sábado, novembro 15, 2008

"Livre"

Livre!

Queres ser livre... Desde todo o sempre: grades! Grades à tua volta , dentro de ti, dentro dos outros... e queres sair, expandir, respirar... Viver, talvez!
E alimentas o sonho muito para além da vontade, da obcessão, da esperança, do amanhã, talvez mesmo de todo o sempre... até que um dia foges e triunfas:

És livre!
Pelo menos assim o pensas, qual pássaro de asas estropiadas evadido da sua gaiola...
perante o qual se abre um azul infindável.
e ao qual cada novo saltitar susurra a palavra... liberdade!

E és livre... No entanto descobres-te demasiado distante do céu que ansiavas... Na preversão brutal do condicionamento de outras liberdades (incontáveis!) que devoram a tua... Ou na clandestina covardia dos teus erros... No desculpar constante que alimentas com o mesmo sonho a que tanto aspiraste e agora desiludes. A mesma desilusão que irás camuflar na mesma roupagem dos abusos da multidão.
E és livre... Mas quem roubou essa teu céu afinal? A gaiola ou a própria liberdade? A tua? As dos outros? E quantas roubaste tu? O que foi causa? O que foi consequência? Existe mesmo alguma diferença... alguma relevância?
E és livre... até aferires que esse céu azul pelo qual tanto suspariram as tuas asas apenas serve de pano de fundo para as chagas da impossibilidade da tua descolagem ... Que não passa um encardido papel de parede sob o qual aguardam paredes de betão, cuja impenetrabilidade é de largo mais elevada do que a tua velha, familiar e confortável gaiola.

E ficas ali... parado... demasiado aterrorizado para regressar à clausura, demasiado pequeno perante a frustração de mil e um desejos que caem aos teus pés. A meio caminho de tudo... no alpendre de conquistar o ultimo nada... no desmanchar do teu destino... na nudez do teu fingir.
E és livre... mas talvez a liberdade nunca tenha sido moldada para ti... E permaneces. estático... Mas livre, enfim.

Ou então aprecebes-te que muitas prisões há ainda por abrir e muitas outras virão, tentando cerciar o serpenteante emergir da tua ansiedade... que muitas destas serão colocadas por ti, porque as tuas asas não cresceram livres... e que talvez a grande liberdade não seja alcançá-la... Mas sim preservá-la... dentro ou fora da tua cela. Mas sempre parte de ti. Esqueces as feridas, a clausura, o peso das tuas asas no arrastar de um sonho morto. Essas mesmas que agora são o estandarte que acenas perentório, caminhando (e não voando como tantas vezes te viste), indiferente a todos os cáceres que se atravessam nos apeadeiros da tua liberdade.

E finalmente... não a sonhas, não a desejas, não a cobiças... Vives somente...

Livre!



Carlos Jantarada Abril de 2008

2 comentários:

Chas. disse...

Viver é liberdade!

APC disse...

Não há palavrões que consigam descrever como estou perplexo!
Talvez um Káp*t*! hehehe