sábado, março 18, 2006

Contos do Exílio - O Regresso, parte V: O Confronto

A Montanha! Uma viagem depois de Caladon encontrava-se novamente diante da Montanha. A crer nas memórias que guardava daquela zona, as quais eram já um pouco vagas, encontrava-se a cerca de uma Fase da aldeia dos Caminhantes. Chegaria na fase da Presença, quando a Deusa-Lua brilhasse em todo o seu esplendor e os caçadores estivessem reunidos a festejar. Sorriu ao pensar nos dias de felicidade que com eles passara. Endurecia-se-lhe o rosto ao pensar no que faria dali para a frente. Não que fosse um futuro sombrio aquele que tinha em mente, mas antes pelo facto de o caminho até ele ser tingindo em tons rubros de fogo e sangue. Atirou mais um pau para o fogo e recostou-se a meditar. Fechou os olhos e imaginou a forma das chamas, escutou o vento que soprava manso por cima das árvores e sentiu o aroma doce do fumo encher-lhe as narinas.
Era um aroma a orvalho aquele que o ia tornando progressivamente mais letárgico. Estava já em comunhão com aquela cena calma quando um estalido atrás de si o despertou. Podia ser o sinal de que um animal nocturno se encontrava nas vizinhanças. Tudo estaria bem se o som não se repetisse mais próximo. Tudo estaria bem se não houvesse apenas um animal nocturno que se aproxima do fogo... Levantou-se num repente e num salto colocou-se fora do círculo de luz mortiça que emanava da fogueira, com o seu cajado na mão, pronto a ver quem se dirigia para a sua clareira, sem que esse alguém o visse.
Demorou alguns instantes até que um vulto feminino entrou furtivamente na clareira. Parou e olhou em redor. Não vendo nada de estranho aproximou-se da fogueira e estacou a olhar para as varas que ele deixara ao seu lado. Como que respondendo aos apelos dele, a floresta deixou então que uma aragem entrasse na clareira e avivasse as chamas. A figura feminina assustou-se e deu um salto para trás revelando a sua face à luz trémula e pálida e de repente, ao ver aquela cara, o aroma a orvalho tomou uma forma física e uma memória à muito enterrada veio ao de cima!
- Diz-me sobra da noite: a aprendiza já superou os mestres? - disse enquanto caminhava para o círculo de luz.
Tendo sido apanhada de surpresa, a figura à sua frente colocou-se numa posição defensiva, mas ao reconhecer a voz e o rosto que se apresentavam à sua frente, encheu-se de alegria de rapidamente começou num brado de contentamento.
- Tu... - começou por dizer com a voz trémula - Tu estás vivo! Estás vivo! - e as lágrimas corriam-lhe pela face.
- Pois... Parece que sim! - disse ele e riu-se - Como é que me descobriste?
- Acidente. Nem sabia que eras tu. Estou acampada numa clareira perto daqui e vi o clarão da tua fogueira enquanto procurava qualquer coisa para comer.
- Nestas matas não há nada para comer à noite. Nada que tu queiras comer pelo menos...
- Cheguei aqui ainda não há uma Fase da Deusa-Lua, não me quero comparar com quem está aqui vai para três Viagens.
"Já passou tanto tempo...", pensou ele, deixando que entre eles se intalasse um silêncio pesado.
- Não estive aqui tanto tempo. Cheguei hoje mesmo de... - hesita - muito longe! - completa.
- E para onde vais?
- Não sei. Sinto que devia ir para aldeia dos Caminhantes, ma o tempo que passou é tanto que não sei o que tenho para lhes dar.
- Sabes que há quem sinta a tua falta lá?
- Não, não sei! Estou ausente há muito tempo e só mo disseste agora.
- Tens razão. Mas é verdade, há quem sinta a tua falta e até há quem sinta que fazes falta para lhes dar um rumo. Mesmo quando outrora foram contra isso.
- Houve mesmo quem mudasse?
- Tu não mudaste?
- Porque é que eles mudaram?
- Quem sabe? Eu por mim tenho que foi o tempo. Cresceram e abriram os os olhos e viram de outra forma o que se passou. - ajeitou-se e continuou - Depois do juízo da tribo a Vidente Nómada instalou-se na aldeia dos anciãos, tendo construído a sua cabana, a Cabana dos Nómadas como ela gosta de lhe chamar. Com o tempo ela acabou por se revelar. Cega pelo ódio que te nutre, e que acho que ainda não passou, começou a ver-te em cada vez mais gente, afastando muitos e gerando ódio noutras aldeias. Junto dos Caminhantes são poucos os que se lhe mantêm fiéis e os poucos que o fazem não procuram a companhia do resto da tribo, passam os dias com ela.
- Quem são?
- A Discípula, o Impulsivo e o Passivo.
- E o Obreiro? E a Camaleão?
- O Obreiro é-lhe fiel, o que não quer dizer que se deixe influenciar por ela. De todos é o único em que não arde o fogo da vingança e do ódio. Nos primeiros tempos andou esquisito e ausentava-se muito tempo. Houve quem dissesse que o viam ir e vir na direcção do Grande Vale. Diria mais que ficou magoado e desiludido do que revoltado e odioso. A camaleão ninguém a vê em nenhuma aldeia já lá vão muitas Fases. Há quem a veja perto das aldeias, mas dizer que está numa aldeia é complicado.

(continua)

2 comentários:

R.B. NorTør disse...

Peço desculpa pela extensão, mas quero acabar de postar isto tudo depressa. Está quase acabado, e penso que no máximo em 3 posts (e até ao fim de Março) consigo postar tudo.

Comentem sff!

Anónimo disse...

Que a tua pressa não seja demasiada... Olha as gralhas...
De resto está bom... Mas senti a falta de alguma acção porno-élfica ao pé da fogueira!

Afago o meu cajado ansiosamente...