terça-feira, janeiro 06, 2004

Visto a mitra, protejo a cabeça,
Sem rumo certo começo a andar
A meio do caminho vejo-os vir aí,
Os anjos da morte estão-me já a ladear.

Conduzem-me por entre vales e planícies
Até que numa colina encontramos um carvalho velho,
Um cepo, mera memória da glória de outrora,
Um carvalho que alguém cortou pelo joelho!

Ladeavam-me duas grandes vieiras
Onde eu via esconderem-se ninfas de alva pele.
Só ao crepúsculo comecei a sentir
A fresca relva sob os meus pés descalços.

Eis que chegados ao cimo da colina
Olho em redor e vejo as montanhas rugosas,
de eternas fragas construídas,
As verdejantes florestas dos imortais
Pilares edificados
As eternas planícies de infidável erva
Até onde a vista alcança.
Com o Sol, esse eterno presente,
A despedir-se lá ao fundo, em tons de laranja e vermelho
E um mortiço raio amarelo por entre as nuvens.

Sinto uma corrente de ar frio percorrer-me o corpo,
Dos pés à cabeça, arrepiando-me os negros pêlos por onde passa.
Oiço uma doce melodia de liras erguer-se,
Enquanto os anjos tiram folhas do cepo, que vejo ser agora uma pedra.

Vagueio sem rumo em redor da fraga
A música cresce e faz-me sonolento.
Abrem-se as vieiras, ajoelho-me junto à fraga e abraço-a...
Não vejo de uma vieira sair um outro anjo,
De púrpura vestido e longos cabelos loiros ao vento,
Caminhar para a outra vieira e dela tirar,
Um machado negro, que começa a afiar!
A música sobe de tom, aumentando de ritmo
O sono apodera-se de mim enquanto
O último raio de sol se apaga da minha face,
Estrelas faíscam à minha frente quando de repente
Param e sinto o frio apoderar-se de mim.

Vejo a noite como se fosse dia
Vejo dois anjos de mantos negro pegarem em mim
E vejo-a, alta e alva no céu,
O meu destino, a minha eternidade.

9/Jan/2003

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