segunda-feira, agosto 11, 2014

Segundos

A chuva intensa ocultava-me por completo o caminho, restava-me apenas esperar por um milagre ou recolher-me num barracão velho que vira metros antes. O cenário era fantasmagórico, esperava-me um caminho às escuras delimitando o abismo...Parecia um filme a preto e branco. Na minha mente, além da pele encharcada, recordava os velhos filmes monocromáticos; era assim que eu estava, rodeado de incertezas e todas em tons cinza. Pesadelo! Tentava respirar conscientemente, quase sincronizadamente ao som das gotas pesadas que gritavam assim que embatiam no solo. A chuva intensa parecia não querer abrandar.
Tinha a certeza que ninguém vira o meu carro na ravina, nem sabia que ainda estava pendurado pela raiz daquela árvore velha. Tinha tido muita sorte apesar da infelicidade do acidente. Confesso. Apenas isso me mantinha equilibrado: pensar que não tinha que ser, não era esta a minha hora. Existe algo mais a fazer aqui neste mundo dos homens...
Finalmente tinha chegado ao barracão velho, parecia-me intacto embora muito envelhecido. Abri a suposta porta e senti cada gota de água na minha  pele a gelar, instantaneamente fiquei petrificado que o meu coração quase que parou. Fiquei ali, imóvel ao ver a imagem que a luz da Lua me mostrava, um texto, escrito toscamente num vermelho vivo que dizia: Foge!!!

2 comentários:

Unknown disse...

Excelente cena!
E agora? Como continua? quero saber!

Chas. disse...

Muito bom!
Estou a ver que podemos começar a criar mais rotinas de escrita que temos companhia ;)
Espera por mim em setembro, eheheh