasa que me rasga a paz e o viver. Que culpa podes ter tu. Nenhuma, obviamente. Talvez devesses sossegar-me a inquietação com os teus braços. Estremecer-me com a tua boca nos meus lábios, mas não. Agora está muito calor. A ansiedade mistura-se com este ardor incandescente e com a inflamação do meu peito. Uma bebida bastaria e já falta pouco até à pastelaria. Entro. O pior já passou. Aqui o ar condicionado, quase gélido, insensível a este fogo e a ti basta. Mas, não basta nada. Porra, logo havias de ter decidido vir para aqui também tomares um chá para acabares com o glacial que te cobre o querer. Raios me parta a escolha e este desassossego. Digo boa tarde, só porque está calor. E para me convencer que não. Que nada do que sinto é real, que dói-me aqui o peito e este aperto é do calor, é falta de ar. Afinal, amar alguém assim é impossível.

Vanessa Pelerigo