quinta-feira, novembro 20, 2003

Voo.
Deixo o mundo para trás. Esqueço o mundo, o passado que me assombra a vida, os problemas que me perseguem, que teimam em persistir.
Sinto o ar na cara, não olho para baixo com medo de ver a terra fugir sobre meus pés.
Abro os braços e saboreio a liberdade que nunca senti. Sinto-a a entrar pelos poros de minha pele, misturar-se no meu sangue, fazendo bombear mais e mais o meu coração. Sinto o fresco ar na boca, saboreio-o, enquanto me elevo.
Viajo rumo ao azul, avisto as primeiras nuvens. O ar fica mais leve, dificil de inspirar. Sinto a humidade das proximidades de um castelo imaginário, enquanto se formam e escorrem pela minha face lágrimas de orvalho.
Furo o espesso céu branco, e tudo se torna mais escuro.
O céu deixa de ser azul. Agora é de todas as cores. Os violetas fundem-se com os amarelos que outrora namoravam os verdes.
Acelero. Junto os braços frios ao corpo e voo para o espaço.
Abro os olhos de espanto. Cheguei à noite.
Eternas, ali as estrelas não brilham, ficam imóveis assistindo a minha ascensão.
É tudo demasiado belo. Tento abrir a boca para puder respirar o perfume dos astros mas nada acontece.
O ar ali não existe.
Corro as mão para o pescoço enquanto asfixio. Falta-me o ar nas pernas, e tal falta vai subindo pelo corpo.
Olho para baixo e vejo a terra, vejo o que deixei, vejo o teu rosto.
Caio, imovel, inerte... morto.

Sobre o teu olhar o escrevi

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