sexta-feira, dezembro 19, 2008

Fausto

Fausto.

Sempre aquele nome a cercar-lhe a pele como uma doença. Sempre aquele sentimento como um cancro a comer-lhe as tripas.

Fausto.

Aquele homem para sempre. Um homem que nunca amou, carne na carne. E, no entanto, o único que lhe ocupará o tempo para sempre.



07.20

Saio de casa agasalhada do frio, mas não do desgosto. A vida passou a ser uma rotina de gestos sem tempo ou cor. Apanho o autocarro e, depois, o metro e depressa chego ao trabalho. Sem ânsia. Processos e mais processos. Injunções, impugnações, oposições. Prazos, dívidas, pessoas já sem alma. Tanta coisa com tão pouca vida. Às vezes apetecia-me por fim a isto, sem dizer adeus.

Partir sem nunca chegar a lado algum. Mas, o teu nome chama-me quase todos os dias à razão, em gesto de fé e de alegoria ao querer. E eu fico. Por ti. Quando nada mais existe. Só tu e o teu nome

Fausto


Fausto, aquele nome. Quando, qualquer outro - João, Pedro, José, Luís, António ou Frederico - só quer dizer amor.

2 comentários:

alphatocopherol disse...

Mais uma contribuição muito boa! Por um lado uma certa frieza nas palavras, rapidamente contrastantes com uma entrega apaixonada...

Este pensamento escrito (apetece-me chamar-lhe assim), está sobretudo mais emotivo que artístico (tens outras criações artisticamente melhores, na minha opinião muito pessoal), mas não perde valor por isso! Aliás o pacote global mais uma vez resultou muito bem :)

APC disse...

Acho apenas que é mais sublime...
É um texto em que as palavras parecem levitar no vácuo!

Gostei muito, mas confesso que depende muito da disposição!