sexta-feira, agosto 31, 2007

O Poema deles

Este poema é dedicado aos 4 anos do Blog d' A Revista P.E.N.A. Quatro anos de puro prazer literário. Para quebrar a rotina de reflexão, escrevo este poema dedicado às milhares de ratoeiras e tentativas que todos nós já tentamos pregar uns aos outros: "Eles vieram?". Por tudo isso, "O Poema deles", dos gajos sem juízo e enlouquecidos, de todos nós. Bem haja...

Todos perguntam por eles,
Numa rotineira paixão.
Não há saída ou diversão,
Que arrefeça essa tentação.

Soa sempre a companheirismo,
Na igreja ou no campismo,
Num bar ou a jantar,
Todos gostam de treinar.

Se és novo camarada,
E o tempo não pára,
Alguém te tentará a piada,
Para estimular sua tara.
Não tenho a certeza como cheguei aqui... A minha cabeça dói-me e não tenho uma noite decente de sono à semanas. Não era suposto ser assim... Suponho que sempre foi.

Sempre foi aqui que estive. Sempre será aqui que tudo se passa...
- Qual a tua fraqueza? - pergunta ela

A minha fraqueza... Como não soubesses. Sempre soubeste tudo sobre mim, sabes que eu hesito na resposta, sabes que eu sei mas não consigo dizer, como se o sair da minha cabeça para a realidade deste sitio fosse tornar a minha fraqueza mais real.

- A minha fraqueza és tu... - Sempre foste, sempre o soubeste, sempre... A minha cabeça dói mais uma vez e não quero que seja assim... Não quero perder estes pensamentos. Quero ser fraco para me consolares.

- A minha fraqueza é o amor... - Detesto como perco o controlo, como aquilo que guardo cá dentro de mim sai tão facilmente e como perco meu auto-respeito assim. Quero ser forte.

- Qual a tua fraqueza? - pergunta ela enquanto seus olhos vêem através dos meus. Enquanto morde o lábio à medida que vê a minha alma. Não fujo, minha cabeça dói-me demasiado para isso enquanto o meu controlo jaz em ruinas a seus pés.

- Tu interesssas-me... - Estas palavras atravessam-me assim ditas, ela não vê o meu amor a seus pés, não vê que me tortura enquanto olho nos seus olhos à espera de ver o que ela vê... à espera de sentir que qualquer fraqueza que possa ter é perdoada.

Só quero amar... ser amado é algo para o qual não tenho controlo, é algo que quero apenas quando passar esta dor de cabeça, apenas quando tiver conseguido dormir.

...

Acordo e sento-me... Ela acende a luz e pergunta que se passou... Nada, volta a dormir, tenho uma dor de cabeça...

segunda-feira, agosto 27, 2007

Nevoeiro

O homem rouco tenta projectar a sua voz, no bar cheio... noite voraz, sinto-me esvanecer... a memória é a mesma, o nevoeiro, o rio...
Sou um ser que tenta nascer, uma certeza que parece morrer, na memória. Essa não está na rouquidão daquele homem, que murmura no caos do café.

8 da manhã e o nevoeiro levanta-se lentamente no rio... Nem café, nem abraço, nem palavras sábias, ou alucínio de uma qualquer cerveja. É o mundo alegremente cruel, tornando-nos frios a cada passo. O homem murmurava rouco contando as histórias da sua existência... eu sou apenas um jovem a despertar para as agruras da vida. Feliz por fora, rasgado no coração. A viagem, os raios de sol rompendo as árvores, aquele abraço que são tantos abraços, e o velho rouco cujo os abraços eram apenas a memória naquela noite ruidosa... A minha única saudade é a da manhã solitária, dez, quinze, vinte minutos atrás...

O homem é o sábio do tempo que um dia serei... projecção futura da minha existência, histórias alegres para contar, uma tristeza no olhar. Agora sou um banal vulto... projectado no rio, quando o nevoeiro por fim levanta.

quarta-feira, agosto 01, 2007

Sonho

Abriu a garrafa lentamente… ritualmente, aliás! Como fazia sempre! Para ele era mais que um gesto! Sentiu o odor do vinho ainda por respirar! Serviu um copo e olhou-o de soslaio!

(ela deve estar a chegar…)

Verificou uma última vez se tudo estava no sítio… Calmo, não apressado ou nervoso… Segui lentamente arrastando os pés pela casa! Verificou tudo pelo menos três vezes! Acendeu, finalmente, umas velas! E deixou-se ficar sentado no sofá…

(com a televisão ligada)

Sentiu o odor do vinho entrar-lhe nos pulmões! Um ritual, é certo!

Deixou-se ficar mais um bocado… E outro… Enquanto esperava por aquele toque de campainha… Aí, sim… O seu coração iria bater forte… Não sabia se estaria preparado para esse bater… Não sabia nada! Neste momento e em outros… Estava muito ansioso… Muito mais que antes, hoje tudo teria de ser perfeito… Nada podia falhar!

Mas estava estranhamente calmo! Tão estranho que nem consigo conseguia lidar… Estava difícil se perceber a si próprio! Olhou pela janela e viu a Lua Cheia!

(e a Lua olhou para ele!)

Hoje era um dos dias mais importantes da sua vida… O Mais Importante até agora!

(a Lua sorriu-lhe, ou ele assim o entendeu!)

Respirou fundo! E decidiu que não o iria provar enquanto ela não chegasse…

Pensou em telefonar-lhe… mas depois pensou melhor… é má ideia… vai pressioná-la e estragar tudo... E isso, era última coisa que pretendia fazer! Também não queria fumar… Que fazer, então, enquanto espera!?

(a televisão continua ligada!)

Sentia-se enlouquecer! Pouco a pouco… A loucura entrava em si! Há pouco, calmo como um rochedo que todos os dias enfrenta o mesmo mar e as mesmas marés com determinação… E agora tempestuoso como esse mesmo mar! Esse mesmo mar… Esse mar que todos os dias tenta, em vão, derrubar o rochedo… Cada vez mais nervoso e impaciente!

(sentiu-se, ele mesmo, parte integrante dessa luta milenar…)

Verificou tudo uma última vez…

(Tlim… Tlam…)

A campainha tocou! Uma vez… É ela pensou… O seu coração precipitou-se a sair do seu peito… O suor escorria-lhe pela testa… O respirar intenso deixava adivinhar aquele nervoso, a que costuma chamar-se miudinho, mas que de pequeno não tem nada… Aquele calafrio no fundo das costa… Aquele formigueiro na barriga…

Precipitou-se para a porta e abriu-a, colocando o mais belo sorriso que pensava conseguir…

No princípio não acreditou no que via… pensou estar a ter um pesadelo horrível… Depois, como não acordou entretanto, começou a pensar que de facto era real… Mas continuava a não querer acreditar… Deixou que uma pequena lágrima lhe escorresse pelo rosto e foi sentar-se na poltrona…


(Entretanto, numa costa longínqua o mar derrubou uma rocha)