sexta-feira, janeiro 30, 2009

Primeira Vez

Ah, sei que não é aqui. Não devo, não posso. Os medos não se contam, que medos são coisas para esconder. Que pensarão, que dirão de mim? Talvez não pensem nem digam nada, e passe despercebida, sem ninguém me notar. E entretanto, pode ser que se passe uma vida, e tenha logrado não ser ninguém.

Não, mas não posso dizê-lo aqui. Não posso falar de mim, nem de jardins escondidos, nem de tempos antigos, que há coisas que se não contam, para que não nos possam julgar.
Não, certamente não falarei de mim, como se de outra pessoa falasse. Ainda assim não notem que me descrevo e me conto, em palavras que jamais me poderiam contar.

Esconderei a cada linha que tenho medos iguais aos outros, que tenho vida como os demais, que rio e choro a cada passo, que partilho angustias e remorsos semelhantes. E a cada palavra esconderei o quanto gosto de contar, de me contar, de contar o que me contam. Não demonstrarei em parágrafo algum o prazer da partilha, da escrita, da própria palavra.

3 comentários:

APC disse...

como queiras, desde de que continues a abrilhantar este blog!

Gostei muito
;)

alphatocopherol disse...

É um texto sincero consigo mesmo, daqueles em que cada palavra dá sentido à anterior e daqueles em que poucas palavras articuladas conseguem abranger um mundo de significados!

Uma prosa curta mas muito bem conseguida!

Adorei!

Chas. disse...

Muito fixe... :D