domingo, janeiro 11, 2004

Hecatombe - Parte I

Era Verão e tinha acabado de estalar a Grande Guerra Académica. O seu epicentro situava-se, precisamente, no Instituto Científico-Tecnológico da Outra-Banda.

Foram muitos os que lutaram contra fogo de artilharia e terríveis torpedos mortíferos, mas ninguém se livrou de os albergar no rabinho.
No fim, as baixas ascenderam aos milhares. Contaram-se 852 euro-ogivas despoletadas no primeiro impacto.

A primeira ala a cair foi a do Directorato. O líder não resistiu à explosão de um óbus e esvaiu-se em sangue, com um estilhaço alojado na região perianal. Os resistentes suspiraram de alívio. O chefe do Directorato era um traidor e todos o sabiam. Afinal, fora ele que aceitara a repugnante proposta do regime de Cherneboff. A sua morte em combate desobrigava-os de uma vingança sangrenta.
Um grupo de milicianos associativistas ainda tentou segurar o perímetro da ala D com rolos atrás de rolos de arame higiénico, mas de nada serviu contra a couraça dos implacáveis Rhino-comandos, unidades blindadas de combate politico-estratégico. Esta tropa de elite fora enviada pelos burocratas de Cherneboff, servidores fiéis da ditadura mental que este instituira com a sua matrona, a Dama Quebra-Ossos, assim chamada pela sua semelhança com esta ave necrófila, quer em aspecto quer em rapacidade.
Parte da Resistência encontrava-se barricada no edifício do Refeitódromo, visto que o ataque surpresa fora iniciado à hora de almoço. A rapidez de reacção fora vital para conservarem as vidas, mas agora que a epidemia alastrava pelas hostes do Exército de Libertação Académica, os soldados maldiziam a sorte da escolha. Os corredores fétidos das instalações há muito que se encontravam fora de manutenção, e a péssima qualidade das rações só piorava a saúde e o moral das tropas.
No 7º Templo da Ilógica a situação não era melhor, com as suas paredes envidraçadas. O fogo de metralhadora lançou uma chuva de estilhaços dilacerantes sobre os refugiados.
A maioria saía de Análise I, e encontrava-se armada com apenas os cadernos. No entanto, os poucos que traziam a sebenta faziam dela uma arma temível. Lançadas com pontaria faziam mais vítimas que uma granada de fragmentação, tal a toxicidade do seu conteúdo. Os alunos mais corajosos corriam de encontro ao inimigo declamando trechos das suas páginas, semeando caos e insanidade nas fileiras.
(continua...)

Sem comentários: