domingo, dezembro 07, 2003

Electrões

E por aqui ficamos, seres pensantes sentados ou em pé lendo, reflectindo, analisando. A pouco e pouco vamo-nos acomodando, devagar e sem sentido directo, bramando de vez em quando só para dizermos que estamos aqui, vivos, lutadores, fortes, duros de roer...fracos, sem espírito e sempre apáticos. São apenas nessas vezes que nos movemos da nossa orbita de Bohr à volta de um núcleo que é a nossa vida e avançamos para outro núcleo sem nunca podermos estar sozinhos, é impossível isolar-nos de um núcleo, não existimos sem ele, é a “nossa” vida (e aqui foco a palavra nossa), é a familiaridade que nos dá segurança e impede o nosso salto para a escuridão para onde nos atiraríamos num acto de coragem tão louco como fútil. Mas existe quem dê esse salto à procura de um núcleo que não se desintegre, à procura duma prova de coragem só para dizer que está vivo e nós acreditamos, sabendo que se o salto for bem sucedido nunca mais voltaremos a ver aquele pobre electrão.
Talvez seja pessimismo que me invade a mente à medida que vou escrevendo estas palavras, talvez sejam efeitos de uma fusão nuclear que me invade a vida e a mente afectando e quase me levando a degenerar na minha órbita, talvez sejam sonhos que me invadem a mente, talvez... Tantas possibilidades e eu estou aqui preso mas livre ao mesmo tempo, tentado gritar, tentando exprimir-me para dizer “Estou vivo”, mas ninguém ouve excepto meu núcleo.

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