PARTE 1
Escrever é um escape. Digo-o... Não! Escrevo-o! Escrevo-o por ser verdade. Escrevo para descomprimir, para relaxar, para exercitar a cabeça em busca da palavra certa para escrever a seguir a esta. Rebusco na minha alma as situações passíveis de serem escritas, filtro nos neurónios as sensações descritíveis das indescritíveis e escrevo, claro está, as primeiras. Escrevo para desbafar de tudo o que faço e me fazem e fizeram; escrevo pelo prazer de navegar por mundos de palavras, criar mundos, criar homens e criar mulheres e criar velhos e criar crianças e tê-los nos meus escritos tão iguais ao real.
Escrever é ser Deus. É ter o poder de matar, de ressuscitar, de provocar o Big-Bang, de estar em todo o lado, a toda a hora, de saber a vida de todos até àquele momento fatal em que ela termina, controlar essa mesma vida da forma que mais me agradar, ora dando-lhe um final trágico heróico ora cobardemente discreto. É fazer personagens pobres e ricas, ricos pobres e pobres ricos, é dar eu a minha própria distinção entre o bem e o mal, é nunca morrer enquanto houver gente para ler, gente que não esquece que a liberdade atinge o seu ponto máximo quando ninguém nos segura a mão e livremente damos existência material à abstracção confinada aos nossos pensamentos.
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