domingo, setembro 14, 2003

Marioneta

Marioneta. Como uma simples, rude e tosca marioneta de madeira, eis como me sinto. Preso por finos fios vulgares, estou ao sabor não do vento, mas da vontade de quem me usa, de quem me controla. De uma letargia aparente passo à actividade completa com uma pequeno gesto de mãos da minha dona. Não tenho sentir, não tenho imaginar, não tenho sorrir, tenho apenas uma máscara que provoca emoções diversas em quem comigo lida, tudo debaixo do jugo dela, sempre com um simples gesto de mãos, tão simples...
“Anda, dança, fala, para! Mexe, pula, rodopia, para!”
Faço tudo mas vejo-me na terceira pessoa, como se tivesse lá longe, bebedeira eterna em que não controlo o que faço... Não quero, tou farto! Não serei mais uma estúpida marioneta! Quero cortar os fios, quero libertar-me! E será só por mim e não por ela! As suas mãos não mais me irão dominar, nunca mais! Se a libertação significar a morte, morrerei, mas livre e eu próprio! Estúpido, rude, tosco, mas eu mesmo... livre...

- Mas quem cortou os fios ao xantocas? – disse em voz alta a Carlinha – Mãe, ó mãe,
estragaram-me a minha marioneta preferida! – gritou enquanto choramingava
- Deixa lá filha, a mãe depois compra uma mais bonita – consolou a menina a Dona Felismina entrando no quarto– essa também era tão velha e feia... dá-a ao cão que ele já roeu a última...

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