quinta-feira, dezembro 11, 2008

"Realidade destroçada"

Mesmo que fossem só estas quatro paredes
Só estas paredes de tempo
Onde caiba uma rosa
Só estas paredes entre a linha do amanhecer,
O meu querer
E o fim do mundo
Só uma inscrição na pedra,
Cheia de musgo,
A alastrar a sombra
E o devastador Dezembro

Apetecia-me dizer
Meu amor e cantar
Para sempre

Meu amor

E esta, a palavra
A repetir-se,
Vocativa do meu grito,
Sinal desse silêncio que não me permite
Esquecer-te
A vida toda

Meu amor

Eu que num encantado gesto
Definitivo e imortal,
Amei-te
Quando procurava o sol na solidão

Meu amor

E te perdi sem nunca te ter achado
Nesse canto fino e aguçado
Que é a fuga

Meu amor

Eu que perdi o passado
E bebi o vinho de todas as garrafas
Só para disfarçar o sabor do sangue
Por não te ter

Mas nada disto, meu amor,
Cabe numa só palavra
Porque amor não é uma palavra para mim
E por detrás do poema
Nada existe.

5 comentários:

APC disse...

só não está perfeito porque te falta um itálico no penultimo "meu amor"...
hehehehe
tirando está magnifico
;)

APC disse...

upss... Antepenultimo... Está ali mais um "escondido" num verso! :)

Chas. disse...

palavras para quê!?
brilhante!

V. disse...

:) itálico corrigido

alphatocopherol disse...

A palavra amor é por ventura das palavras que na vida mais metamorfoses pode sofrer. Este poema (brilhante como sempre) desperta facilmente diferentes sentimentos e associações à palavra. E é por isso que uma palavra bonita (amor) adquire outras notas do mais amargo ao mais doce!

Gostei imenso