segunda-feira, julho 19, 2004

Contos do Exílio - A Fera (Parte 1)

Olhos nos olhos, os dedos profundamente enterrados na terra macia e os ouvidos alerta, atentos à mínima deslocação de ar, um sinal revelador de algum movimento do ser que o encarava.
Olhos nos olhos, a cabeça ligeiramente descaída, orelhas alerta e todo o pêlo eriçado, todo ele concentrado nesse odor que o vento lhe trazia e que lhe gritava na cabeça uma só palavra: intruso! Respondendo ao apelo da sua Natureza, revela a sua enorme dentadura, uma enorme fileira branca de dentes pontiagudos e afiados, habituados que estão a rasgar a carne das suas vítimas. Ainda como resposta à sua Natureza, começa a emitir esse som gutural característico de todos os canídeos ameaçados, o rosnar...
Os ouvidos trazem-lhe a ameaça da besta. Poderia, diz-lhe o conhecimento da floresta, retirar-se desta área e retornar à sua caverna. Poderia, mas morreria de sede, incapaz de chegar ao ribeiro que fica para lá do território que atravessavs cuidadosamente, até que uma mudança do vento o acabou por revelar ao legítimo proprietário. Não! O único caminho possível é em frente, para lá da fera, para lá das suas próprias capacidades. O rosnar aumenta, sinal que a fera está impaciente, mas não é um lobo jovem, tem a manha e a sagacidade que o passar das luas lhe deu, apurando-lhe o instinto pela sobrevivência.
...Repentinamente a fera ataca! Avança direita a ele em corrida, os enormes dentes arreganhados à procura do tecido mole do pescoço, até que no último instante ele se desvia! A fera fica confusa, mas apercebendo-se que o intruso está agora ainda mais embrenhado no seu território fica furiosa e o seu instinto abandona-a, dando lugar à raiva e à fúria cega que a levam a saltar, para cima do petrificado intruso, com um rugido assassino!...

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