sexta-feira, março 31, 2006

Contos do Exílio - O Regresso, parte V: O Confronto

(continuação)

-E tu? Porque é que encontras tão longe da aldeia?
-Procurava as tuas varas!
-As minhas varas?
-Sim! Vai para uma Fase da Deusa-Lua que a Vidente e a Discípula entraram na aldeia dos Caminhantes e provocaram uma algazarra a exigir que os caminhantes lhes dessem as varas deles. Os mais novos deram logo, mas alguns dos mais velhos recusámo-nos. Ao contrário do que seria habitual não começou histérica e aos gritos, mas murmurou algo à Discípula e saíram as duas. Como aquilo foi tão estranho segui-as e vi que se dirigiam para a aldeia dos Nómadas.
-A da Montanha?
-Não. Têm uma aldeia no terrenos da tribo, espaço conquistado aos caminhantes... - Fez-se um silêncio profundo e triste. -Mas como estava a dizer, - continuou - quando chegaram à aldeia reuniram-nos todos e mandaram-nos para as montanhas procurar as tuas varas. Ela explicou-lhes mais ou menos onde procurar, mas muitos já não se lembram onde é o Grande Vale. A Discípula no entanto lembra-se e eu seguia-a, mas já há dois dias que não tenho nenhuma pista dela. Quando vi as tuas varas ao lado da fogueira pensei que as tinha encontrado...
Fez-se novamente um silêncio. Ambos se olharam, expressões endurecidas pelo tempo. Três Viagens haviam passado desde a última vez que se haviam olhado. Ao se olharem ali, ele com o seu olhar distante e pensativo, ela com um olhar terno e rejubilante, algo parecia acordar de um sono profundo.
-Vai dormir. - disse ele de repente - Acompanho-te ao teu campo para te ajudar a trazer as tuas coisas, mas deixamos a tua fogueira acesa. Quando voltarmos vais dormir enquanto eu monto vigia. Amanhã de manhã partimos para a aldeia.
-Qual?
-Não sei! - respondeu ele com um ar pensativo, mas rapidamente esboçando um sorriso - Vamos tomar a direcção do cume da Montanha, lá em cima logo se vê qual a aldeia. Tudo depende de quantos Nómadas tiverem já desistido da busca.
Com estas palavras levantou-se e dirigiu-se ao campo dela. Quando ela lá chegou já ele trazia todos os seus pertences. No caminho de regresso ela não deixava de se sentir incomodada, como se alguém observasse todos os seus passos, olhos escondidos na noite. Não conseguiu fazer desaparecer essa incómoda sensação e nem a voz calma dele que lhe dizia para dormir enquanto ele vigiava a acalmou.
Viu-o então cruzar as pernas e sentar-se ao lado da fogueira e ficar a olhar para ela. Decidiu então deitar-se e viu-o olhar para cima. Olhou também e viu um corvo sair do alto de um pinheiro e pousar no ombro dele, voltando a levantar vôo após ele sussurrar qualquer coisa que ela não percebera.

2 comentários:

R.B. NorTør disse...

Bem não vai ser antes do fim de Março que fica online, mas ao menos o rascunho está completo!

Anónimo disse...

Repetiste o título, Desgraçado!

E algum ou outro errozito no início...
Ex: Ao interromper uma frase com um travessão - como este -, a vírgula vem depois. Esses ventos nórdicos devem-te andar a varrer as ideiazinhas da cabeça...

PS: O meu cajado já me começa a pesar na mão...