quarta-feira, janeiro 21, 2004

Apenas sentindo... (1ª parte)

Levantei uma perna para o lado de fora, ouvi uma leve ondulação no tornozelo, um vulto sombrio reflectia no chão negro…

Caminhei olhando o céu escuro que cobria todo o fundo à minha volta. Os pés molhados e frios eram as únicas imagens que pairavam nos meus sentidos. Uma nuvem encobria a Lua Nova. Não havia objectos, nem cores, só sons.
Ao longe ecos dos meus passos faziam esvoaçar aves, (estranhas aves essas que das asas pareciam levantar o céu). Comecei a sentir uma aragem quente, como se de alguém se tratasse. (Ainda bem que a ave me fez a rasante, ao menos trouxe-me um sinal). Mas qual sinal? Seria exactamente o quê? Na ondulação de regresso a água não trazia nenhum acrescimento de temperatura!..Ela regressava?! Haveria terra sólida ao pé? Ou seria apenas uma rocha, ou alguém com os membros já gelados? Não fazia sentido... Contudo segui a direcção das ondinhas, calculando o tempo de regresso, ou seja, o dobro da distância tendo em conta a velocidade que estava a tomar... Estavam a demorar cinco minutos, sendo a minha velocidade média seis quilómetros por hora, estaria algo a 250 metros! O que seria?
Continuei, mas mais cauteloso, redobrei a minha audição, o silêncio fazia eco no meu consciente. Passo a passo calco algo seco, uma rocha fria como nunca tinha pisado nenhuma, sentia uma superfície lisa como de vidro se tratasse. Continuei mais devagar para não escorregar, até que paro quando sinto uma aragem a vir na minha direcção, estendo um braço, algo estava a tocar-me. Estava gelada, a mão, algo me tinha tocado por uns instantes e desaparecera. Apenas tinha dado para perceber que esse ser não libertava cheiro nem fazia ruído a caminhar, mas o mais incrível foi não ter deixado um rasto de vento…
(...continua...)

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