domingo, dezembro 04, 2005

Contos do Exílio - O Regresso, Parte IV: A Última Vela

(No link esta o ultimo texto, sort of...)

(continuação)

No rescaldo da batalha, apenas dois corpos ainda respiravam na clareira. Por muito que procurassem, nenhum dos companheiros conseguia encontrar o corpo do Mestre por entre os cadáveres.
- Levaram-no! - disse o companheiro - Raios! Perdi-os a todos, não fui capaz de defender Caladon, falhei... Tu! Filho da Montanha, não é? - ele deve ter acenado que sim, porque o companheiro continuou - Temos de ir atrás deles!
- Mas como? Durante a noite será impossível seguir-lhes o rasto... - o companheiro preparava-se para responder quando uma voz cavernosa ecoou a partir das sombras:
- Meus caros... Não se preocupem que o velho não está morto. Pelo menos por enquanto! É demasiado valioso, precisam dele para completarem o feitiço que destruirá todo Caladon...
- Tu! - Os olhos do companheiro faíscavam de raiva ao olharem o gnomo que se aproximava lentamente deles. - Que sabes tu, seu vendido?
- Sei como morreram os outros seis guardiões. Sei porque é que eles não o vão matar já. Sei tantas outras coisas que tu não sabes, tantas coisas que te podia contar, entre elas onde podes encontrar o velho e ajudar-te a prevenir que a Última Vela se apague. Claro que tudo isso vos custará mais do que podem pagar... Por outro lado sou um negociador. Estou disposto a oferecer-vos uma resposta. Apenas uma, por isso escolham bem a pergunta!
- Dou-te um pão do velho se nos ajudares a salvá-lo! Sabes como é valioso, e a tua ajuda sempre é mais necessária do que a tua informação. - Disse o Exilado. Face a esta proposta o gnomo arregalou os olhos.
- Dois pães, dás-mos agora e apenas vos conduzo pelo escuro! Caso estejam esquecidos, sou a vossa única hipótese...

Muito custosamente lhe deram os pães, não sem antes o companheiro murmurar qualquer coisa como "corrupto". Caminharam o que faltava da noite até que a aurora surgiu por cima das copas das árvores. "Depressa, estamos quase a chegar e o tempo escasseia" incitou-os os gnomo. Passavam pelas fogueiras da orla da cidadela no coração da floresta quando um raio de sol despontou acima das copas. Imediatamente se levantou um vento muito forte que os projectou a todos para o chão e a escuridão encheu a terra. Quando acordaram, o gnomo, bem como todas as árvores, haviam desaparecido sem deixar rasto. Cerca de cem metros mais à frente apenas uma cabana.

Enquanto avançavam em direcção à cabana e o seu companheiro lhe explicava que era normal um gnomo fugir da luz, um vento levantou-se novamente e à medida que avançavam. Um vento não tão forte como o anterior, mas que bastou para fazer voar a cabana e mostrar o cenário de horror que ela ocultava. No chão repousava um corpo sem cabeça. Ao seu lado a cabeça, e em redor da cabeça seis velas. No cimo do corpo uma vela ardia, quase já sem corpo para arder. Quando chegaram àquele espaço identificaram o corpo como o do velho.
- O Guardião dos Cegos morreu. - disse-lhe o companheiro. - Caladon desapareceu. Não me resta nada aqui. Parto para lá do Reino das Dunas, regresso ao meu povo. Que te disse o vento?
- Quando a última vela de se apagar, há esperança para todos. Quando a última vela se apagar, é tempo de viver. - hesitou um pouco - Só não sei o que significa...
- Creio que sabes muito bem o que significa! - riu-se um pouco - Engraçado... Acho que cada um ouve coisas diferentes! - e dizendo isto partiu, rumo ao sítio onde o nasce o sol, deixando-o ali sozinho.

Meditou um pouco sobre o que aquilo queria dizer. Não havia contado tudo ao companheiro. Não contara os versos "Caminha através das terras e espera até ouvires a canção do feiticeiro. Mesmo que vejas o corvo ao longe e não o vejas cantar a música!". Quando acabou de meditar, um corvo poisou no seu ombro e grasnou. Percebeu o que o vento lhe dissera. Partiu no sentido contrário ao do companheiro, em direcção à montanha, onde tudo começara.

3 comentários:

Chas. disse...

Sim... as vezes a distância temporal ajuda a que se perca da história.
Também gostei.

E tumba todooo já para outro

Anónimo disse...

Bem, é com agrado que vejo que alguém gostou... Francamente considero que é o texto mais fraquito da série...

De qualquer forma o próximo é o ÚLTIMO texto da saga, pelo que, não demorando 4 meses a nascer poderá certamente ter um parto prolongado.

Espero que o próximo constitua uma agradável surpresa, prometo que terá menos cenas de fogueiras (tem uma a abrir o texto and that's about it) e um final feliz!

João disse...

Bom, como os comentários anteriores se foram (graças a um erro), repito aqui o que tinha dito, que este texto não deslustra nada a obra prima que nós todos sabemos inspirar o autor deste texto. Um ambiente muito envolvente, com personagens interessantes.

Repito novamente o voto de que o próximo capítulo não leve tanto tempo a ser postado como este ;)